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Visão Espírita do Idoso – V

Visão Espírita do Idoso – V

O entendimento espírita vê a idade avançada como o outono no tempo – fase
normal, necessária, imprescindível na sucessão harmônica dos objetivos e funções
da encarnação, envolta, igual a todas as outras, nos dons da Natureza, nas
bênçãos de Deus.

Entender o idoso na sua aparência, no seu modo de ser como o aprendizado, a
experiência, sem as ilusões, paixões, aflições. Recapitula-se aí todo o conteúdo
existencial.

“O ancião viu o nada de tudo quanto deixa; entreviu a certeza de tudo o que
há de vir: é um vidente. Sabe, crê, vê, espera. Em torno da fronte coroada de
cabeleira branca qual a faixa hierática dos antigos pontífices paira majestade!
À falta de reis em certos povos, eram os anciãos que governavam”.

“É preciso porém, não esquecer de que, em nossa época, há – já o dizia
Chanteaubriand – muitos velhos, o que não é a mesma coisa – e poucos anciães”.

Tal comentário justifica-se, porque ancião, refletiria o texto primeiro
transcrito: seria bom, indulgente; estimaria e encorajaria a mocidade – seu
coração não envelhecera. Os velhos, seriam os ciumentos, malévolos e severos. Se
as gerações atuais perderam o culto de outrora pelos antepassados não é
precisamente porque os idosos se tornaram velhos, deixando de ter a alta
serenidade, a benevolência amável que fizera nesses tempos idos, a poesia dos
antigos lares?

Pela falta de, através dos tempos não nos ocuparmos destas reflexões, não
entendermos o que representam as idades para o Espírito frente à essa etapa o
que se passa em seu íntimo?

Na maioria das vezes é uma fase de caos, desânimos, inseguranças, medo, tédio
e descrença total do valor dos dias já vividos. Sem conseguir precisar, avaliar
esse Espírito divisa, percebe as profundezas do Infinito uma vez que iniciou-se
já o processo sutil da desmaterialização. O sono foge, a vigília prolongada
encontra-o como que, de sentinela na extrema fronteira da vida, de onde divisa a
outra margem… Daí as ausências estranhas, as distrações prolongadas,
verdadeiros tateios, explorações do além, num preparo numa adaptação para a
viagem que já se iniciou e que prossegue em se aprofundando.

Esse cuidado, esse preparo, por assim dizer, do tempo a se esgarçar,
transfigura as faculdades da alma: tem a função de torná-la simples; suprimindo
as necessidades irreais, artificiosas – há um começo de espiritualização (no
sentido de desligamento da essência com a matéria).

Outra “faculdade” preciosa desponta: a de esquecer. Tudo o que se constituiu,
no decorrer dos tempos, como superficial, imediato, corriqueiro, supérfluo –
apaga-se -; conserva, lembra ou recorda o substancial, marcante, referencial.
(Estaria acontecendo aí um processo seletivo para as incorporações necessárias
ao Espírito?)

Fisicamente, a fronte, lembrando o fruto maduro pende, inclina-se sobre o
coração. Procura (ou passa a idéia) de querer converter em amor, tudo quanto lhe
resta de faculdades, vigor e lembranças.

Dizem que a idade avançada é a noite da Vida, entretanto, a noite pode ser
bela, clara, toda ornamentada de estrelas e constelações, luar e claridade a se
esparzirem de uma longa vida cheia de virtude, bondade e honra!

Jamais portanto, enxergar aí decadência – há sim progressão – caminhada
avante para um termo que se abre, prossegue na Imortalidade em novos passos e
propostas. Chegar a essa fase, nesse entendimento, nesse exteriorizar da alma em
paz – ser ancião, chegar a idoso é uma das bênçãos, entre as bênçãos da Vida.

Dentro dessas reflexões, não é também esse tempo, um prefácio, um anteceder
da morte?

Está sim, se processando verdadeira iniciação – o preparo, a gestação de um
outro nascimento. Segundo a ordem da mesma Lei, deixa-se o mundo material pela
mesma razão pela qual nele entramos. “Podemos pensar no Espírito como um campo
virtual que promove as necessárias reconfigurações na psique como também em sua
percepção do mundo. Em si, o Espírito contém uma realidade virtual e não
corpórea. O Espírito não se forma da configuração ou disposição especial da
matéria, mas ele mesmo é uma estrutura flexível de Deus. que o concebeu Sua
expressão. Em outras palavras, o Espírito não se desprende da matéria nem ela
dele. Não é produto da evolução material mas evolui com a matéria. Prescinde
dela para existir, porém, não a dispensa para evoluir”.

Nesse entender, o trabalho silencioso dessa desmaterialização já está
iniciado, Se ocorrer a doença, acabará em alguns meses, semanas ou dias o que, o
lento trabalho do nascimento físico preparara: o organismo se desagrega pela
extinção do fluido vital o perispírito “se solta”, “se desliga” do resto da
matéria que o “retinha”.

A alma agora, já meio desprendida, teria as faculdades aumentadas;
dilatam-se-lhe as percepções, adentra, ensaia-se em sua atmosfera natural,
retomando seu campo vibratório natural. É como que, um clima, um estado
crepuscular no limite extremo entre os dois mundos; percebe, vê, divisa, sem
entender, a dimensão em que vai entrar. O mundo que está prestes a deixar,
também lhe acena, com fantasmas à lembrança mesclando-se a todo um cortejo de
Espíritos que lhe aparece do lado novo. Na grande maioria das vezes, (tal como
na fase infantil) não consegue identificar, separar quem é “vivo”, quem é
“morto”, referindo-se a ambos com idêntica naturalidade.

Nessa dissolução da matéria, o que se passa com o Espírito?

Assim como ninguém nasce só, ninguém, igualmente morre ao abandono. Os
desencarnados que o conheceram, amaram, assistem, vêm ajudar o moribundo,
sustentando a coragem a confiança, a paz com a presença alegre, feliz de quem
recebe o companheiro ausente que regressa ao Lar. Não nos esqueçamos que além
destes, há ainda a presença dos Espíritos encarregados das técnicas de
desligamento, além do Espírito protetor., “anjo da guarda” ligado ao indivíduo
desde o nascimento até a morte e que freqüentemente o segue na vida espírita.

Nos desligamentos que se processam, o perispírito se desprende do corpo que
até pode viver mais algumas horas em vida puramente vegetativa.

Note-se como fato interessante que na morte os fenômenos se realizam na forma
inversa do nascimento físico – ao nascer a vida vegetativa desenrolou-se no
corpo da mãe; na morte, é a última a extinguir-se: a vida intelectual e a vida
sensitiva são as duas primeiras que partem.

Enquanto o corpo está ali a extinguir as derradeiras vibrações da matéria o
que acontece com a alma? Como seria nesse novo campo vibratório o estado desse
Espírito desencarnado como idoso no corpo físico?

Mensagens, textos, estudos doutrinários esclarecem que a Vida prossegue em
progressos, onde novos corpos físicos far-se-ão necessários para os avanços
acentuados dentro da lei evolutiva.

Desse modo, sobrevindo a morte do corpo físico, em tese, o Espírito seria
levado para abrigos, hospitais até que se refaça dos abalos sofridos, das
doenças ou mesmo pela adaptação a um novo campo de matéria. Dentro dessa tese,
aparecerão sem dúvida as variantes por exemplo: aquele que desencarna em baixa
vibração perispiritual, mantém-se na forma ou circunstâncias em que estava o
corpo, nos costumes de sua vivência habitual. À medida que vai sendo tratado,
entendendo, auxiliando-se, desvincula-se das situações terrenas. Por decorrência
altera o perispírito desvinculando-o das injunções (sensações/percepções)
materiais que, poderão voltar quando pelo pensamento, volta, se detém nos
sentimentos, lembranças de antigas situações. A parte espiritual, propriamente
dita, se transforma obedecendo ao comando da mente, na proporção e medida em que
se renove.

Um Espírito desencarnado num corpo ancião, idoso, de matéria gasta,
desestruturada pode na vida espiritual, voltar a gozar da plenitude dos dias da
mocidade ou deter num momento do tempo em que determinada forma física lhe tenha
sido mais agradável ou significativa.

Recorde-se Emmanuel que se apresenta na aparência de um momento existencial
que lhe foi ou é altamente especial.

Reforçam esses raciocínios a transcrição ensinando que “(…) Ainda assim,
releva observar, que se o progresso mental não é propriamente acentuado, mantém
a personalidade desencarnada, nos planos inferiores, por tempo indefinível, a
plástica que lhe era própria entre os homens. E, nos planos relativamente
superiores, sofre processos de metamorfose mais lentos ou mais rápidos, conforme
as suas disposições íntimas.

“Se a alma desenleada do envoltório físico foi transferida para a morada
espiritual em adiantada senectude, gastará algum tempo para desfazer-se dos
sinais da ancianidade corpórea; se deseja remoçar o próprio aspecto, e na
hipótese de haver partido da Terra na juventude primeira, deverá igualmente,
esperar que o tempo a auxilie, caso se proponha a obtenção de traços da
madureza”.

“Cabe entretanto considerar que isso ocorre apenas com os Espíritos, aliás em
maioria esmagadora, que ainda não dispõem de bastante aperfeiçoamento moral e
intelectual, pois quanto mais elevado se lhes descortine o degrau de progresso,
mais amplo se lhe revela o poder plástico sobre as células que lhes entretecem o
instrumento de manifestação. Em alto nível a Inteligência opera em minutos
certas alterações que as entidades de cultura mediana gastam, por vezes, alguns
anos para efetuar”.

Sendo a vida espiritual, continuação da terrena em sentido progressivo, não
podemos esperar transformações instantâneas, a não ser para Espíritos Puros. A
grande maioria transformar-se-á num tempo maior ou menor, decorrente, dependente
do teor evolutivo, merecimento, entendimento, capacidade de ação, etc., etc.,
etc.

Assim… o menino deixa a infância pra entrar na mocidade; o jovem deixa a
mocidade para entrar na madureza; o adulto deixa a madureza para entrar na
senectude e o ancião deixa a extrema velhice para entrar no mundo espiritual,
não como quem perde os valores adquiridos, mas sim prosseguindo para o alvo que
as Leis de Deus nos assinalam a cada um.

Desse modo, é a existência terrestre seja qual for o momento em que se
esteja, um aprendizado em que as renovações acontecem buscando atingir a
plenitude em Jesus.

Todas as fases; infância, juventude, madureza, senectude têm o aspecto de
transitoriedade – não podem representar a Vida. Caracterizam-se como
demonstrações da sagrada oportunidade concedida por Deus para sutilização dos
sentimentos no contínuo superar de imperfeições.

Quem se vale dessa oportunidade divina – viver – para tão somente cultivar
ilusões não poderá encontrar mais que o fantasma dos próprios caprichos e
enganos.

Aquele porém, que entender os momentos como bênçãos, oportunidades, onde cada
um implícita convite individual a determinada atitude, resposta ou ação, onde
Jesus permanece como modelo, esse naturalmente, conquistou o segredo do viver
triunfante, Acima de quaisquer circunstâncias ou adversidades Jesus acena com
possibilidade, modelo objetivo, guia e ideal de atos, palavras e pensamentos
“(…) Seu coração na pobreza ou na abundância, na juventude ou na idade
avançada será como flor de luz aberta ao sol da vida eterna”.

Livros consultados:

  • Emmanuel – F. C. Xavier – Renúncia
  • Emmanuel – F. C. Xavier – Palavras de Vida Eterna, 81
  • André Luiz – F. C. Xavier – Evolução em dois Mundos
  • Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, 492
  • Adenáuer Novaes – Psicologia do Espírito
  • Léon Denis – O Grande Enigma

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(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)

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