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Uma TV para o Espiritismo

Há uma ansiedade tão grande em ver o Espiritismo se apropriando dos meios de
comunicação de massa que é raro não ouvir nos centros espíritas, reclamações
sobre o atraso do movimento em relação a isso. Com razão, justa ou não, a
maioria parece que deseja ver o Espiritismo na mídia e quando se fala em mídia
pensa-se em TV, em primeiro lugar.

O fascínio que os meios de comunicação de massa exercem sobre o homem – e o
homem espírita não foge à regra – vem de longe. Quando o rádio exercia soberano
essa função, a ele se dirigiam as atenções. O crescimento de outros meios e o
aparecimento da TV fizeram com que as atenções se dividissem, mas TV, ainda e em
especial hoje, cataliza os anseios. Não se trata, pois, de discutir o que ela,
TV, oferece à divulgação da doutrina, porque as discussões aí vêm sendo travadas
há mais de uma década e já passaram pelos principais aspectos, embora se saiba
que poderão voltar à discussão a qualquer momento. É preciso – talvez mais do
que isso, é necessário mesmo – posicionar a discussão em outro patamar: o da
ética.

Se não há dúvidas quanto às vantagens de poder levar o Espiritismo a um maior
número de pessoas e a TV o possibilita alcançar de uma vez milhões, é preciso
saber se devemos e estamos dispostos a pagar um alto preço por isso. Mais
precisamente, se vamos trilhar o caminho invariavelmente trilhado pelos grandes
grupos, nos quais a ética costuma adormecer nos porões da mente, reposicionando
o lema dos fins que justificam os meios.

A dura realidade dos tempos atuais nos apresenta um quadro no qual a questão
ética aparece não apenas nas exigências de uma infra-estrutura cara, que precisa
ser sustentada a todo custo, mas também em relação à ocupação do tempo e à
formatação daquilo que o telespectador vai ver do outro lado. E antes disso é
preciso pensar no script e nas intenções que permeiam o ideal, a
princípio sempre muito respeitáveis, mas que a prática televisiva tem tratado de
desmascarar.

Quando se trata de discutir a importância da TV para a divulgação espírita,
não se pode permitir o envolvimento com as emoções do adepto e potencial
telespectador, pois este deseja, com certa razão, apenas ver os valores de sua
doutrina massificados, em vista do que se realizará de alguma forma. É preciso
estender a discussão para o campo ético em seus aspectos visíveis ou não,
segundo uma realidade da qual não se poderá fugir se deseja de fato ocupar e
comandar esse tão importante quanto permissivo meio de comunicação.

No quadro dos interesses em pauta, a argumentação de que a doutrina já possui
o seu fundamento ético bem definido estará inevitavelmente presente, mas é
preciso aí não esquecer que outras ideologias, assumidas ou não como religião,
também possuíram ou possuem o seu fundamento moral, o que não tem sido
suficiente para impedir que a questão ética seja colocada num patamar secundário
quando se trata de desenvolver ações para conquistar mentes e corações e para
sustentar a infra-estrutura que custa milhões para ser montada e exige outros
milhões para ser sustentada. No clima de uma sociedade capitalista, o investidor
reclama resultados que gerem lucros, o que quase nunca tem sido possível superar
mesmo quando o investidor aparece na pele de divulgadores de uma ideologia a
princípio desligada do capital. Os compromissos com o ideal surgem bem vestidos
no momento de captar recursos, mas se despem com freqüência quando é preciso
resgatar dívidas e as pressões do mercado se acumulam.

Quando assistimos a uma intensa campanha para a obtenção de recursos apelando
à emoção – com a anuência de alguns dirigentes que fazem o mesmo,
declaradamente, nos centros espíritas, em suas práticas normais e para assuntos
semelhantes – nos permitimos imaginar o beco em que poderemos nos meter se
assumirmos compromissos em certa ordem de grandeza, para cuja solução no futuro
imediato ou distante o caminho ético poderá ser estreito demais.

A discussão do assunto não é da competência apenas daqueles que desenvolvem
esforços para conquistar os meios; é dever e obrigação de todos os espíritas,
sobre os quais recairão o ônus final. Nós devemos dizer o que queremos e como
queremos, sem medo e sem imposições. O tempo do missionarismo já passou.
Ninguém comanda uma empreitada desse gênero sozinho e ninguém fará uma televisão
“espírita” para si mesmo.

A comunidade é que vai pagar literalmente o preço e o preço em seu aspecto
ético, ao contrário do que possa parecer, não está divorciado do preço
financeiro ou econômico. No momento em que a comunidade é chamada a contribuir,
deve ser chamada também, para dizer o que pensa e para participar do comando,
segundo um critério de justiça e de prudência, que retira dos ombros de uns
poucos a responsabilidades e a decisão, para dividi-las com a própria comunidade
que, enfim, é quem estará diante da tela.

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