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Recordando Herculano Pires

Recordando Herculano Pires

Carlos Alberto Ferreira

«Revista de Espiritismo» nº. 34 – FEP

O Professor, como carinhosamente o chamavam, foi professor
catedrático, jornalista, tradutor, cronista, poeta, filósofo, romancista,
sociólogo, chefe de família exemplar, etc. Legou-nos mais de meia centena de
livros, na sua grande maioria espíritas. Segundo Francisco Cândido Xavier, foi o
«metro que melhor mediu Kardec». Quanto mais lemos e estudamos a
sua vasta obra, mais confirmamos que foi o maior intérprete do pensamento do
Codificador. Foi, também, o grande defensor da pureza doutrinária, sempre, aqui
e ali, adulterada pela ignorância e leviandade humanas. Nesta rubrica iremos
publicar paulatinamente artigos que nos legou através da imprensa espírita do
grande país irmão. Artigos estes que confirmam, não obstante a sua simplicidade,
o que acabámos de dizer.

A Terceira Revelação – O Que é o Espiritismo

O Espiritismo é a última revelação divina recebida pelos homens, de acordo
com a promessa de Jesus no Evangelho de João: «E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco.»
(14:16).

Sua missão é guiar os homens à Verdade, restabelecendo o ensino do Cristo em
sua pureza primitiva e abrindo novos horizontes à compreensão humana da vida:
«Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando
vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a Verdade; porque não
falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas
que hão-de vir. Ele me glorificará, porque há-de receber do que é meu, e vo-lo
há-de anunciar.»
(16:12, 13 e 14).

Com Moisés, os homens receberam do Alto a I Revelação da realidade espiritual
da vida. Essa revelação, que foi reunida pelos hebreus na grande codificação da
Bíblia, sobrepunha-se a todas as formas religiosas do tempo, e conduziu o povo
hebraico à concepção do Deus Único. Mas na própria Bíblia encontramos o anúncio
da II Revelação, do advento do Messias, que se cumpriu com a vinda de Jesus,
oferecendo ao mundo a mais elevada forma de religião até então possível. E foi o
próprio Messias quem anunciou, como vimos no Evangelho de João, a III Revelação,
destinada a restabelecer os seus ensinos, que seriam deturpados pelos homens, e
a ampliação de acordo com as novas necessidades da evolução terrena.

A I e a II Revelações foram pessoais e locais, transmitidas por Moisés e
Jesus a um determinado povo: o hebreu, incumbido de transmiti-las aos demais
povos. A III Revelação não foi pessoal nem local, mas espiritual e universal. Os
espíritos a deram em todo o mundo, através de suas comunicações, e Allan Kardec
a codificou, como os hebreus codificaram a Bíblia e como os cristãos codificaram
o Evangelho. Os hebreus reuniram os vários livros escritos sobre a I Revelação,
e deles fizeram a Torah, ou a Bíblia, que hoje conhecemos. Os cristãos tiveram
de reunir os vários livros escritos sobre a II Revelação, ou seja, os relatos
dos quatro evangelistas, as epístolas e o Apocalipse, e com eles formar o
Evangelho ou Novo Testamento. Os espíritas, pelas mãos de Kardec, o missionário,
reuniram as comunicações mais esclarecedoras dos Espíritos do Senhor, que
constituíam a falange luminosa do Espírito da Verdade, e com elas formaram a
Codificação do Espiritismo.

Assim como a I Revelação foi rejeitada por muitos hebreus, tendo Moisés de
agir com energia para impô-la ao seu povo, e assim como a II Revelação foi
rejeitada por quase todo o povo hebreu, a ponto de Paulo precisar levá-la aos
gentios para que ela se difundisse no mundo, assim também a III Revelação foi
rejeitada por judeus e cristãos, sendo aceita apenas por uma minoria. E assim
como as igrejas judaicas da época chamaram Jesus de embusteiro e de instrumento
do Diabo, levando-o à condenação e ao suplício, assim as igrejas cristãs de hoje
chamam Kardec de embusteiro e o Espiritismo de instrumento do Diabo, tentando
aniquilá-lo. Mas assim como as duas primeiras revelações triunfaram, a terceira
também triunfará. Porque essa é a vontade do Pai, que está nos Céus.

(in «Diário de São Paulo», compilação da Editora Espírita Correio
Fraterno do ABC, São Bernardo do Campo, SP).