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Visão Espírita do Idoso – III

Sem esse entendimento, se não forem trabalhados os aspectos levantados,
percebidas essas diferenças, manteremos o atual estágio onde as dimensões velho
– idoso – idoso velho, permanecem como sinônimos, como padrão de comportamento.

De um modo geral, o idoso contribui para que essa mentalidade permaneça?

Na realidade, essa faceta não se instalou aí nessa fase da vida física. É ela
decorrência de todo um fator cultural, onde a criança já vê, no próprio meio que
a acolhe, a afirmação desse desprestígio, no qual a idade adulta ou avançada
significa marginalização, sofrimento e amargura. Assim incorpora, mantém ou
aprofunda esse entender, passando, não só a temer a idade, mas também a morte,
como se essa não ocorresse em qualquer fase da existência.

Lá na frente, no tempo que chegará, encontraremos essa criança como o adulto
desequipado, buscando desesperado métodos externos de rejuvenescimento, grupos
especiais, nos quais seja possível repetir-se a ilusão da mocidade.
Desarmonizado interiormente cria, se vê as voltas com os transtornos
psicológicos a se exteriorizar em quadros de depressões e angústias esquecido,
nunca ensinado ou lembrado de que o fator idade apresentar-se-á como resultado
de como cada qual se comportou, isto é, de como foi construída pelos pensamentos
e atitudes todo um existir.

Esses dias de passado, já encarado aí como carga que se quer rapidamente
alijar, não enriquecerá, nesse futuro, a mente, os pensamentos, as idéias ou as
lembranças em luzes com painéis ditosos, criativos, úteis e felizes.

“Atravessar a existência – qual ocorre com aquele que vence as estradas ou
águas de um rio – sempre conduzindo com segurança o veículo de que se utiliza, é
processo de realização existencial, que produz resultados compatíveis com a
maneira de enfrentar o percurso na direção do objetivo”.

Dentro desses raciocínios, poderíamos responder que o idoso contribui para
que essa idéia de marginalização se intensifique. Em suas atitudes mínimas
lamenta-se do:

  • distanciamento da vida ativa – que ele (mesmo sem o saber) se negou desde
    muito tempo atrás a querê-la ativa agora, pois esperava a idade, como um tempo
    que daria o direito de mais nada fazer.
  • enfraquecimento das forças orgânicas
  • privação dos provocantes de prazer
  • proximidade com a morte, situações estas não condicionadas a número de
    anos vividos, uma vez que em qualquer período da vida orgânica, enfermidades,
    acidentes, conflitos, problemas econômicos e sociais, geram as mesmas
    conseqüências.

O distanciamento da Vida, é gerado pela perda do encanto, da alegria de
viver.

O pensamento ativo que se mantém útil aqui, ali e sobretudo no campo interno,
encontra oportunidade de contribuir positivamente em favor dos grupos familiar e
social. Afere-se a força de um ser, não pelo vigor físico, mas pela capacidade
de administrar a existência, de enfrentar dificuldades, de resolver desafios, de
lutar e vencer; idéias, situações e posicionamentos controvertidos.

Essas premissas, não são característica ou resultantes desta ou daquela
idade, mas de disposição interior de viver e de participar dos desafios humanos.

Podemos encontrar muitos jovens de constituição orgânica fraca, o que não os
impede de crescer e se realizar. O mesmo ocorre com os idosos que podem ser
fracos ou fortes, com estrutura mais ou menos equilibrada, sem que isto seja a
causa de afetar-lhes o comportamento social, espiritual e humano.

Naturalmente, a prática de exercícios, a alimentação saudável, planos,
ideais, pensamentos edificantes, leituras, atividades gratificantes,
correspondentes à cada faixa etária, constituem-se como valores que se
importantes no decorrer dos dias, se tornam imprescindíveis nos tempos mais
avançados.

Ausência e diminuição do vigor físico necessariamente não são paralelos,
contingências para que o mesmo ocorra nas áreas do pensamento, da emoção, do
desejo de servir e amar.

Já vimos no estudo um, políticos e administradores, escritores, poetas,
cientistas, filósofos, estadistas atingindo seus momentos culminantes quando
outros haviam deixado de lutar e despertar oportunidade de crescimento. Estes,
encolhem-se para esperar a morte, o desaparecer, o dissolver-se no nada. Os
primeiros, utilizam-se dos valores que arregimentaram no tempo para se
apresentarem mais vitoriosos, felizes, oferecendo ao mundo contribuição
duradoura e brilhante.

Como lidar com o estabelecido de que o idoso esquece?

O hábito de pensar e agir desenvolve a memória retentiva, facultado maior
número de aprendizados que não se apagam. Permanece o interesse do principal em
detrimento das questões secundárias que a seleção natural faculta desaparecer da
mente. À medida, porém, que o indivíduo se mantém ágil, exercitando a capacidade
de pensar, aberto, interessado, participante nas inovações do tempo, maior se
lhe torna o desempenho intelectual. Mesmo que haja uma variação no ritmo, na
velocidade, haverá não só a preservação do patrimônio conquistado como também
aquisição de novos valores onde o idoso se configura como exemplo para as
gerações novas.

Como refletir sobre a privação de prazeres?

Depende também de como se entende o que é prazer. Sua significação não se
atém somente ao que agrada em determinado período da existência física mas
qualifica-se como sensação ou sentimento agradável, harmonioso, que atende a uma
inclinação vital proporcionando alegria, satisfação, contentamento, deleite.
Prazer proporciona alegria, bem-estar, satisfação, felicidade, agrado,
incentivo, estímulo para o crescimento interior, conforto e paz.

De acordo com essa definição, a escala de valores a respeito do prazer,
varia
, de acordo com a idade que cada um desfruta: em um momento a volúpia,
o grande prazer dos sentidos, noutro arrefece-se este; em outro ainda perdem-se
os atrativos, desaparecendo completamente. Há prazeres dos sentidos que exigem
imediatas compensações; há prazeres do sentimento que proporcionam inimaginável
e duradouro bem-estar.

A busca pelo prazer na juventude e madureza é afligente, busca o ter onde o
sexo é priorizado como sua fonte única. Nesse entender a idade avançada acena
com a decrepitude e insatisfação, tormento, amargura, revolta e frustração.

No real entender do prazer, ele existirá e atrairá das mais variadas formas
que poderão ser vivenciadas nos vários ou conforme o padrão orgânico, onde
formas antes desconhecidas de companheirismo, convívio, afetividade, trocas, e
prazeres fluem no ser sem a imposição do relacionamento sexual.

Ainda, nesse encadear dos sentidos que se superam, o ser pode nesse entender
(ilusório para uns, utópico para outros) descobrir o prazer de encontrar-se, de
viver consigo mesmo, experimentando sensações, percebendo um mundo estético
pleno de harmonia na satisfação pessoal cada vez mais abrangente. Prazer em
tese, não se configura como sensação um momento fugaz, mas frui de dentro do
ser, irradiando-se em indescritível paz, entusiasmo, alegria de ser, de estar e
de viver.

Há quem associe idade avançada com rabugice. Como refletir sobre isso?

Queixar-se de tudo, ser impertinente, inconveniente, inoportuno, insolente,
falar e agir de modo ofensivo, grosseiro, viver de mau humor, zangar-se
continuamente, não é privilégio dos anciãos. Pessoas exteriorizando a
habituidade dessas posturas são encontradas em todos os períodos da existência!
Quantos, dispondo de uma existência pela frente, se exteriorizam em atitudes
irritadiças, exigentes ao lado de idosos pacientes, confiantes e gentis. O
inverso também procede? Sem dúvida, jovens ternos, pacientes e idosos
inconvenientes, mostrando mais uma vez, cada um a se exteriorizar como fruto do
trabalho que realizou e ou realiza consigo. Como ainda em tese, não despertos,
interessados ou motivados como Espíritos imortais para esse trabalho educativo a
realizar-se na essência, é coerente que o idoso se configure como expressivo
número a chamar a atenção pelas atitudes da rebeldia rabugenta, descontente e
infeliz.

De um modo geral, essas posições refletem esse imenso vazio do ser que se vê
diante do nada, no fim que não chega, na família que estigmatiza, marginaliza e
põe de lado como algo que estorva e enfeia o ambiente.

Estudiosos apontam que, grande parte das atitudes mais agressivas do idoso,
configuram-se como reações para com as atitudes, o pouco caso, o desprezo, o
subestimar que sentem ou percebem (mesmo quando não exteriorizadas em palavras e
atos) nos demais.

Desse modo, o relacionamento não saudável na família ocasionam ou aprofundam
conflitos, implicâncias, cobranças que podem caminhar para agravamentos
insustentáveis.

Reflitamos que de modo geral, mas especificamente neste caso, é na família
que o processo se desenvolve em clima de sintonia, onde o menosprezo de uns
(exteriorizado ou não) provoca reações que reciprocamente interferirão na
preservação da saúde física, emocional e mental do grupo familiar.

Nivelou-se nesse grupo, a visão do nada do idoso, no descaso desrespeitoso do
grupo, onde todos querem se ver livres uns dos outros, como pesos recíprocos a
se tolerarem por obrigação.

Nesse clima, somente aqueles que dispuserem de resistências morais
relevantes, suportarão (não se sabe em que condições íntimas) o desrespeito
mantido.

Essas “resistências morais relevantes”, frise-se, não são conseguidas de uma
hora para outra, mas fruto de trabalho pessoal no entender da Vida, na sua
função, nos objetivos que cumpre frente ao crescimento do Espírito.

Entender que os dias da existência têm significado especial par o
enriquecimento interior, na conquista de patamares elevados para o sentimento e
o pensamento, nas ações nobres rumo a plenitude, desperta para que se viva
integralmente cada momento, com atividades renovadoras, espírito de combate,
alegria e paz. Ainda, em favor de cada um, nesse preparo para dias que estamos
ou que chegarão despojar-se da consciência de culpa pelas ações menos felizes
que podem ser reparadas; sem cobranças, pelo que gostaria de ter feito ou
realizado de forma diferente. Harmonizar-se, agir corretamente, dinamizar no Bem
tudo quanto possui orientando os passos, pelos caminhos da Verdade, da
Solidariedade e do Amor.

Quem trabalha consigo e se descobre, não mais permanece na indecisão,
cultivando pensamentos perturbadores mas marcha em busca da auto-realização em
total harmonia íntima.

Conclui-se que, chegar a ser idoso é uma arte e uma ciência, que devem ser
tomadas a sério, seja qual for a idade que se tenha hoje, exercitando-as a cada
instante, em atitudes positivas do dia-a-dia. Alijar do campo mental o
“estabelecido” de que essa etapa espiritual deve ser ociosa, contemplativa, sem
movimento e trabalho.

Mas o idoso trabalhar? Todos necessitamos do trabalho, inclusive o idoso com
trabalho é lógico adaptado às suas condições físicas e psicológicas. aliás,
quanto mais participarmos de uma vida de trabalho, principalmente dirigido à
sociedade dos homens, mais esquecemos de nós onde as naturais reações da
organização física ficam como que, apagadas, suplantadas, nos planos, nas
idéias, no que se planeja fazer aqui e ali na mento que organiza procedimentos
ou providências, esperando com euforia as luzes do amanhecer, para poder pôr em
pratica, essas novas idéias e planos. É nesse sonhar, arquitetar, planejar
constante que se nutre as próprias fontes de energia, quase sempre carentes e
necessitadas de renovação.

Estima-se que por volta do ano de 202 teremos no Brasil vinte e sete milhões
de idosos e setecentos milhões no mundo. Se entendemos que a vida é semeadura, e
que muitos de nós comporá esse número, somente nesse entendimento da Vida e no
desenvolvimento das qualidades positivas, teremos estruturas psicológicas
dignificantes e bem sedimentadas acrescida ainda, pela compreensão de que chegar
a ser idoso acena ainda como fase preparatória de uma nova vida.

Se já somos idoso ou se estamos a caminho, usemos de todo nosso interesse,
preparemo-nos para a Vida que prossegue no sem fim dos tempos. Saibamos
atravessar o cair da noite com naturalidade e harmonia, afim de colhermos e
apreciarmos as belezas de uma nova aurora.

Bibliografia:

  • André, Jorge – Dinâmica Psi – estudo 27
  • Ângelis, Joanna – Despertar do Espírito – estudo 10

(Jornal Verdade e Luz Nº 180 de Janeiro de 2001)