Na obra “Religião”, no derradeiro Capítulo, registra-se um substancial estudo
sobre a prece, estudo magnífico que o Dr. Carlos Imbassahy apóia na evidência
dos fatos por ele mesmo observados e trazidos ao conhecimento do público.
Um desses fatos é o que nos permitimos reproduzir, sem omissão de uma
vírgula. Ouçamos o beletrista baiano:
“Numa sessão, aliás teórica, falávamos sobre pontos evangélicos, quando uma
jovem presente toma o aspecto de louca furiosa e quer rasgar-se.
Depois, investe contra os assistentes. Houve pânico, que aumentou quando a
vimos querer atirar-se de uma janela.
Uns a seguravam; outros davam-lhe passes; outros traziam-lhe coisas para
cheirar; cada qual alvitrava um meio, todos inteiramente inúteis, todos
lamentavelmente ineficazes.
Fizemos que se retirassem os curiosos; e nós, cercado de um grupo de médiuns,
procuramos dar passes na possessa. Estes contribuíram para enfurecê-la ainda
mais; ela se lançava a nós, dizendo-nos impropérios, arranhava-nos,
esbofeteava-nos.
Já estávamos exaustos.
Os amigos entreolhavam-se pasmados, desanimados. Era preciso chamar uma
ambulância.
Mas seria o escândalo. Seria a confissão completa da falência de todos os
nossos processos.
As lágrimas vieram-nos aos olhos. Compreendemos, então, a extensão imensa de
nossas fraquezas. E apelamos para o Pai. E oramos.
E orávamos e chorávamos. Por que negar a nossa fragilidade? Éramos o
responsável pela reunião. Chorávamos e orávamos.
E quando um dos médiuns já ia descer as escadas em busca de socorro
psiquiátrico, diz a jovem, com voz mudada, com timbre masculino:
– Ah! Puderam mais do que eu, desta vez!
E se acalmou. Acordou. E perguntou-nos, sorridente, ingênua, ignorante de
tudo que se passara:
– Que foi? Que houve? …
Estava curada. Estava curada pela prece”.
O caso que acabamos de transcrever faz-nos lembrar o que se conta nos
Evangelhos, acerca de um moço possesso de um Espírito perverso, cujo genitor
suplicara a Jesus que o curasse, depois de o terem tentado, sem nenhum sucesso,
os próprios discípulos do Mestre de Nazaré.
Vendo estes que, a uma ordem de Jesus, o terrível obsessor deixara
imediatamente o jovem, que dantes vivia metido em correntes, como louco
indomável, aproximaram-se do Senhor, em particular, e indagaram:
“- Por que não pudemos nós expulsá-lo?”
“- Esta casta de Espíritos”, respondeu Jesus, “só se consegue expelir à força
da oração…”(Marcos, 9;14-29; Mateus, 17;14-21).
(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998)