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Um episódio de luz, na vida de um Santo: São Francisco

Domério de Oliveira

de São Paulo, SP

Para nós, adeptos do Espiritismo, Santo é todo Espírito de grande evolução, que já atingiu o estágio de Espírito Puro, sem qualquer mácula, e, quando encarnado, revela-se como uma criatura sumamente bondosa, sumamente caridosa, sumamente virtuosa. Sim, uma Luz que se materializa.

Para mim, Santo é aquele “Ser” que demonstra uma suprema Grandeza de Alma que devemos eleger como Paradigma.

Na Hagiografia, encontramos a vida de Francisco de Assis, uma linha reta, toda tarjada de pontos luminosos que O qualificam como um Verdadeiro Santo.

São Francisco, assim conhecido por todas as correntes religiosas e por todas muito respeitado, por certo, mostrou-nos o quanto vale o Amor e fez renascer nos corações aquele Cristo de há dois mil anos, fundindo todas as virtudes, na expressão que a sua vida nos oferta. Sim, São Francisco venceu a morte, porque venceu todas as imperfeições, lutou contra os instintos, consolidou os Dons Espirituais no coração e irradiou o Bem em todas as direções.

Meus amigos, vejamos um episódio de luz em sua vida, quando passou por este nosso plano: O Iluminado de Assis, certo dia, saiu de Roma e desceu para Óstia, onde O aguardavam alguns dos seus Discípulos. Sabemos que Óstia fica à margem do mar Tirreno, do lado oposto ao Adriático e, por força da natureza, localiza-se no joelho da bota de que a Itália tem a forma.

Todos os Frades, companheiros de Francisco, ficaram eufóricos com os acontecimentos em Roma que favoreciam os legítimos ideais cristãos sustentados pelo Poverello. Assim, todos reunidos, Mestre e Discípulos, percorreram um longo trecho do caminho, até que avistaram um casebre, onde residia uma família que vivia de pesca. Francisco bateu à porta, pedindo água, pois, todos estavam com bastante sede, e, atendeu-Lhe um senhor robusto e triste que andava às apalpadelas, deslizando as mãos nas paredes, por lhe faltar a vista. Francisco e companheiros saudaram o dono da casa, serviram-se da água fresca de um grande pote de barro queimado, preso a uma forquilha de madeira. Saciada a sede, acomodaram-se por convite do pescador que chamou sua mulher e seus filhos. Estes, ainda crianças. assentaram-se nos colos dos Frades; o menorzinho, de pouco mais de um ano, estendeu os bracinhos para Francisco que o acolheu sorridente. O casal, admirado com a fraternidade daqueles homens, sentiu-se à vontade. O dono da casa, um velho pescador, narrou-lhes o acontecimento que provocou a cegueira. Todos ouviram, com atenção, o drama que ocasionou a cegueira no velho pescador. Este acabou confessando que, mesmo cego, tinha a faculdade de ver coisas maravilhosas e que, naquele instante, conseguia ver os visitantes, todos revestidos de luz. Mesmo cego, sinto com isso satisfação que me consola e me dá esperança. A mulher do pescador, também confessou: — Depois da situação do meu marido, o sofrimento para nós é sem conta; vivíamos da venda de peixes, mas, agora, estamos vivendo de esmolas que nem sempre ganhamos. Penso em ir eu mesma pescar, mas temo as águas perigosas do mar…

O silêncio dominou o ambiente e alguns dos Frades oraram com fervor. Francisco tomou a palavra, como Verdadeiro Mestre da Paz e disse com tranqüilidade:

— Meus filhos, devo dizer a todos que o nosso irmão não ficou cego; ao contrário, agora ele vê mais do que antes poderia observar, porque está enxergando as coisas da Alma e do Verdadeiro Mundo para onde deveremos ir ao findar as nossas vidas terrenas. O corajoso pescador sentiu nas palavras de Francisco um consolo e uma força que lhe fortaleceu a paciência e a esperança no futuro.

Francisco levantou-se e disse ao bom pescador:

“Querido irmão das águas!…

Vamos pedir a Deus que fez também os mares, que deu vida aos peixes, que salgou as águas, que fez os ventos, que fez a Terra, a Luz e as Estrelas, que fez tudo e muito mais que não podemos observar, que fez as maravilhas que tens visto, que te permita a ver como antes. Vamos pedir a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Canal de Deus para a Terra, que nos ajude em sua imensa misericórdia e com o seu Amor sem limites e a Maria Santíssima, mãe de Jesus e nossa, que nos abençoem, neste instante e que a Graça do Senhor venha em favor dos que sofrem e choram. Podemos recordar quantos cegos foram curados pelo nosso Divino Amigo. E suplicou, em voz alta:

— Mais um, Senhor! Se for da tua vontade que este homem veja novamente!”

(apud – livro – “Francisco de Assis” – pelo Espírito Miramez – Psicografia de João Nunes Maia).

Francisco, tocado de emoção, levou as mãos aos olhos do pescador cego e observou que um facho de luz esverdeada, de difícil explicação, vinha do alto e penetrava na base do crânio do pescador. E, então, disse, com autoridade:

— Abre os olhos e vê!

O pescador, livre da cegueira, gritou e pulou dentro da sua casa, dando graças a Deus pelo milagre da sua visão.

Eis aí, meus amigos, em linhas genéricas, um dos episódios de luz, na vida deste Santo. Até hoje, em nossos dias, quando a Ele suplicamos, com fé e Amor, sempre derrama sobre nós, seus irmãos mais débeis, cornucópias de Bênçãos.

Até hoje, ainda reboam em nossos ouvidos os dois últimos versos de sua famosa e universal, oração:

“É perdoando que somos perdoados e é morrendo que compreendemos a vida eterna”.

(Jornal Verdade e Luz Nº 180 de Janeiro de 2001)