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Sexo e Religião

Sexo e Religião

«Pergunta – Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida
corpórea, acabar de depurar-se ?

«Resposta – Sofrendo a prova de uma nova existência. »

«Pergunta – Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação
como Espírito?»

«Resposta – Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma
transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.»

Item n.° 166, de «O Livro Dos Espíritos».

 

Dar-se-á o fato de se isentar alguém dos impulsos e inquietações sexuais,
simplesmente por haver assumido compromissos de natureza religiosa?

Claro que a lógica responde no espírito de seqüência da natureza.

A criatura que abraça encargos dessa ordem está procurando ou aceitando para
si mesma aguilhões regeneradores ou educativos, de vez que ordenações e
providências de caráter externo não transfiguram milagrosamente o mundo íntimo.
As realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de porfiadas lutas
da alma, de si para consigo.

Ninguém se burila de um dia para outro.

De que modo alienar condições inerentes à própria vida do Espírito,
acalentadas, no curso das eras, tão somente em função de afirmativas verbais? E
entendendo-se que as Leis do Universo não destroem o instinto, mas
transformam-no em razão e angelitude, na passagem dos evos, pelos mecanismos da
sublimação, de que forma exigir a extinção dos estímulos genésicos em alguém,
tão-só porque esse alguém se consagre ao Serviço Divino da Fé, quando esses
mesmos estímulos são ingredientes da vida e da evolução, criados pela mesma
Providência Divina para a sustentação e a elevação de todos os seres?

Compreendida a inalienabilidade dos problemas sexuais nas individualidades
representativas das idéias religiosas no mundo, é mais que razoável considerar
que essas individualidades, em grande maioria, solicitaram para si próprias os
controles de feição moral a que transitoriamente se vinculam, no tentame de
extraírem deles o proveito máximo, a favor de si próprias.

Efetivamente, Espíritos superiores e já erguidos a notáveis campos de
elevação, unicamente por amor e sacrifício, tomam assento nas organizações
religiosas da Terra, volvendo à reencarnação em atividades socorristas, nas
quais impulsionam o progresso dos seus irmãos.

Esses missionários do devotamento vibram em faixas de amor sublime, quase
sempre inacessível à compreensão dos seus contemporâneos.

Não ocorrem análogas circunstâncias entre aqueles outros que renascem sob
regime disciplinar, requisitados por eles contra eles mesmos, de vez que grande
número desses obreiros das idéias religiosas, reencarnados em condições de
prova, demonstram dificuldades e inibições múltiplas, no corpo e na mente,
quando não sofrem exagerada tendência aos desvarios sexuais – tendência essa que
habitualmente os mantém recolhidos ao medo de qualquer expansão afetiva. Temendo
as manifestações do amor e bastas vezes condenando indebitamente os companheiros
da Humanidade, pelo fato de se acomodarem a uniões respeitáveis e dignas, na
generalidade receiam a si próprios e censuram os semelhantes, no impulso
inconsciente de lhes copiar a independência e a conduta.

Daí surgem os incidentes menos felizes – quantas vezes ! – em que vemos
expositores ardentes e apaixonados, dessa ou daquela idéia religiosa, tombando
em experiências emotivas, muito mais complicadas e deploráveis do que aquelas
outras que eles próprios reprovavam no caminho e na vida dos companheiros…
Aliás, registe-se que o fenômeno é mais que justo, porquanto, aceitando os
distintivos de determinada seara religiosa, o Espírito impõe a si mesmo um fator
de frenagem e autopoliciamento, sem que as marcas exteriores de fé signifiquem
mais que um convite ou um desafio a que se aperfeiçoe, de acordo com os
princípios de acrisolamento que abraça.

Instruções religiosas exteriores não alteram, de improviso, os impulsos do
coração, conquanto se erijam em fortaleza de luz, amparando a criatura que a
elas se acolhe para o serviço de autoaprimoramento.

Qualquer professor na Terra há-de se identificar com os alunos, no campo das
experiências naturais do cotidiano, a fim de que se estabeleça, entre eles, o
fio da compreensão mútua, unindo vanguarda e retaguarda do esforço para a
escalada do grupo ao conhecimento.

Um anjo e uma equipe de criaturas humanas não entrariam em relacionamento
ideal para rendimento ideal do ensino. À vista disso, somos nós mesmos,
Espíritos endividados ante as Leis do Universo, que nos enlaçamos uns com os
outros, encarnados e desencarnados, aperfeiçoando gradativamente as qualidades
próprias e aprendendo, à custa de trabalho e tempo, como alcançar a sublimação
que demandamos, em marcha laboriosa para a conquista dos Valores Eternos.