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A Psicografia no centro espírita

A psicografia é a técnica utilizada pelos médiuns para escreverem um texto sob
a influência de um Espírito desencarnado. Todos nós sabemos que no tempo em que
Allan Kardec teve contato com as manifestações espíritas, o meio utilizado para
a comunicação entre os dois planos eram as mesas girantes. Esse mecanismo constituía-se
de uma pequena mesa de três pés, sobre a qual se colocavam as pontas dos dedos de
duas ou mais pessoas. Sob o efeito de um agente até então desconhecido, influenciado
pela ação energética dos manipuladores, a mesa saltitava dando pancadas no assoalho.
Por meio dessas batidas convencionou-se um alfabeto e foi possível obter as primeiras
mensagens entre o mundo invisível e o visível.

Algum tempo depois, a imaginação dos adeptos dessa metodologia criou outros mecanismos
que facilitavam a comunicação dos Espíritos através dos médiuns. Dentre eles se
destacavam a cesta-pião, a mesa miniatura, as pranchetas e a cesta de bico.

A escrita obtida por esses instrumentos primários foi chamada mais tarde de “psicografia
indireta”. Após a fase primitiva, alguns experimentadores tiveram a idéia de substituir
as cestinhas pela mão do próprio médium, o que deu origem à “psicografia direta”
ou “psicografia manual”, utilizada até os dias de hoje.

O valor da Psicografia

“De todas as formas de comunicação, a escrita manual é a mais simples, a mais
cômoda e sobretudo a mais completa. Todos os esforços devem ser feitos para o seu
desenvolvimento, porque ela permite estabelecer relações tão permanentes e regulares
com os Espíritos, como as que mantemos entre nós. Tanto mais devemos usá-la, quanto
é por ela que os Espíritos revelam melhora sua natureza e o grau de sua perfeição
ou de sua inferioridade. Pela facilidade com que podem exprimir-se, dão-nos a conhecer
os seus pensamentos íntimos e assim nos permitem apreciá-los e julgá-los em seu
justo valor. Além disso, para o médium essa faculdade é a mais suscetível de se
desenvolver pelo exercício” (LM, item 178).

Por conta da importância das mensagens escritas, Allan Kardec afirma em O Livro
dos Médiuns, que todos os esforços devem ser feitos no sentido de desenvolvê-la.
Além disso, trata-se da mediunidade mais fácil de ser desenvolvida, pois que seu
mecanismo de sintonia é facilitado pelo automatismo proveniente do processo de escrita.

Quando uma pessoa está escrevendo, a mente consciente busca as idéias no inconsciente,
para ordená-las no fluxo criativo. Como a influência espiritual se dá na camada
inconsciente, isso facilita a sintonia com o Espírito comunicante. Quando se trata
de dar vida lógica e racional a um texto, é muito mais confortável escrever do que
falar. Por este motivo, os homens de destaque em nosso mundo preferem fazer seus
discursos públicos por escrito.

A mensagem escrita tem maior valor do que a falada, pois ela pode ter seu conteúdo
examinado de modo mais abrangente. Por ela é possível sondar a intimidade dos pensamentos
da entidade que se comunica, dando a eles um justo valor pelo conteúdo que encerram.

Os médiuns psicógrafos podem ser “Mecânicos”, os “Intuitivos”, os “Semi-mecânicos”
e os “Inspirados”.

Os médiuns mecânicos se caracterizam pelo fato de movimentar as mãos escrevendo
sob a influência direta dos Espíritos, sem interferência da própria vontade. Agem
como máquinas a transmitir do invisível para o mundo material. São raros. No Brasil,
destaca-se o trabalho de Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, MG.

“Quando o Espírito age diretamente sobre a mão, dá-lhe uma impulsão completamente
independente da vontade do médium. Ela avança sem interrupção e contra a vontade
do médium, enquanto o Espírito tiver alguma coisa a dizer, e pára quando ele o disser.

O que caracteriza o fenômeno, nesta circunstância, é que o médium não tem a menor
consciência do que escreve. A inconsciência absoluta, nesse caso, caracteriza os
que chamamos de médiuns passivos ou mecânicos. Esta faculdade é tanto
mais valiosa quanto não pode deixar a menor dúvida sobre a independência do pensamento
daquele que escreve” (LM, item 179)

Os médiuns intuitivos recebem as mensagens dos Espíritos desencarnados por meio
da sintonia psíquica direta entre sua mente e a do comunicante. Eles precisam compreender
o pensamento sugerido, assimilá-lo, para depois transmiti-lo revestido com suas
próprias idéias. São muito comuns.

“O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como um
intérprete. Para transmitir o pensamento ele precisa compreendê-lo, de certa maneira
assimilá-lo, a fim de traduzi-lo fielmente. Esse pensamento, portanto, não é dele:
nada mais faz do que passar através do seu cérebro. É exatamente esse o papel do
médium intuitivo” (LM, item 180).

Os médiuns semi-mecânicos são aqueles que sentem a mão ser movimentada, mas ao
mesmo tempo têm consciência do que escrevem. No primeiro caso, o pensamento vêm
após a escrita; no segundo, antes da escrita, e no terceiro, junto com ela.Os médiuns
semi-mecânicos são os mais numerosos.

“No médium puramente mecânico o movimento da mão é independente da vontade. No
médium intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo. O médium semimecânico
participa das duas condições. Sente a mão impulsionada, sem que seja pela vontade,
mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam.
No primeiro, o pensamento aparece após a escrita. no segundo, antes da escrita;
no terceiro. ao mesmo tempo. Estes últimos médiuns são os mais numerosos” (LM, item
181).

A última variedade de médiuns é a dos inspirados. O Livro dos Médiuns nos informa
que esse tipo de médium é uma variação dos médiuns intuitivos, com a diferença de
que nos inspirados é muito mais difícil distinguirmos o pensamento do Espírito,
daquele que é do médium.A mediunidade inspirada é proveniente da mediunidade generalizada
ou natural, que todas as pessoas possuem em maior ou menor grau.

“Todos os que recebem, no seu estado normal ou de êxtase, comunicações mentais
estranhas às suas idéias, sem serem, como estas, preconcebidas, podem ser considerados
médiuns inspirados. Trata-se de um variedade intuitiva, com a diferença de que a
intervenção de uma potência oculta é bem menos sensível sendo mais difícil de distinguir
no inspirado o pensamento próprio do que foi sugerido. O que caracteriza este último
é sobretudo a espontaneidade. (5)

Recebemos a inspiração dos Espíritos que nos influenciam para o bem ou para o
mal. Mas ela é principalmente a ajuda dos que desejam o nosso bem, e cujos conselhos
rejeitamos com muita freqüência. Aplica-se a todas as circunstâncias da vida, nas
resoluções que devemos tomar” (LM, item 182).

Quem pode ser médium psicógrafo?

Não há nenhum meio de diagnosticarmos a faculdade mediúnica a não ser o experimento.
Algumas pessoas confundem certos movimentos involuntários de braços e mãos, provocados
por Espíritos obsessores, como sendo indícios de mediunidade psicográfica, o que
têm levado algumas delas a sofrer graves decepções, escrevendo obras apócrifas.

A melhor maneira de sabermos se uma pessoa tem ou não capacidade para escrever
sob a influência ostensiva dos Espíritos é submetê-la à experiência.

Antes, porém, de iniciarmos alguém no exercício da psicografia ou de qualquer
outra mediunidade, convém que ele seja colocado no curso básico de iniciação espírita.
É importante que o candidato a médium já tenha noções fundamentais acerca do que
é o Espiritismo.

No Brasil, acostumou-se em demasia à mediunidade de psicofonia. Talvez o motivo
disso esteja ligado ao natural comodismo que cerca as atividades mediúnicas. Entre
nós não existe o salutar e necessário hábito de avaliar as comunicações, conforme
instruía Kardec. Os Espíritos manifestam-se e quase sempre não portam qualquer mensagem
de significativo conteúdo filosófico ou doutrinário.

Comunicam-se, às vezes, simplesmente para dizer: “Boa noite. Estou aqui para
trazer paz e conforto!”. Este tipo de mensagem se repete por sessões seguidas, sem
que o Espírito comunicante apresente qualquer idéia mais elevada. Mas as pessoas
se habituaram a isso e continuaram batendo na mesma tecla durante anos. É cômodo
e dá a impressão de que o médium está participando do trabalho mediúnico, quando
na verdade não está produzindo nada de útil. Allan Kardec recomendou que se desse
preferência ao desenvolvimento da psicografia, mas infelizmente não foi ouvido.

Como começar

Não há qualquer mistério para se dar início ao trabalho de psicografia. Basta
que se tome um lápis e se coloque na posição de escrever. De preferência, que este
trabalho seja desenvolvido no centro espírita onde a pessoa frequenta. O ambiente
residencial nem sempre oferece as condições de recolhimento suficientes para esse
tipo de trabalho. Essas atividades mediúnicas devem ter uma regularidade, pois de
outro modo não haverá o processo de aprendizado, seguido do aperfeiçoamento.

A seguir, vamos comentar algumas recomendações do Codificador, quanto ao exercício
da psicografia, que precisam ser observadas pelos grupos mediúnicos, mormente quando
estão iniciando.

  • Em primeiro lugar, é preciso se desembaraçar de tudo o que se constitua em
    impedimento para a movimentação das mãos. A ponta do lápis deve manter-se apoiada
    no papel, mas sem oferecer resistência aos movimentos. Mesmo a mão não deve se
    apoiar inteiramente no papel. Para a escrita mediúnica é indiferente que se use
    caneta ou lápis, sendo livre a escolha.
  • Kardec recomenda que no início o treinamento seja realizado diariamente. Porém,
    como temos hoje uma vida muito atribulada, convém que a freqüência seja diminuída
    para um período de uma a duas vezes na semana.
  • O tempo de tentativa para se obter a escrita mediúnica psicográfica não deverá
    ultrapassar seis meses. Depois dessa fase de experimentos, se a pessoa nada conseguir,
    ou se as mensagens vindas através dela não apresentar utilidade maior, convém
    abandonar o exercício da escrita e dedicar-se a outras tarefas na casa espírita.
  • Que a prece de abertura seja sempre feita em nome de Deus e dos bons Espíritos.
    É bom que o médium em exercício comece seu trabalho dessa forma: “Rogo a Deus
    todo poderoso permitir a um bom Espírito vir comunicar-se conosco, transmitindo-nos
    seus pensamentos. Rogo também a meu anjo guardião que me assista e que afaste
    de mim os Espíritos mal intencionados”.
  • A partir desse momento, aguarda-se que um Espírito se manifeste. Nos médiuns
    intuitivos, surgem idéias bruscamente, que podem ser passadas para o papel com
    facilidade. Nos semi-mecânicos, observa-se alguns pequenos movimentos involuntários
    das mãos, acompanhados ou não das idéias a serem transcritas. Há casos em que
    o Espírito desenha rabiscos sem sentido, ou escrevem palavras sem qualquer significado
    porém, tais coisas costumam cessar com o desenvolvimento progressivo da faculdade.
    Com o tempo, aparecerão escritos mais consistentes e que poderão ser analisados
    dentro da razão e do bom senso.
  • Quando formular as primeiras perguntas aos Espíritos, que elas sejam feitas
    de forma simples, de modo que a entidade comunicante possa respondê-las com um
    Sim ou Não. É importante que as perguntas sejam objetivas e respeitosas, demonstrando
    carinho ao Espírito que vem cuidar do exercício da faculdade. À medida que progride
    a mediunidade, as respostas serão mais objetivas e completas. Porém, sugere-se
    que esta prática seja feita depois de um certo tempo de treino, com cautela para
    que não seja porta aberta aos Espíritos brincalhões.
  • A reunião mediúnica de psicografia deverá ter o recolhimento necessário, atendendo
    todas as normas para o exercício da psicofonia, no que diz respeito à admissão
    de médiuns para a tarefa.
  • Normalmente, entre dez pessoas, três escrevem facilmente sob a influência
    espiritual. O desenvolvimento em grupo é muito mais rápido do que o individual.
    Isso acontece porque a corrente magnética formada pelas individualidades facilita
    as atividades mediúnicas e oferece aos Espíritos comunicantes uma grande variedade
    de elementos, apropriados ao sucesso do intento.
  • Que o iniciante seja informado que deve desenvolver o texto como uma espécie
    de redação sobre um assunto que julgar útil e que lhe surgir na mente naquele
    momento. Que ele não se preocupe tanto com a forma, nem com o que está escrevendo.
    O conteúdo dos trabalhos será examinado e revisado mais tarde pelo médium e pelo
    responsável da sessão.
  • A publicação de mensagens precisa de cuidados extras. Só se publicará textos,
    seja em forma de mensagens ou livros, quando eles forem considerados idôneos e
    úteis às pessoas em geral. A ortografia deverá ser corrigida, de modo que fique
    inteligível, cuidando-se, no entanto, para que não sejam modificados os pensamentos
    do Espírito.
  • É importante recordar que na fase primária de exercícios, os Espíritos comunicantes
    são de uma ordem menos elevada. Portanto, não se deve pedir a eles que dêem qualquer
    tipo de informação que não esteja a seu alcance. Todo Espírito que nas comunicações
    de iniciantes se enfeite com nome venerado é de origem suspeita. O capítulo XVII
    de O Livro dos Médiuns deverá ser estudado minuciosamente para se evitar o domínio
    dos maus Espíritos nas sessões de iniciação.
  • Importante observar que todo aquele que inicia seu treinamento de escrita
    com o preconcebido conceito de que tem uma missão nessa área ou então de que os
    Espíritos vão dirigir sua mão para escrever, terá grande possibilidade de ter
    sua tarefa fracassada, quer seja pela não evolução do processo, quer seja pela
    contaminação por Espíritos malfazejos e mentirosos. Os bons Espíritos agirão no
    campo mental do médium e levarão em conta sua boa disposição em servir, aliada
    à sua condição de moralidade. Dedicação, sinceridade, humildade, altruísmo e acima
    de tudo amor ao trabalho de Jesus são as marcas.

Conselhos kardequianos

  1. Nos casos de mediunidade semi-mecânica ou intuitiva, o médium tem consciência
    do que escreve. A princípio, é levado naturalmente a duvidar de sua faculdade. Não
    sabe se a escrita é dele ou do Espírito que comunica. Mas ele não deve absolutamente
    inquietar-se com isso e deve prosseguir, apesar da dúvida. Observando seus escritos,
    vai notar que muitas idéias que estão neles, não são suas. Com o tempo, ganhará
    confiança e a mediunidade triunfará.
  1. Nas primeiras sessões, quando o médium hesitar frente a um pensamento, sem
    saber se é dele ou do Espírito, ele deverá escrevê-lo. A experiência mais tarde
    lhe ensinará a fazer a distinção. Há situações em que é desnecessário saber se o
    pensamento é do médium ou do Espírito. Desde que produza boas obras, que é o que
    importa, deve agradecer seu guia oculto, que lhe sugerirá outras idéias.
  1. Os médiuns novatos, durante sua fase de aprendizado, não podem dispensar
    a assistência de dirigentes ou médiuns mais experientes. Espíritos inferiores costumam
    armar ciladas para prejudicar o desenvolvimento das faculdades mediúnicas dos interessados.
    Um médium presunçoso não demorará muito a ser enganado por entidades mentirosas
    que, no começo da tarefa mediúnica, costumam ficar à sua volta.
  1. Uma vez desenvolvida a faculdade mediúnica, aconselha-se que o médium não
    abuse dela. Que discipline seu trabalho e que ele seja sustentado pela ação no serviço
    ao próximo, pelo estudo, pela meditação e por preces constantes. A psicografia,
    assim como outras formas de prática mediúnica, deve ser utilizada somente em momentos
    oportunos e nunca por simples curiosidade ou interesse particular. O entusiasmo
    que toma conta de alguns novatos pode levá-los a ficar sob a influência de Espíritos
    mistificadores.
  1. É conveniente que o médium ou a equipe de médiuns tenham dias e horários
    especificados para realizar seus trabalhos mediúnicos. Isso facilitará o recolhimento
    e proporcionará aos Espíritos comunicantes melhores disposições para as manifestações.
  1. As mensagens destinadas ao grupo ou que sejam de interesse geral devem ser
    divulgadas para que os ensinamentos dos Espíritos tornem-se conhecidos. Os Espíritos
    amigos costumam afastar-se dos médiuns que não revelam as lições por eles transmitidas
    e os deixam entregues a entidades mistificadoras.

Texto de Allan Kardec – Revista Espírita, abril, 1864

“Sabe-se que os Espíritos, por força da diferença existente em suas capacidades,
estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade; que nem a todos
é dado penetrar certos mistérios; que seu saber é proporcional à sua depuração;
que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens e até menos que certos homens;
que entre eles, como entre estes, há presunçosos e pseudo-sábios, que crêem saber
o que não sabem, sistemáticos que tomam suas idéias como verdades; enfim, que os
Espíritos de ordem mais elevada, os que estão completamente desmaterializados, são
os únicos despojados das idéias e preconceitos terrenos. Mas sabe-se, também, que
os Espíritos enganadores não têm escrúpulos em esconder-se sob nomes de empréstimo,
para fazerem aceitas suas utopias. Disso resulta que, para tudo o quanto esteja
fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um pode obter têm um
caráter individual, sem autenticidade; que devem ser consideradas como opiniões
pessoais de tal ou qual Espírito, e que seria imprudente aceitá-las e promulgá-las
levianamente como verdades absolutas”.

“O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter,
sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta
com o bom senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que possuímos,
por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada”.