Rubens Policastro Meira
No contexto mundial evidencia-se uma preocupação constante por parte dos países desenvolvidos e ricos, em relação aos países pobres, sub-desenvolvidos e em desenvolvimento: a chamada superpopulação, fenômeno e crescimento demográfico.
Enquanto nos países ricos observa-se uma queda de natalidade, os países pobres apresentam substancial aumento de natalidade e conseqüente aumento populacional. Observa-se que nos países ricos e desenvolvidos o crescimento populacional é inferior a 1% (um por cento) ao ano; nos países pobres e menos desenvolvidos os índices de aumento populacional ultrapassam os 2,5% (dois e meio por cento) anuais.
Tais fatores induzem os países ricos, que sentem-se ameaçados pela explosão demográfica dos países pobres, a programarem fabulosas campanhas difundindo a contracepção, a esterilização, laqueamentos, ligaduras, bem como o aborto. Justificam tais campanhas afirmando que seria insuportável o aumento populacional ante um menor ou pequeno progresso econômico e social, ou mesmo de subdesenvolvimento. Na verdade vêem e temem que o aumento populacional dos países pobres e subdesenvolvidos coloque em risco o bem-estar, a comodidade e a tranqüilidade conquistada.
A preocupação dos países ricos e desenvolvidos, dos poderosos em âmbitos nacionais, reflete uma temática de alguns milênios, quando o faraó do Egito ante o aumento populacional dos israelitas, após sujeitá-los a todo tipo de opressões, ordenou que todas as crianças do sexo masculino fossem mortas(1). Hoje, tanto como ontem, não há interesse em procurar enfrentar e resolver o problema dentro do respeito à dignidade do ser humano, do direito à vida, tendo em vista o orgulho, o egoísmo que sufocam as mais nobres aspirações.
Ao contrário preferem impor um maciço controle, planejamento, da natalidade, pois que condicionam, injustamente, as “ajudas econômicas” à aceitação de uma política contraceptiva.
Em virtude do temor que o fenômeno demográfico inspira aos “poderosos” da terra, as ameaças contra a vida assumem proporções alarmantes, constituindo-se de ameaças programadas de forma científica e sistemática. João Paulo II alerta expondo que “o século XX será considerado uma época de ataques maciços contra a vida, uma série infindável de guerras e um massacre permanente de vidas humanas inocentes. Os falsos profetas e os falsos mestres conheceram o maior sucesso possível“(2).
O que procuramos proclamar linhas atrás não é novidade. Em 1798, o ministro da Igreja Anglicana e cura de Albury, no Surrey, Thomas Robert Malthus, publicou um ensaio denominado: “Um Ensaio sobre o Princípio da População“, em que preconiza o perecimento final da população, se não se impuser controle à sua multiplicação. Malthus fundamenta sua tese no sentido de que a produção de recursos essenciais, cresce em progressão aritmética, e o aumento populacional em progressão geométrica e que assim, a superpopulação, pelo consumo, levaria ao esgotamento da capacidade física do planeta. Em seu ensaio Malthus, cita que: “…os pobres são eles próprios, a causa de sua própria pobreza”; que “…todo homem que nasce num mundo já ocupado não tem o direito de reclamar parcela alguma de alimento. No grande banquete da natureza não há lugar para ele. A natureza intima-o a sair, e não tarda a executar essa intimação”(3). Malthus era cristão, ministro protestante.
Pelo conceito malthusiano verificamos que a religião durante séculos esteve a serviço dos poderosos, abdicando do preceito de Jesus em favor dos pobres, dos oprimidos. Karl Marx, materialista, não cristão, rechaçou a teoria de Malthus pela sua cruel desumanidade(4).
Nas últimas décadas os fatores que contribuíram para o crescimento da população mundial, principalmente nos países pobres e em desenvolvimento, foram a redução da taxa de mortalidade infantil e o aumento do prazo médio de duração de vida.
Cogita-se em escala internacional, que ante a possibilidade de um aumento populacional incontrolável, “pode acontecer” que medidas futuras por parte das nações ricas e desenvolvidas sejam preconizadas e colocadas em execução, com o fim de frear a taxa de crescimento da população mundial. Almejam uma estabilização populacional e para tal a taxa de crescimento desejável seria de 0% (zero por cento), o que seria alcançado somente no século XXII, com 15 bilhões de habitantes. No entanto, em vista dos planos existentes, há esperanças por parte dos países ricos, de obter-se a taxa 0% (zero por cento), antes do século XXII, isto é, no ano 2.050, ou seja, dentro de apenas 55 anos, com uma população próxima dos 10 bilhões de indivíduos.
A preocupação primordial daqueles que detém o poder econômico e financeiro em escala internacional, fica patente na obra de JACQUES VALLIN,(5) onde enfatiza que “embora conseguida a estabilização do crescimento populacional, na forma mais otimista, ou seja, de 10 bilhões no ano 2.050, o maior desafio não será quanto nós seremos no futuro próximo, mas sim como haveremos de fazer para vivermos com tanta gente demandando alimento, roupa, calçado, transporte, moradia, assistência médica, educação, etc.”
Quais seriam as medidas futuras que poderiam acontecer por parte dos ricos e poderosos? Esterilização em massa? Proibição compulsória de gerar? Aperfeiçoamento racial? É importante lembrar que a intenção de controlar o crescimento populacional, serve única e exclusivamente aos poderosos, aos dominadores, aos privilegiados, aos egoístas, com a finalidade de manter, de perpetuar uma casta de privilegiados, os quais, inconscientemente, produzem e reproduzem a temível “Bomba P“, bomba populacional.
A fim de manter os privilégios conquistados, a classe dominante está tomando consciência de que a superpopulação gera problemas não somente econômicos e ecológicos, mas também problemas éticos, políticos, religiosos, filosóficos, educacionais, de segurança, de saúde física e mental, habitacionais, etc.
Se conscientizam e a imprensa escrita, falada e televisionada, demonstra dia a dia, a dificuldade, o temor, a insegurança existentes no planeta, em face da miséria, do desemprego, da fome, do desrespeito à vida, fatores esses produzidos pelos mesmos poderosos, em face do orgulho e do egoísmo, as duas chagas da humanidade.
Nas grandes cidades do mundo, seja desenvolvido ou subdesenvolvido, podemos contemplar como a vida se transforma em uma luta sem tréguas contra as dificuldades oriundas da competição, do egoísmo, do isolacionismo de cada criatura, onde a insegurança e a agressividade, automaticamente se geram, como algo normal do dia a dia.
Os poderosos se conscientizam também de que em determinadas cidades a vida deixa de ser uma alegria, convertendo-se em um pesadelo, situação que com a superpopulação deverá tornar-se constante.
Procuram então fórmulas para a solução de tais problemas, tais como, conseguir uma “conscientização” universal a respeito da “gravidade” da situação, na intenção de convencer a todos os habitantes a evitarem proles numerosas.
Dai os projetos da contracepção no intuito de propiciar o almejado controle populacional.
O que o planeta atualmente vivência no que tange às guerras localizadas, á fome, à miséria, o desemprego, à falta de assistência, o desrespeito à vida humana, à prostituição, o vício, tóxicos, marginalização, fazem parte do projeto da cultura da morte, de uma verdadeira conspiração contra a vida, refletindo os efeitos de uma causa. A causa está no orgulho e no egoísmo.
Ao mesmo tempo em que pensam “conscientizar” os povos visando uma prole menos numerosa, esquecem-se de perguntar a si mesmos: Tais fatos não estariam na raíz das desigualdades econômicas das nações, que tem contribuído para o crescente empobrecimento do chamado terceiro mundo, favorecendo destarte os países ricos e desenvolvidos? Se as populações mais pobres são as mais prolíficas, como promover com justiça, a melhor distribuição da riqueza entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos?
Como pretendem conseguir uma “conscientização“?
Porque conscientizar as populações mais pobres com o fim precípuo de evitar proles numerosas?
Será que entendem que sempre haverá uma classe de ricos, de poderosos, e outra de pobres, de frágeis?
Será este um fator determinista no grande concerto da Vida?
Como promover uma justa distribuição da riqueza?
Qual a causa da desigualdade econômica das nações e implicitamente dos indivíduos?
Devemos entender que “conscientizar” deverá ser uma iniciativa que deve respeitar a responsabilidade inalienável dos casais, e jamais recorrer à métodos que venham desrespeitar as pessoas nos seus direitos fundamentais.
Os governos, as instituições, antes de tudo, deveriam criar planos sérios que visem melhores condições econômicas, sociais, médico-sanitárias e culturais, permitindo aos casais realizar suas opções procriadoras, com responsabilidade e liberdade; procurar e envidar esforços para aumentar os meios e distribuir com justiça a riqueza, com a finalidade de todos participarem equitativamente dos bens da criação. Envidar esforços para soluções internacionais para a instauração de uma autêntica, legitima, economia de uso e participação de bens, dentro da ordem internacional como da ordem nacional.
Tal é o único caminho que irá respeitar a dignidade dos seres humanos, das famílias, bem como o autêntico patrimônio cultural dos povos. É imprescindível a defesa e a promoção da vida. Tal desafio na virada do milênio, é espinhoso, é áspero. Para tanto, a fim de evitar uma derrota da civilização com conseqüências imprevisíveis, faz-se mister e urge, uma cooperação em caráter internacional de todos os que acreditam no valor da vida.
A humanidade com menos orgulho, menos egoísmo, poderá expurgar a fome, a miséria, os temores, os vícios da face da terra, pois que estará construindo o “Reino de Deus”, sob a tônica de “Ama o teu próximo como a sí mesmo”.
Bibliografia:
- (1) Bíblia Sagrada – Exôdo 1:7-22
- (2) Carta Encíclica Evangelium Vitae – João Paulo II
- (3) Economia – Malthus, Thomas Robert. Editora Ática, 1982
- (4) O Capital – Karl Marx, Coleção os Economistas – Edição Nova Cultural, volume II, capítulo XXIII
- (5) La Population Mondiale; 1º Alarmisme Est Depassé – Jacques Vallin.
Correspondência: