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Rifas ou Dízimo?

Rifas ou Dízimo?

Temos acompanhado a sadia discussão que se faz no movimento espírita, a respeito
da utilização que algumas instituições espíritas fazem das rifas para levantamento
de fundos para a manutenção dos seus trabalhos assistencialistas. Alegam uns que
os fins justificam os meios, pois se a utilização do dinheiro proveniente das rifas
for para fazer a caridade, tudo bem! Assim, os defensores desta prática não se escandalizarão
se porventura alguém achar por bem formar quadrilhas para praticar assaltos e outros
delitos para a manutenção de algum trabalho caritativo. Outros declaram que é preferível
a utilização das rifas do que o “malfadado” dízimo! Esta afirmação é temerária,
além de demonstrar total falta de conhecimento do que é o dízimo e, por outro lado,
talvez desconheça também as conseqüências das rifas, bingos e outros tipos de jogos.

Antigamente o dízimo era uma contribuição espontânea, a décima parte das rendas
agrícolas, dos proventos industriais e lucros sobre as artes, profissões e ofícios,
aos líderes religiosos para a construção e manutenção dos templos. Esta prática
se encontra no Novo e no Antigo Testamento, mas foi incorporada ao Cristianismo
só no século VI como obrigatoriedade a todos os cidadãos, apoiada pela legislação
comum, já que nesta época já havia a estreita ligação da Igreja com o Estado.

Com o gradual desligamento oficial entre as religiões e os governos, iniciada
na Revolução Francesa, esta obrigatoriedade foi se extinguindo, passando a Igreja
a se manter com as oblações voluntárias, de acordo com a tradição cristã primitiva.

O movimento da reforma protestante iniciado por Martinho Lutero, que era contrário
à venda de indulgências, instituiu o dízimo a seus fiéis que contribuem espontaneamente
com 10% de seu salário. Com estes recursos as religiões protestantes mantém inúmeros
trabalhos assistencialistas, além de construir templos e divulgar o Evangelho de
Jesus.

Mais recentemente, algumas seitas evangélicas, passaram a utilizar métodos não
muito éticos para receber as doações de seus fiéis, transformando suas igrejas em
verdadeiros mercados. Não se contentando no recebimento do tradicional dízimo, oferecem
curas e soluções miraculosas em troca de dinheiro enriquecendo seus dirigentes.

Já no movimento espírita a simples menção a dinheiro provoca celeumas e discussões.
Já tornou-se comum a afirmativa de que os espíritas não gostam de “por a mão no
bolso” e em função disso, numa interpretação equivocada da Doutrina, alguns acham
que as casas espíritas devem ser pobres, não oferecendo conforto e condições físicas
de atendimento aos que as procuram. Os trabalhos assistencialistas são mantidos
às duras penas e é muito comum ouvirmos que os Espíritos não falham e que sempre
providenciam todo o necessário para a manutenção destes trabalhos, acreditando provavelmente
que, quando faltarem os recursos materiais, este serão materializados pelos Espíritos
de Luz!

Outros, que se dizem dinâmicos e empreendedores recorrem às rifas, bingos e sorteios
para a manutenção dos seus trabalhos assistenciais. Esta prática é frontalmente
contrária aos princípios da Doutrina Espírita, já que esta tem como principal objetivo
a melhoria moral do homem, na eliminação de seus vícios morais e físicos visando
sua evolução espiritual. Mas, como fazer para manter uma instituição em condições
de atender os que vão em busca de ajuda para seus problemas morais, espirituais
e físicos, mantendo também uma atividade caritativa?

Por acaso a casa espírita não tem suas despesas básicas como: energia elétrica,
água, vigias, material de limpeza, manutenção, funcionários e em alguns casos também
aluguel?

O trabalhador espírita, não o frequentador ou o que vai em busca de ajuda, mas
aquele que decidiu dedicar-se aos trabalhos da casa, deve contribuir com alguma
importância em dinheiro para fazer frente as estas despesas básicas. Não se trata
de uma contribuição esporádica ou de fazer uma “vaquinha” quando alguma despesa
surgir, mas sim de se comprometer mensalmente em contribuir com uma importância
que esteja dentro de seu orçamento, que juntando-se à contribuição dos demais possa
manter a casa. Chamem isso de dízimo ou de outro termo qualquer, mas o importante
é que este compromisso exista entre a equipe sem constrangimentos.

Para a expansão das atividades como a construção de uma sede maior, a manutenção
de uma creche, distribuição de cestas de alimentação etc, podem ser utilizados dos
recursos amealhados com jantares mensais ou bimestrais, bazares, bancas ou feira
de livro, campanha Alta de Souza, barracas de venda de doces ou outras atividades.

Enfim, somos Espíritos que estamos temporariamente na carne, portanto estamos
sujeitos às regras do mundo físico. Temos pois que nos utilizar dos recursos materiais
para atingirmos os espirituais, mas sempre dentro do equilíbrio, bom senso e, principalmente,
da ética cristã.

(Publicado no Jornal A Voz do Espírito – Edição 90: Março – Abril de 1998)