Infelizmente existem pessoas que culpam os Espíritos por tudo quanto lhes
aconteça na vida. Não se pode ignorar a influência dos Espíritos em nossas
vidas. No entanto, há pessoas que vêem a influência dos Espíritos em tudo, até
nas mínimas incidências do dia a dia.
Allan Kardec esclareceu, de forma simples, que “os bons Espíritos
nenhum constrangimento infligem. Aconselham, combatem a influência dos maus e,
se não os ouvem, retiram-se” (Livro dos Médiuns, item 237).
Percebe-se que os bons Espíritos estão empenhados na prática do bem, e não são
capazes de provocar o menor constrangimento a quem quer que seja.
Através do Espiritismo sabemos que os Espíritos influem sobre os
nossos pensamentos e ações muito mais do que supomos. Isto não significa que
estejamos subordinados passivamente, de forma incontrolável, à vontade
dos Espíritos. A obsessão é fato real e concreto, comprovado todos os dias.
Sabemos os efeitos danosos que as obsessões provocam no ser obsidiado. Um deles
é o de fazer com que o ser não admita estar obsidiado, dificultando o processo
de tratamento desobsessivo. Afinal, qualquer tratamento, para que surta o efeito
esperado, é necessário que conte com a colaboração do paciente.
É comum chegarem nos Centros Espíritos pessoas de várias religiões, em busca
de explicações para seus problemas insolúveis pela ciência e a religião
tradicionais. A Doutrina Espírita esclarece até onde vão os fenômenos puramente
materiais, e faz a divisão lógica desses com os fenômenos espirituais. Apresenta
os tratamentos adequados, sem misticismos, sem segredos, sem mistérios, e
gratuitamente. E assim, inúmeros são os descrentes que se convertem ao
Espiritismo, tornando-se defensores dessa Doutrina iluminadora e libertadora.
Se de um lado existem os que não acreditam nos fenômenos espíritas, de outro,
há os que acreditam exageradamente neles, com um certo fanatismo.
O que mais choca a razão é perceber que essas pessoas são espíritas
declaradas, que freqüentam as Casas Espíritas, e no mais das vezes são também
trabalhadores dessas instituições. Esses espíritas consideram-se alvo constante
dos habitantes do mundo invisível. Mostram-se acossados por todos os lados, num
combate desigual, onde os inimigos invisíveis parecem levar certas
vantagens.
Segundo eles, os Espíritos provocam sintomas os mais diversos, concentrando
energias negativas nos órgãos e no organismo como um todo. Uma noite mal
dormida, uma simples dor de cabeça, um pequeno mal estar, uma contrariedade
qualquer é para eles um sinal que os Espíritos estão atuando, tentando
atrapalhar-lhes a vida. Há, ainda, a crença de que os Espíritos procuram
atingi-los utilizando-se dos outros. Dessa forma, basta que alguém lhes cause o
menor constrangimento, ou até mesmo uma expressão de mau humor do chefe, do
amigo, do parente ou de um desconhecido, atribuem imediatamente aos
desencarnados a responsabilidade pelo ocorrido, na tentativa de atingi-los
através do próximo.
Para esses espíritas não importa se durante a refeição ingeriram um alimento
estragado, ou mesmos abusaram na quantidade. Também não se dão conta de que os
outros têm seus problemas, suas enfermidades, seus momentos de tristeza e
justamente por isso, às vezes, não conseguem esboçar um sorriso nos lábios. Vêem
os outros como pessoas obsidiadas, e recomendam sempre a oração e a
vigilância, como antídotos contra as investidas danosas da espiritualidade
inferior. Apresentam suas técnicas de defesa espiritual, baseadas nas Obras
Espíritas, pois são também estudiosos da Doutrina, e no mais das vezes
deturpam as técnicas desobsessivas, criando técnicas próprias, às vezes
esdrúxulas, e o que é pior: recomendam para os outros.
Para esses, os Espíritos são seres desocupados, que vivem unicamente para
prejudicar ou atrapalhar as pessoas, principalmente a eles, que se acham
melhores que os outros, e por isso mesmo se tornam alvos fáceis. Consideram-se
vítimas da espiritualidade inferior, e responsabilizam os Espíritos por tudo
quanto lhes aconteça na vida, por menores que sejam os incidentes. Até mesmo um
simples tropeção “põem na conta dos Espíritos”.
(Sergipe Espírita – julho/1998 – nº 62).
(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 98)