José Lucas
A imortalidade da alma deixou de ser uma crença para passar a ser uma certeza em 1857, após as experiências que deram origem ao espiritismo ou doutrina espírita. Actualmente, outros cientistas vêm confirmar as teses que o espiritismo apresentou e que ainda não foram desmentidas. Tudo aconteceu na «Casa do Médico», no Porto, no IV Simpósio «Aquém e Além do Cérebro» organizado pela Fundação Bial.
Mais uma vez a Fundação Bial organizou o simpósio «Aquém e Além do Cérebro» na Casa do Médico, no Porto, e que este ano decorreu de 5 a 7 de Abril de 2002. Este evento tem-se tornado um marco na medida em que reúne os cientistas mais conhecidos a nível mundial que pela sua abertura de espírito buscam novos horizontes existenciais e que investigam áreas até então pouco penetradas.
Allan Kardec, foi um dos grandes investigadores na área do paranormal, em meados do século XIX em França. Pessoa muito culta e prestigiada, discípulo de Pestalozzi, com quem estudou, investigou a fundo os fenómenos das mesas girantes que serviam à época para distracção das noites sociais. Após anos de pesquisa compilou as informações que lhe foram ditadas pelos espíritos e cinco livros, hoje conhecidos com as oras básicas da doutrina espírita ou espiritismo. «O Livro dos Espíritos», «O Livro dos Médiuns», «O Evangelho segundo o espiritismo», «O céu e o Inferno», e «A Génese» são a codificação espírita, numa abordagem experimental, filosófica e ética. Com o espiritismo a morte morreu, na medida em que se comprovou a imortalidade da alma, através da mediunidade (capacidade de percepcionar o mundo espiritual). Allan Kardec utilizou os métodos experimental e indutivo, pesquisando, comparando e estabelecendo propostas de trabalho, apelando sempre a uma atitude fria e séria, sem qualquer tipo de dogmatismo.
Já não podemos rejeitar a existência paranormal.
Há resultados que comprovam, por exemplo, a cura à distância por intermédio da oração.
Há algo que funciona fora do nosso espaço-tempo.
Outros cientistas à época lhe seguiram, alguns deles procurando desmistificar aquilo que consideravam ser uma fraude, acabando à posteriori por admitir a realidade dos fenómenos espíritas, como foi o caso do ilustre William Crookes, Cesare Lombroso, entre muitos outros.
Actualmente muitas pesquisadores, em várias áreas do conhecimento buscam provas da imortalidade da alma.
No simpósio «Aquém e Além do Cérebro» deste ano, estiveram vários pesquisadores que investigam áreas fronteiriças com o paranormal. Alguns deles apresentaram trabalhos que causaram impacto.
Um deles foi David Fontana, professor de psicologia transpessoal na universidade de Liverpool, em Inglaterra, e professor convidado nas universidades do Minho e Algarve, para além de ser vice-presidente da Society for Psychical Research, a mais conceituada sociedade de pesquisas psíquicas do mundo. Com um curriculum invejável, este psicólogo teve a coragem de publicamente afirmar que «há evidências de vida após a morte». Na sua comunicação «Pode a mente sobreviver à morte física?» Fontana descreveu alguns estudos que efectuou sobre mediunidade, aparições e comunicações evidentes após o falecimento. Segundo Fontana, embora não possua uma teoria para explicar os processos imateriais do pensamento, há um conjunto de estudos que demonstram a imortalidade da alma. Segundo ele, numa pesquisa recente sobre comunicações após a morte, feita paralelamente nos EUA e em Inglaterra, mostrou que cerca de metade das pessoas que perderam os seus cônjuges diz ter tido algum contacto com o companheiro morto. Desse total, 14% dos casos consistem em aparições, 13% na percepção de vozes e 20% na sensação de que a pessoa, ainda que invisível, estaria presente e próxima. Num outro estudo recente, realizado em 80 hospitais britânicos, conseguiu reunir cerca de 20 mil casos de pessoas que «ressuscitaram» após o diagnóstico de morte clínica. Um trabalho desenvolvido pela equipe de Fontana, em 1999, mostrou que os fenómenos excepcionais testemunhados são, quase sempre, vozes independentes, luzes brilhantes, aparições e materializações de dedos que tocam o observador. David Fontana explicou que ele próprio já apertara «uma mão no escuro total», cena registrada em imagens fotográficas, experiências estas acompanhadas por um mágico profissional para que não houvesse hipótese de fraude ou ilusionismo. David Fontana relata ainda um contacto que tivera através de uma médium onde esta lhe dera uma informação acerca da existência de uma pequena caixa, para guardar cigarros, decorada com flores ou monograma de prata. «Não me lembrava desse objecto pois não fumo. Mas acabei por encontrá-lo em casa e verificar que realmente apresentava letras metálicas com florzinhas à volta.»
Cientistas de hoje comprovam experiências de ontem efectuadas por Allan Kardec, o codificador do espiritismo.
«Já não podemos rejeitar a existência paranormal. Há resultados que comprovam, por exemplo, a cura à distância por intermédio da oração. Há algo que funciona fora do nosso espaço-tempo. As investigações evidenciam isso, embora haja mecanismos da mente que não podem ser explicados de forma material. Muitas pessoas não percebem esses fenómenos porque não gastam tempo para desenvolver as suas capacidades» assegura o professor de psicologia.
Para quem conhece o espiritismo, como movimento cultural, todas essas pesquisas são perfeitamente naturais, já que tais fenómenos acontecem diariamente ou semanalmente nas associações espíritas. No entanto estes estudos que vêm confirmar os postulados espíritas são uma porta aberta para o derrube do preconceito cultural ainda vigente, no que concerne à realidade da imortalidade da alma e da reencarnação.
Bibliografia: PSICÓLOGO DEFENDE QUE HÁ EVIDÊNCIAS DE VIDA APÓS A MORTE, Jornal «Público», Portugal, 6 de Abril de 2002.