Espiritismo e Memética
A causa da inteligência sempre intrigou cientistas e filósofos no correr da história,
e as respostas se perdem em um turbilhão de teorias e experiências reducionistas.
Somente no séc. XIX, exatamente em 1857, Kardec, o pensador profundo da Espiritualidade,
recebe uma resposta sem os coloridos materialistas, que até hoje continua satisfatória
pelo bom-senso e lógica dos Espíritos superiores:
“Espírito é sinônimo de inteligência?
A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem
num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.”
Lamentavelmente a ofensiva materialista na frieza do mecanicismo genético, dispara
seus dardos envenenados de reducionismo em todas as direções.
A memética começou a ser delineada com a obra do zoólogo e reducionista Richard
Dawkins, da Universidade de Oxford, considerada um best seller da divulgação científica,
publicada em 1976, com o título “O Gene Egoísta” que de lá para cá, é uma
referência para os especialistas do reducionismo extremado. Nessa obra Richard Dawkins
propõe o termo “meme”, originária do grego mimeme (imitação), que ele reduziu
a duas sílabas para rimar com gene.
Segundo o criativo Richard Dawkins se temos no gene uma unidade de informação
biológica, no “meme” teríamos uma unidade equivalente no campo cultural.
A seleção natural conserva ou separa os genes de geração em geração. Ora! Essas
seções de DNA têm um meta única, isto é, replicar-se. Daí que alguns cientistas
e filósofos darwinistas, resolveram propor o seguinte: se os genes produzem cópias
de si mesmos de geração em geração, as idéias também competem entre si para dominar
o maior número possível de cérebros. A conclusão que chegaram os cientistas meméticos
é estarrecedora, pois segundo eles, as grandes convicções ou os pequenos caprichos,
não são objeto de escolha consciente, mas sim, transmitidas por contágio. Parece
até filme de ficção científica!
Daí podemos dizer que o tal “meme” é uma espécie de vírus da mente, e para o
estudo teórico dos “memes”, foi criada uma disciplina científica (reducionista):
a memética.
Entre os meméticos entusiasmados está o antropólogo darwinista Robert Aunger,
da Universidade de Cambridge:
“É possível que existam centenas, milhares de memes em nossos cérebros, competindo
o tempo todo para determinar aquilo que fazemos”. Caramba!
Não satisfeito com esta declaração, continua ele:
“A expressão ‘livre-arbítrio’ não me agrada muito. Acredito que qualquer fenômeno,
inclusive nosso pensamento, remonta a alguma causa física”.
A ladainha catequética reducionista parece que não vai acabar nunca!
Um detalhe importante: A palavra “meme” foi incorporada ao conceituado Dicionário
de Inglês Oxford.
Não satisfeitos em reduzir a inteligência a uma porção de massa encefálica, ainda
querem nos tirar o livre-arbítrio! É como se quisessem tirar o mérito pelo acerto
e a responsabilidade pelo erro. Isto é simplesmente absurdo!
Na questão 121 de “O Livro dos espíritos” temos a lógica e bom-senso:
“Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?
Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não os criou maus; criou-os simples e ignorantes,
isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanto para o mal. Os que são maus assim
se tornaram por vontade própria.”
Na questão 843, não a margem para dúvidas descabidas:
“Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?
Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio,
o homem seria máquina.”
Temos duas alternativas: ficar com o bom-senso espírita, que prova que a inteligência
vem do Espírito ou nos afogarmos na materialidade sufocante de um reducionismo desesperado.
Se ainda assim ficou alguma dúvida na questão 844 os Espíritos voltam a esclarecer:
“Do livre-arbítrio goza o homem desde o seu nascimento?
Há liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo. Nas primeiras fases
da vida, quase nula é a liberdade, que se desenvolve e muda de objeto com o desenvolvimento
das faculdades. Estando seus pensamentos em concordância com o que a sua idade reclama,
a criança aplica o seu livre-arbítrio aquilo que lhe é necessário.”
Também não podemos esquecer da matéria, por isso vamos a questão 846:
“Sobre os atos da vida nenhuma influência exerce o organismo? E, se essa influência
existe, não será exercida com prejuízo do livre-arbítrio?
É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria, que pode embaraçar-lhe
as manifestações. Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do
que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não
dá a faculdade. Além disso, cumpre se distingam as faculdades morais das intelectuais.
Tendo um homem o instinto do assassínio, seu próprio Espírito é, indubitavelmente,
quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão. Semelhante
ao bruto, e ainda pior do que este, se torna aquele que nulifica o seu pensamento,
para só se ocupar com a matéria, pois que não cuida mais de se premunir contra o
mal. Nisto é que incorre em falta, porquanto assim procede por vontade sua.”
Não são os genes e nem tampouco os “memes” que controlam o homem, é o Espírito
que controla os genes ou os “memes”. Os genes são reais, os “memes” me parece fruto
da imaginação exaltada do zoólogo e reducionista Richard Dawkins.
E para finalizar temos que citar a questão 863, que analisa o papel dos costumes
sociais:
“Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a enveredar por um caminho
de preferência a outro e não se acha ele submetido à direção da opinião geral, quanto
à escolha de suas ocupações? O que se chama respeito humano não constitui óbice
ao exercício do livre-arbítrio?
São os homens e não Deus quem faz os costumes sociais. Se eles a estes se submetem,
é porque lhes convêm. Tal submissão, portanto, representa um ato de livre-arbítrio,
pois que, se o quisessem, poderiam libertar-se de semelhante jugo. Por que, então,
se queixam? Falece-lhes razão para acusarem os costumes sociais. A culpa de tudo
devem lançá-la ao tolo amor-próprio de que vivem cheios e que os faz preferirem
morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes leva em conta esse sacrifício feito
à opinião pública, ao passo que Deus lhes levará em conta o sacrifício que fizerem
de suas vaidades. Não quer isto dizer que o homem deva afrontar sem necessidade
aquela opinião, como fazem alguns em quem há mais originalidade do que verdadeira
filosofia. Tanto desatino há em procurar alguém ser apontado a dedo, ou considerado
animal curioso, quanto acerto em descer voluntariamente e sem murmurar, desde que
não possa manter-se no alto da escala.”
Diante da sabedoria dos Espíritos superiores só nos resta silenciar e esperar
que um dia a ciência encontre as raízes espirituais na profundidade da vida.
Bibliografia:
- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, tradução de Guillon Ribeiro, 76ª edição,
FEB. - Revista Super Interessante, Edição 192, Setembro de 2003, O DNA das Idéias,
pág. 67