Ritual e Culto
Os sinônimos latinos cultus e colere, em sua derivação, indicam
as idéias de “cultivar” e “fazer existir”, sob este prisma entendemos o culto
como atividade do Espírito visando cultivar os laços que o unem ao Criador,
atando-os, religando-os.
O culto cristão, de caráter interior e universal, não se confunde com o rito,
de natureza gestual, eminentemente exterior, cultural e particularista.
Jesus Cristo sugere o culto a ser realizado em espírito e verdade
1, visto que Deus não compactua com a materialidade perecível ou
com a exterioridade desprovida de intenções plenificadoras, convidando o que
ama, e deseja dar mostras desse sentimento que pulsa interiormente, a adorar a
Divindade espiritualmente abrindo possibilidades de agigantamento das próprias
condições de atuação na vida, dinamizando a caridade nos locais onde habita.
O Mestre Galileu deu o mais notável exemplo de culto, pondo sua existência a
serviço dos desígnios divinos e demonstrando que sua dimensão essencial é fruto
da ligação íntima e perene com Deus, o que O fez afirmar: Eu e o Pai somos um.
2
O ensejo de identificação com o Ser Supremo permite que a fé se alastre,
“criando-se” e “recriando-se” nos meios em que o cultivo das relações com o
transcendente é proposto dentro de incentivo edificante, permeado pelo respeito
à liberdade individual, ao tempo e aos talentos de que cada criatura é
portadora.
Ao ouvirmos ou lermos obras de nobre teor, que nos remetam a reflexões mais
profundas em torno da vida, estaremos diante do ensejo de cultivar relações com
o Criador.
Quando participamos de estudos esclarecedores, quando formulamos orações
apaziguadoras ou estabelecemos auxílio dignificante, concretizamos culto nobre e
real.
Efetuando caminhadas por lugares bucólicos, aprazíveis, em momentos nos quais
mergulhamos em meditações plenificadoras, quando passamos a perceber as
magníficas conseqüências do labor criativo da Inteligência Suprema, desenhadas
nas paisagens arborizadas e floridas, efetivamos ato de eminente culto.
Cumprindo deveres familiares, profissionais e sociais, sem abrir mão da
moralidade cristã, cultuamos a Divindade, porquanto Ela nos deu a vida em
sociedade e suas múltiplas atividades para que possamos crescer, utilizando de
todos os instrumentos que nos são disponibilizados.
Também cultivamos a ligação com Deus ao refletirmos sobre a excelsa mensagem
do Cristo, reunindo a família, propondo-nos à prece e à meditação, facultando
aos Irmãos de Luz, representantes do Criador, saudar-nos com intercessões
benditas, a fim de mantermos salutar ambiência psíquica em nossos lares.
Devemos abrir mão dos ritos, porém nunca olvidar o culto necessário, nesses
dias de tormento e aflição mundial, culto que se expressa no ato de entregar a
vida, em sua totalidade, à caridade, conforme entendia o Cristo, para que o
nosso cotidiano dê constantes mostras de cultivo integral dos laços que nos unem
ao Pai Amoroso.
1 Jo, 4:24.
2 Jo, 10:30.
(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 2001)