Neste mês de novembro, uma pequena comunidade de seringueiros
do interior do Acre viveu dias de inacreditável desespero, dignos dos piores filmes
de terror. Um casal de agricultores, dizendo ter recebido sinais dos céus, comandou
uma chacina que resultou na morte de seis pessoas e no espancamento de mais de sessenta.
O motivo? Todos estariam “endemoninhados”. Alegando ter recebido de Deus a incumbência
de assumir o posto de pastor da Igreja Pentecostal Unidos do Brasil, o principal
envolvido iniciou sua insana missão ordenando o espancamento do auxiliar da igreja,
que recebeu pauladas, chutes e socos. Este, fingiu-se de morto para escapar, e tratou
de fugir em busca de ajuda, chegando a Tarauacá (AC) depois de três dias caminhando
na mata.
Segundo Francisco de Morais, o dito pastor, os castigos e assassinatos eram uma
forma de purificação, pois estava preparando o grupo para o “arrebatamento”, ou
seja, para ser levado ao céu. Os relatos são os mais estarrecedores possíveis. Envolvidos
pela cegueira do fanatismo, eles dizem ter visto cenas demoníacas. Um casal, que
matou os três filhos e depois jogou-os no fogo, afirmou que “eles não eram gente”
e sim demônios. Descrevem que depois de mortas, as crianças viraram monstros, com
unhas longas, rosto e pernas grossas e braços finos.
A insanidade foi tamanha, chegando ao ponto dos fiéis acreditarem estar diante
do próprio Criador, pois Morais se dizia Deus e perdoava os “pecadores”. Durante
o tempo em que durou a loucura coletiva (uma semana), eles carregaram, beijaram
e adoraram o casal. A mulher era levada em procissão e por três vezes foi simulada
uma crucificação. Algumas pessoas queimaram suas roupas e, nus, esperaram serem
“arrebatados”. Os psiquiatras da Polícia Civil procuram explicações para o acontecimento.
Uma delas é de que estão relacionados ao analfabetismo e ao isolamento do seringal.
O laudo oficial ainda não foi liberado.
A ciência terrena certamente encontrará explicações para o fato, baseada em sua
visão materialista e, evidentemente, enxergando apenas um lado do problema. Mas,
tateando em busca de luzes para o acontecimento, não decifrará o mistério que acabará
no rol dos fatos ligados à ignorância e ao fanatismo, o que não deixa de ser verdade,
sem entretanto esclarecer coisa alguma. Sem as ferramentas oferecidas pela visão
ampliada dos fatos ligados ao Espírito, fica muito difícil compreender de que forma
coisas dessa natureza acontecem e as razões pelas quais encontram espaço em nosso
meio.
Sem sombra de dúvida estamos diante de uma obsessão coletiva, fato que já se
deu em muitas partes do planeta isoladamente e agora parece tomar proporções preocupantes.
A situação de doença moral em que se encontra a humanidade atual é solo propício
para a manifestação de Espíritos do baixo mundo astral, que aproveitam essas oportunidades
para despejar no meio seus mais ignóbeis desejos, espalhando o medo, a confusão,
a desordem e a destruição. Há que se ter consciência disso, a fim de que estejamos
alerta aos sinais de desagregação social que aos poucos toma conta da humanidade,
que parece adormecida diante das estranhas e rápidas mudanças que se opera nela,
sem reagir de forma a repudiar o Mal que se alastra a passos largos.
Sem a compreensão dos fenômenos ligados ao Espírito e sem as bases extraordinárias
da ciência dos fluidos encontrados na codificação kardequiana, alguns dirão que
este é um discurso apocalíptico e exagerado. Fundamentamos nossa análise no estudo
dos fenômenos, nas evidências dos fatos e nas necessidades evolutivas do Espírito
imortal. Para os que acham que as mudanças ocorrerão em doce suavidade, pedimos
que dêem uma olhada no panorama mundial e analisem os efeitos do sistema materialista
escravizador, bem como as condições morais das criaturas que determinam as linhas
de conduta que regem os povos.
Se a atmosfera fluídica de um ambiente é determinada pelas condições morais das
pessoas que o compõe, podemos afirmar que nosso planeta tem oferecido as condições
adequadas para os desvarios do mundo astral inferior e que, se estamos vivendo dias
de extrema dificuldade no aspecto dos valores verdadeiros do Espírito, certamente
isso se deve também ao estímulo dado pelos que trabalham, no mundo invisível, pela
perpetuação do atraso e ignorância. Sedentos de campos onde possam se manifestar,
encontram no momento atual as perfeitas condições para sedimentar o bizarro, a malícia,
a sensualidade exagerada, a desonestidade, a corrupção, a ganância, a avareza, a
irresponsabilidade, enfim, o caos social.
Para entender a gravidade da situação, basta ver as alterações e absurdos que
se encontram atualmente em nome da religião. Em pleno desabrochar de uma nova era,
ainda matam e exploram em nome de Deus. Milhões de pessoas neste país encontram-se
escravizadas por uma fé cega, que mercadeja cada pedaço de pão, que troca bens materiais
por um “lugar no céu”. Além, é claro, de alardear aos quatro cantos que são os “eleitos
de Deus” e que os espíritas são os “servos de Satanás”. Isso sem falar na situação
de guerra religiosa existente secularmente em outros povos.
A situação que hoje se vê no mundo, portanto, está próximo de uma obsessão coletiva
e focos desse perigo já pode ser identificado em muitos pontos do planeta. Casos
semelhantes foram detectados na época do advento do Espiritismo e estudados por
Allan Kardec que nos deixou instruções como esta: “Compreende-se que semelhantes
a uma nuvem de gafanhotos, um bando de maus Espíritos pode cair sobre um certo número
de criaturas, delas se apoderar e produzir uma espécie de epidemia moral. A ignorância,
a fraqueza das faculdades, a falta de cultura intelectual naturalmente lhes oferece
maiores facilidades. Por isso eles atuam de preferência sobre certas classes, embora
as pessoas inteligentes e instruídas nem sempre estejam isentas” (Revista Espírita,
abril 1862).
A falta de compreensão da gênese desses fatos pode levar o homem a descuidar-se
de suas atitudes e permanecer alheio ao que realmente necessita para livrar-se do
mal: o crescimento moral e intelectual, que pode ser conseguido através da compreensão
das leis divinas. A disciplina interior, aliada ao esforço perene em mudanças de
postura e redirecionamento de atitudes e pensamentos é a grande chave para conseguir
o equilíbrio. Enquanto o grande ausente nas sociedades humanas for o efeito moralizador
da mensagem de Jesus, a humanidade sofrerá as conseqüências de seus próprios atos,
desconhecendo a lei maior do amor ao próximo, e fazendo da Terra um grande palco
de injustiças e aberrações.
Os esforços da Espiritualidade têm sido inúteis no sentido de alertar o homem
para essa situação. De tempos em tempos, Deus envia seus missionários para realizar
sua obra saneadora e lembrar o homem de Seu amor e justiça. Já era tempo da humanidade
ter avançado um pouco mais em moralidade, com todos os recursos intelectuais conseguidos,
que certamente facilita o entendimento. Mas permanece na inércia e cegueira espiritual,
o que favorece as situações de loucura obsessional, conforme explica Kardec, nos
estudos sobre casos semelhantes ocorridos em Morzine, Suíça. Esclarecendo sobre
isto, o Espírito Erasto deixou claro a importância da vinda da Doutrina Espírita
para o mundo, fazendo uma comparação com os fenômenos semelhantes ocorridos na época
do Cristianismo nascente.
Para finalizar, deixo aqui, para nossa reflexão, um trecho dessa instrução sobre
as obsessões coletivas, encontrada na Revista Espírita: “Ninguém ignora que quando
o Cristo, nosso muito amado Mestre, encarnou-se na Judéia, aquela região havia sido
invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje, se apoderavam
das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos
adiantados (…). Não percebeis uma grande analogia entre a reprodução desses fenômenos
idênticos de possessão? Nisso existe um ensinamento muito profundo e disso deveis
concluir que cada vez mais se aproximam os tempos preditos a que o Filho do Homem
em breve virá expulsar de novo a turba de Espíritos impuros que se abateram sobre
a Terra, e reavivar a fé cristã, dando a sua alta e divina sanção às consoladoras
revelações e aos ensinamentos do Espiritismo”. Quem tiver olhos de ver, verá.
04/12/98