Espiritismo e Mediunismo
Muitos confundem o mediunismo em si com o Espiritismo, e a falta de um
conhecimento mais profundo sobre o assunto, leva muitas pessoas a atribuírem ao
Espiritismo codificado por Allan Kardec, práticas mediúnicas de natureza mística
realizadas por outras religiões.
O Espiritismo não criou a mediunidade, visto que esta foi registrada nas mais
longínquas épocas da humanidade, por diversas civilizações e povos da
antigüidade.
Poderíamos mesmo afirmar, que Espiritismo e mediunismo são duas coisas tão
distintas como água e vinho e que a parte científica do Espiritismo se propõe a
estudar o fenômeno mediúnico e o seu aspecto evangélico visa discipliná-lo,
canalizando-o para o bem.
Através da história, podemos constatar que o Alto sempre procurou auxiliar o
homem em sua jornada evolutiva através da mediunidade, e podemos verificar
exemplos disso quando Moisés sobe ao Monte Sinai e recebe de Jeová os dez
mandamentos, que eram dez regras para que um homem convivesse bem com o outro;
ou quando Joana D’Arc – a Donzela de Orleans – ouve vozes exortando-a à tomar a
frente dos exércitos de Carlos VII e libertar a França; e mais recentemente na
avalanche de fenômenos paranormais que invadiu a Europa no século passado,
chamando a atenção do então professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, redundando
na codificação do Espiritismo.
Ao longo dos séculos, os fenômenos mediúnicos nem sempre foram encarados com
naturalidade pelos homens e autoridades religiosas, e muitos médiuns no passado
acabaram ardendo nas fogueiras, taxados de hereges e bruxos.
O fenômeno mediúnico existe e não há como tapar o sol com a peneira, pois não
teria cabimento que milhares de médiuns no mundo inteiro se reunissem uma vez
por semana em seus núcleos espíritas simplesmente para fingir. E mesmo que assim
fosse, porque as gerações que sucedem estes médiuns continuariam sustentando a
mesma farsa?
Ao invés de se ignorar a questão, o homem deve compreender que a mediunidade
deve ser direcionada para o bem, para o progresso do ser humano.
Alguns religiosos pregam uma proscrição da mediunidade, baseando-se no
capítulo 18 do Deuteronômio, versículo 10 e 11, onde Moisés afirma: “Não se
achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem
adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador,
nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os
mortos; (…)”
O legislador hebreu tinha sob a sua responsabilidade um povo ignorante e
indisciplinado, e por isso achou por bem proibir o intercâmbio mediúnico devido
aos abusos que eram praticados na utilização deste. Agora perguntamos: alguém
proíbe uma coisa que não existe?
O Espiritismo ensina que um médium não é um oráculo ou um adivinho e que a
energia medianímica deve ser mobilizada em favor da sublimação individual e
coletiva da espécie humana.
Quando o Espiritismo chegou ao Brasil, na segunda metade do século XIX, os
escravos já praticavam ritos mediúnicos, o que deu origem a umbanda. Daí
conclui-se que médiuns não existem apenas dentro da Doutrina Espírita.
Algumas pessoas, por exemplo, confundem o Espiritismo com a Umbanda, porque
alguns grupos umbandistas assimilaram elementos do Espiritismo, dando origem à
chamada Umbanda de mesa e a Umbanda de salão, onde os pontos dos orixás,
atabaques e jogos de búzios foram substituídos por sessões de passes e consultas
aos espíritos através de médiuns.
Denominações como Espiritismo de terreiro, Espiritismo de mesa branca, e
mesmo Espiritismo Kardecista são errôneas, pois Espiritismo foi um neologismo
criado por Kardec para designar a doutrina codificada por ele e os vocábulos
Espírita ou Espiritista são neologismos para denominar os profitentes de tal
doutrina.
Mas a má-fé de alguns ainda teima em continuar associando o Espiritismo com
práticas mediúnicas esdrúxulas, magia negra e feitiçaria.
Em 1943 criaram a portaria n.º 10.194, que proscrevia a prática do
mediunismo, visando a proibição de toda e qualquer forma de manifestação
mediúnica. O que amparou o Espiritismo naquela época foi um dispositivo
constitucional que consistia na livre adoção religiosa.
Tentou-se até excluir o Espiritismo do quadro das religiões no censo
demográfico, mas graças aos esforços de confrades como Carlos Imbassahy, que era
então membro nato do Conselho de Geografia e Estatística, como Secretário de
Estatística Econômica e Financeira do Ministério da Fazenda, conseguiu-se a
duras penas que o Espiritismo fosse mantido no rol das religiões. E finalmente
no recenseamento feito em 1950, o Espiritismo foi incluído entre os diferentes
cultos religiosos.
As concepções do Estado sobre a realidade são empíricas e racionais, pois à
partir da experiência, capta-se a informação para então demonstrá-la pela razão.
É por isso que em 1945, quando o então presidente da Federação Espírita
Brasileira, A. Wantuil de Freitas, e Francisco V. Rocha, Tesoureiro,
acompanhados do presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, Roberto
Michelena, foram à presença do Ministro João Alberto, chefe de polícia do DNSP,
e apresentaram uma defesa demonstrando que a prática mediúnica realizada pelos
Centros Espíritas não fazia mal a ninguém, levou o mesmo a revogar a malfadada
portaria e com ela as anteriores, deixando a prática mediúnica livre de qualquer
constrangimento policial.
Alguns religiosos tinham o Espiritismo como algo pernicioso à sociedade e se
esforçavam ao máximo em tudo fazer para expatriá-lo do Brasil.
Não dá para entender como algumas pessoas que pregam fazer aos outros o que
gostariam que os outros lhes fizessem, adotem comportamentos tais, e é por causa
destas atitudes que muitas pessoas não acreditam na religião, vendo nos
religiosos apenas pessoas que usam um rótulo religioso.
A mediunidade é um patrimônio que todos possuem, em menor ou maior grau. Ela
auxilia-nos a compreensão para um mais amplo discernimento da realidade. Por ela
o homem recolhe informes diversos quanto à lei das compensações,
possibilitando-o equacionar aflitivos problemas do ser, do destino e da dor;
através dela os espíritos patentearam aos homens que temos muitas vidas, que
habitamos muitos corpos, e que os espíritos percorrem uma escala, sendo a vida
terrena apenas o elo de uma cadeia infinita rumo à perfeição.
O Espiritismo não pode ser responsabilizado por práticas mediúnicas
esdrúxulas e escândalos envolvendo médiuns, porquanto dentro da Doutrina
Espírita a mediunidade é tratada sob a ótica evangélica, pois o Espiritismo só
admite o seu uso para fins de ajuda a enfermos dos dois lados da vida.
Da mesma maneira que a energia elétrica exige trabalho do homem com o fim de
usá-la a benefício da civilização, assim também a mediunidade deve ser
canalizada para o bem, pois em si mesma é uma faculdade amoral.
O próprio Jesus esteve em contato incessante com as inteligências invisíveis,
onde levantou doentes, conversou com Moisés e Elias materializados no monte
Tabor e voltou ao convívio dos discípulos depois do flagelo na cruz –
demonstrando que ninguém morre – em sua sublime condição de “médium de Deus”.
BIBLIOGRAFIA:
- A Bíblia em Cd-Rom – Antigo e Novo Testamento. Versão Shammah.
- Almanaque Abril, 2.ª edição 1995 – Estrutura das Religiões.
- IMBASSAHY, Carlos de Brito – A Parte Religiosa do Espiritismo. Revista
Reformador, dezembro de 1991. - LUIZ, André. Nos Domínios da Mediunidade, 25ª ed. FEB.
(Jornal Verdade e Luz Nº 173 de Junho de 2000)