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São Domingos e o seu rosário

José Reis Chaves

São Domingos de Gusmão, obedecendo à determinação do Papa Inocêncio III, fundou, em 1206, a Ordem dos Dominicanos, para combater os albigenses ou cátaros, católicos reencarnacionistas do Linguadoque (Sul da França). Santa Catarina de Sena reformou-a no século 14. Foi suprimida em 1792. Mas foi restabelecida no século 19 pelo padre Lacordaire, brilhante pregador dominicano e criador das “Conferências Religiosas”

O Concílio de Verona, 1183, determinou aos bispos da Lombardia (Norte da Itália) que fossem entregues à justiça os hereges, criando, assim, as bases da Inquisição (Santo Ofício na Espanha). E foi à Ordem Dominicana que o Papa Gregório IX confiou o Tribunal Eclesiástico Inquisitorial, quando, em 1229, aconteceu também a 4a cruzada que massacrou os albigenses. Não sei se hoje, pois, a Igreja canonizaria São Domingos! Mas a verdade deve ser dita: ele já havia falecido (1221), quando desse bárbaro massacre. O comandante das tropas, não sabendo discernir os hereges dos católicos, recebeu do cardeal da campanha a seguinte instrução: “Mate-os todos, e Deus saberá fazer a separação!”

Dois carrascos inquisitoriais ficaram famosos: os espanhóis Torquemada e o cardeal Ximenes. E os protestantes tiveram também a sua Inquisição. Felizmente, com Napoleão, o Marquês de Pombal e a Maçonaria, ela sofreu um rude golpe. A sua última vítima a morrer na fogueira foi Ana Gaeldi, em Glaris (Suíça), em 7-6-1874.

Mas falemos agora de algo de bom de São Domingos: a sua criação do rosário. Os nossos irmãos evangélicos condenam-no, porque Jesus falou contra as orações repetitivas. Mas, na verdade, o Mestre nos quis advertir contra as distrações que se cometem com orações desse tipo. Contudo, se pode rezar também o rosário sem distração. Meus pais, de saudosa memória, João dos Reis Rodrigues Milagres e Ana Chaves Milagres, rezavam-no completo, ou seja, os três terços, todos os dias.

Recentemente, João Paulo II acrescentou aos três Mistérios Gozosos, Dolorosos e Gloriosos do rosário mais os Luminosos ou Mistérios da Luz, em que são contemplados os episódios da vida pública de Jesus, ou seja, seu Batismo, as Bodas de Caná, a Transfiguração, o Anúncio da proximidade do reino de Deus, e a Eucaristia.

Destaco a Transfiguração, pois consiste numa verdadeira sessão espírita com Jesus, Pedro, Tiago e João, em que se manifestam os espíritos Moisés e Elias. Esse fato é mais importante do que o tão propalado intenso brilho das vestes de Jesus! E foi dessa sessão espírita, condenada pela Lei de Moisés, que o Mestre recomendou sigilo aos três apóstolos!

Doravante, com o acréscimo da quarta contemplação dos “Mistérios da Luz” ao rosário de São Domingos, não existe mais o terço, mas sim, o quarto.

Teósofo, biblista e autor do livro “A Face Oculta das Religiões”, entre outros (Ed. Martin Claret). E-mail: jrchaves@redevisao.net