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Terapia de Vidas Passadas e Espiritismo

O tema Terapia de Vida Passada – TVP – ganhou, ultimamente, grande espaço nos
meios de comunicação em geral. Como todo tema polêmico, tem gerado muitos
debates e opiniões. Mas por que uma proposta terapêutica como essa pode gerar
tanta polêmica? Pelo lado da ciência, o centro da questão está na utilização de
uma hipótese de trabalho reencarnacionista, que a ciência ocidental continua
julgando um tema religioso ou místico, que não pode ser considerado como objeto
de estudo.

Para a Doutrina Espírita, apesar defender a reencarnação como processo
natural na vida do ser humano, a questão está na utilização da Regressão de
Memória à nossas vidas passadas. O objetivo deste artigo será o de discutir
alguns dos principais pontos desta relação entre a Terapia de Vida Passada e o
Espiritismo.

Para evitar os “achismos”, resolvemos fazer uma pesquisa a nível nacional, no
final de 1998, em que apresentávamos para a população espírita um questionário
sobre a Terapia de Vida Passada. Dos 500 que foram respondidos, identificamos
algumas das principais preocupações do espírita em relação à Terapia de Vida
Passada – TVP – e a Regressão de Memória:

  • Necessidade do esquecimento do passado;
  • Não poder interferir no processo de sofrimento causado por problemas no
    passado;
  • Fazer Regressão por curiosidade;

Na verdade, o que se pode observar é que a maioria das pessoas tem dúvidas se
deveriam ou não utilizar a TVP como recurso, não tem uma informação correta
sobre o que é a TVP, hoje.

A TVP se insere na abordagem da Psicologia Transpessoal, um ramo mais recente
da Psicologia que considera o componente espiritual como uma das dimensões do
ser humano, que interfere no entendimento do homem e de seus sofrimentos. Porém,
na TVP consideramos a hipótese de trabalho da reencarnação como base de
explicação do conteúdo obtido no processo de Regressão de Memória, isto é,
julgamos que os relatos obtidos com os indivíduos em Estado Alterado de
Consciência se referem às suas experiências vividas em outras encarnações.

Para a TVP, a maioria dos problemas que temos na vida atual decorrem de
situações traumáticas ou bastante desequilibradas que foram vividas pelo
indivíduo no passado e que deixaram marcas profundas no seu psiquismo profundo.
Todas essas experiências estão registradas nesta instância Inconsciente que o
Dr. Jorge Andréa (1) chama de Inconsciente do Pretérito. Algumas situações na
vida atual, parecem desencadear o surgimento, na zona mais consciente do
psiquismo, desses desequilíbrios, transformando-se em verdadeiras patologias.
Podemos citar as fobias, a Síndrome do Pânico, distúrbios de comportamento como
os sexuais ou os compulsivos, a depressão, a ansiedade, etc. como algumas que
podem se beneficiar com o tratamento pela TVP.

O primeiro passo do processo está em tornar consciente esse conteúdo do
passado. É nesse momento que podemos utilizar a Regressão de Memória na
identificação da situação do passado geradora do sofrimento atual. Posterior e
concomitantemente a essa identificação, teremos que utilizar diversas
intervenções específicas para cada caso, visando dissociar a personalidade atual
daqueles traumas vividos no passado. Como vimos não basta apenas lembrar o
passado. Há uma necessidade de um acompanhamento terapêutico criterioso do
delicado conteúdo emocional e psíquico que surge do processo de Regressão. A
nossa experiência tem indicado a necessidade da TVP só ser feita por
profissional da área de saúde mental que estaria habilitado ao processo de forma
integral.

Como podemos ver a finalidade da TVP é terapêutica. Com isso desfaz-se uma
das grandes preocupações do público espírita, em particular: a curiosidade. Na
verdade o terapeuta, quando executa um trabalho sério, não considera os casos em
que as pessoas procuram para saber o que foram ou fizeram de extraordinário em
suas vidas passadas. Julgamos que o material que lidamos seja muito delicado
para uma finalidade fútil !

Mas, a questão mais delicada do espírita parece ser a de se “levantar o véu
que encobre o passado” já que seria uma “dádiva divina”. Se observarmos no
contexto da Doutrina, as principais referências sobre o assunto estão em O
Livro dos Espíritos
na parte 2a., cap. VII, em um item que
engloba as perguntas 392 à 399, com o título: O esquecimento do passado. Nesse
ponto os Espíritos alertam para os inconvenientes que a lembrança do passado
teria para os indivíduos. E nós concordamos inteiramente com isso !!! Vamos
observar que este capítulo trata “Da Volta do Espírito à Vida Corporal”. É claro
que quando voltamos ao corpo físico necessitamos do esquecimento de nossas vidas
pregressas. Como, uma criança conseguiria estruturar uma nova personalidade
lembrando simultaneamente de todas as suas vidas passadas? Seria impossível.

Diversas obras na literatura espírita defendem a utilização terapêutica da
Terapia de Vida Passada. Dos autores encarnados, citamos o Dr. Jorge Andréa,
psiquiatra e pesquisador do psiquismo profundo e da reencarnação com vasta
contribuição nessa área. Mesmo entre os desencarnados, através das obras
psicografadas, não há uma contra-indicação à utilização da TVP nos casos em que
verificamos graves problemas psíquicos, emocionais, físicos ou de comportamento.
Pelo contrário. Espíritos como Joanna de Ângelis (2) e Bezerra de Menezes (3)
tem ressaltado, através de algumas de suas obras, a importância deste tipo de
abordagem científica na minimização do sofrimento humano. Mas é claro que a TVP
não é uma panacéia capaz de resolver todos os problemas. Como toda abordagem
terapêutica tem suas limitações e dificuldades que somente uma atuação séria e
criteriosa poderá superar, ampliando o potencial de cura de sua aplicação.

É o sofrimento o nosso grande objetivo! Para nossa surpresa, muitos espíritas
responderam afirmativamente à questão: “o sofrimento é a melhor forma de
pagarmos os erros do passado”. Isso pode levar a um entendimento distorcido da
finalidade da vida e do sofrimento. A Doutrina Espírita (4) deixa bem claro qual
é o objetivo das encarnações sucessivas: o desenvolvimento moral e intelectual
do ser. O sofrimento representa um desequilíbrio resultante de um comportamento
inadequado do passado que ainda mantém características na personalidade atual.
Na medida em que se resolvam as causas cessam-se os efeitos. Em O Livro dos
Espíritos
, questão 1004, Kardec pergunta sobre o critério de duração dos
sofrimentos a que os espíritos respondem ser função da melhora do indivíduo. Na
resposta fica clara a finalidade pedagógica do sofrimento, pois quando a pessoa
melhora o aspecto desequilibrado o sofrimento perde o sentido, modificando-se ou
extinguindo-se.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 5, temos a
orientação dos espíritos de que devemos empreender todos os nossos esforços no
sentido de minimizar o sofrimento dos homens. Ora se a TVP desponta como um
instrumento da ciência que pode ajudar nesse processo de aprimoramento do ser
humano pela dura de alguns de seus sofrimentos, por que não utilizá-la? Será que
não poderíamos utilizar a TVP para ajudar uma pessoa a superar sua Síndrome do
Pânico ou de uma depressão profunda por exemplo, simplesmente porque
utilizaremos de suas lembranças pretéritas? Nos parece que se a TVP é uma
conquista da Ciência ela está consoante aos desígnios de Deus para o progresso
da Humanidade.

A ciência avança no sentido da confirmação do espírito, como origem e
princípio básico da vida, e da reencarnação como mecanismo natural fundamental
para o entendimento do homem e de seus sofrimentos. A TVP, aplicada de forma
séria e criteriosa, demonstra ser um instrumento legítimo deste movimento. Como
resultado desta aplicação o indivíduo se reconhece como ser espiritual eterno em
passagem temporária de aprendizado pelo corpo. Ao verificar as conseqüências de
seus atos passados nos seus problemas atuais pode refletir e decidir sobre quais
são os valores existenciais essenciais para o seu espírito hoje e descobre a
necessidade de desenvolver o Abrandamento de suas tendências negativas e a
Aceitação dos problemas que enfrentamos. Ao final, perceberá a necessidade de
reclamar menos e Amar mais, a si mesmo e aos outros.

Referências Bibliográficas:

(1) Palingênese, a Grande Lei – Jorge Andréa

(2) O Homem Integral – Joanna de Angelis/Divaldo Franco;

(3) Loucura e Obsessão – Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco;

(4) O Céu e o Inferno – Kardec – 1a. parte, cap. III, item 8.

(5) O Livro dos Espíritos – Kardec – Questões 392 à 399;

(6) O Evangelho Segundo o Espiritismo – Kardc – Cap. 5;

(7) Terapia de Vida Passada e Espiritismo – Distâncias e Aproximações –
Milton Menezes

MILTON MENEZES

Milton Menezes nasceu em Petrópolis – RJ, em 23 de outubro de 1960.
Formado em Ciências Econômicas pela UERJ.
Formado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá.
Especialização em Terapeuta de Vida Passada pela Sociedade Brasileira de Terapia
de Vida Passada – SBTVP em Campinas – SP.
Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
Membro fundador do IBRAPE-TVP – Instituto Brasileiro de Pesquisa em TVP do Rio
de Janeiro.
Pesquisa atualmente a aplicação da TVP na Síndrome do Pânico.

RESUMO:

O grande desafio da TVP é consolidar a reencarnação como hipótese científica
de trabalho, introduzindo o conceito de Espírito como capaz de explicar vários
aspectos na Psicologia e Medicina.