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A Síntese de Três Eras

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Amílcar Del Chiaro Filho

   A vida linear, com as mesmas sensações e emoções a se repetirem diariamente, seria uma rotina que nos tornaria infelizes. Por isso a vida tem picos extraordinários que marcam a nossa evolução. Esses picos podem ser pequenas elevações, ou montanhas tão altas quanto o Everest. É lógico que falamos no sentido emocional e mesmo moral da vida, no sentido de realizações e progressos. Embora Jesus de Nazaré esteja fora deste contexto de lutas humanas para evoluir (ele realizou sua evolução antes mesmo do planeta Terra Existir), houve três momentos em sua vida que ficaram marcados como três montes a refletir situações diferentes, e que mostram muito bem o caminho e as estações da nossa evolução. Quando o Mestre subiu ao monte Hermon para proferir o Sermão da Montanha, as Bem Aventuranças, era o Rabi, o Mestre a ensinar ao homem o caminho da sua felicidade. Ele indicou rumos, colocou balizas de luz para que encontrássemos este caminho. Era um Mestre passando a sua experiência multivivencial, experiências dos milênios incontáveis em que fez toda a sua caminhada evolutiva. Já não era mais o “Filho de Mulher” que ainda tem dívidas a resgatar e coisas a aprender, mas o filho de Deus, emancipado das necessidades humanas, mas que pelo seu muito amor, pelo seu querer, tomou um corpo de carne para ensinar os homens.Outro monte foi o Tabor. Ali foi um momento de intensa glória, um banquete de luz, em que as mediunidades de Pedro, Tiago e João propiciaram a materialização de Moisés e Elias, numa síntese de três eras. Moisés, que proibira as manifestações dos espíritos, condenando os pitonisas e sibilas á morte, compareceu, como morto ilustre, para retirar o selo com que ele mesmo fechara a boca dos mortos. Se Moisés representava o passado, Elias olhava para o futuro, quando as manifestações espíritas se tornariam comuns, a ponto de não mais causar espanto.

A virilidade de Elias, repetida na coragem de João o Batista, se refletiria numa doutrina racional e lógica, mas para pessoas capazes de enfrentar seus problemas sem choros ou mágoas. Jesus, o avatar do amor, representou a síntese do pensamento religioso do mundo, unindo passado, presente e futuro numa epopéia grandiosa, cheia de coragem e fé, uma poesia, uma canção, uma ária da grande ópera da criação. Mas depois de passar por esses dois montes que refletiram sua capacidade de Mestre e seu amor de avatar, cumpria-lhe subir ao Gólgota para testemunhar o seu amor. No Hermon ele tinha uma pequena multidão à sua volta. No Tabor, tinha apenas Pedro, Tiago e João, além da companhia dos dois gigantes da judaísmo, Moisés e Elias.

Contudo, ali, no monte da caveira, estava sozinho, embora ladeado por dois revolucionários também condenados a morte, e por algumas mulheres, além de João, o discípulo amado, um jovem, mal saído da adolescência. Aquele era o seu momento de solidão e abandono. Pensemos nisto. Nas vitórias ou nas querelas temos muitas companhias testemunhando a nossa dedicação, mas nos testemunhos decisivos estamos sozinhos com a nossa coragem ou covardia, mas temos que estar sozinhos, olhando o mundo do alto da nossa cruz, rumando para a vitória ou para a derrota.