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TVP – Terapia de Vivências Passadas em análise

TVP – Terapia de Vivências Passadas em análise

Na segunda quinzena de março fui fazer uma cobertura fotográfica para o Correio

na Casa de Lucas, instituição fundada e mantida pelo Centro Espírita Joana de Angelis,
que realiza um belíssimo trabalho de assistência à criança carente, na cidade de
Santo André, São Paulo. Aproveitando minha estada ali, assisti belíssima palestra
proferida pela jornalista, conferencista Eulina Cavalcante, que falou sobre o “Esquecimento
do Passado”, dentro do tema Reencarnação. Fazendo parte do grupo de oradores da
USE, há cerca de vinte anos, o que tem me proporcionado a oportunidade de visitar
a maioria das Casas Espíritas do ABC e da Capital, coleciono algumas palestras que
são objeto de estudos sobre temas diversos. Entretanto, a que a Eulina Cavalcante
fez naquela noite é única, pois ela abordou o tema de maneira que todos nós, os
assistentes, não esperávamos. Ela falou que a misericórdia Divina nos reveste do
“véu do esquecimento”, quando reencarnamos, justamente para que possamos evoluir,
numa nova existência, sem estarmos ligados, pelo pensamento, pelas lembranças, às
vidas anteriores. Muitas vezes temos vislumbres das nossas vidas passadas em sonho,
por exemplo, que não nos causam nenhum problema, porque não entendemos o sonho como
uma realidade vivida por nós. Mas, o véu do esquecimento pode ser rompido se nos
submetermos à técnica de TVP – Terapia de Vivências Passadas, criada pelo psiquiatra
e neurologista americano Brian Weiss.

Através de hipnose, o paciente é levado a vivenciar lembranças desta ou de outras
vidas anteriores, chegando a conhecer fatos de muitas reencarnações. É uma técnica
que deve ser usada única e exclusivamente com fins terapêuticos, para tratar determinada
doença ou fobia na vida presente que tenha sido ocasionada num trauma sofrido no
passado. O Dr. Brian é hoje a maior autoridade mundial no assunto, já tendo publicado
muitos livros, entre eles, Muitas Vidas, Muitos Mestres e a Divina Sabedoria dos
Mestres.

Mas, existem outras obras que relatam também recordações de vidas anteriores
através de lembranças por crianças, principalmente. Nesses casos, as lembranças
aflorariam de forma natural, sem nenhuma técnica de regressão.

No livro Reencarnação, o autor, Gabriel Delanne, cita o caso de um menino cubano
que em determinado momento começou a dizer aos pais que eles não eram seus pais,
dando inclusive os nomes dos pais verdadeiros, o local onde moravam, porque aquela
casa atual não era a sua. A sua casa era amarela, ficava em determinada rua de cidade
cabana e, que nessa casa ele tinha um quarto só de brinquedos. As informações eram
tão precisas que os pais resolveram investigar. Foram ao endereço citado e encontraram
realmente a tal casa e para espanto geral aquela criança adentrou a residência,
subiu correndo as escadas e foi procurar seus brinquedos. Não os encontrando ficou
muito desapontada e triste, porque não encontrou também seus irmãozinhos. Posteriormente,
os pais do menino ficaram sabendo que havia mesmo morado naquele local uma família,
cujos nomes coincidiam e que havia perdido um filho, ainda criança.

Através de casos como esses surgiu o interesse de cientistas de renome, inclusive
o nosso cientista brasileiro Dr. Hernani Guimarães Andrade, em pesquisar o assunto
à luz da ciência, abrindo assim mais um vasto campo do conhecimento humano.

Todavia, a oradora deixou claro aos ouvintes que procurar saber o que se foi
em existências anteriores só trará aborrecimentos. E ela fez um alerta: é preciso
muito cuidado com a TVP. Trata-se de um campo delicadíssimo, que só deve ser conhecido
e tratado por profissionais sérios, com formação moral, profissional e acadêmica:
psicólogos, psiquiatras com especialização na área. Eulina disse conhecer inúmeros
casos de pessoas que se submeteram à técnica através de leigos, inclusive em casas
espíritas, cujos resultados foram desastrosos. Ao invés de um trauma, acabaram-
se ganhando vários, pela inabilidade do terapeuta que não soube tratá-los.

A irresponsabilidade chega a ser tão grande, que a Eulina cita um anúncio publicado
nos jornais de um curso que estaria formando “Terapeutas de Regressão de Memória”,
em apenas seis meses, para qualquer interessado, desde que efetue o pagamento, é
lógico.

Isso é muito perigoso e poderá causar danos profundos ao equilíbrio psíquico
das pessoas. O que se ouve pôr aí, entre essas pessoas que se submeteram às técnicas
de regressão feitas por leigos, é que todo mundo foi rei, rainha, príncipe, artista.
Ninguém foi operário, jardineiro ou teve outra profissão mais humilde, porém digna.

Dentro da literatura espírita existem autores que citam que a maioria de nós,
já pode ter reencarnado por mais de 400 vezes. Eulina provocou risos na platéia
com o seguinte cálculo: se já vivemos 400 vezes (uma simples suposição, é claro
porque ninguém poderia afirmar isso com certeza), tivemos pai e mãe, então já estaríamos
ligados a 800 espíritos. Como homens e mulheres, nos casamos ou “juntamos os trapos”.
Então teríamos tido 400 sogras. E sogros, evidentemente. Aí teríamos mais 800 espíritos
ligados a nós. Supondo que tivemos, no mínimo dois filhos em cada reencarnação,
somam mais 800 espíritos em nossa relação. Só aí já teríamos um total de 2.400 entes
queridos, sem falar dos irmãos, avós, cunhados, tios, sobrinhos, netos, bisnetos,
etc. Já pensou se lembrássemos de tudo isso?

(Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 364 de Maio de 2001)