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A Cura Definitiva

A Cura Definitiva

O Espiritismo caminha a passos largos para o cumprimento de seu desiderato na
Terra. As idéias propostas na lucidez do pensamento Kardequiano granjeiam novos
adeptos, transformando as acanhadas fileiras vitimadas pelas perseguições do
passado em multidões de seguidores que quase dão um caráter de modismo ao
movimento espírita.

Entretanto, os anseios imediatistas ainda povoam as mentes desprevenidas que
esperam encontrar curas miraculosas ao abraçar a crença religiosa.

Lembramo-nos da pergunta de Pedro a Jesus, diante da decepção do jovem rico:
“Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?” (Mt 19-27), e
sentimos que, na verdade, ela encontra eco nas expectativas de uma larga legião
dos modernos cristãos. Para muitos, o Espiritismo continua a ser a mesma tábua
de salvação buscada em outros caminhos, onde todo o mal e toda a dor deveriam
desaparecer.

Certa feita, ouvimos uma discussão acirrada, em uma casa espírita que
visitávamos, sobre se o Espiritismo cura. Ainda hoje acreditamos ser polêmica
essa questão, mas que se define na medida em que constituamos o que se entende,
ou melhor, se espera por cura.

Se falamos da cura do corpo, certamente que não. Quem cura são os médiuns
curadores, os serviços de passe, a água fluidificada, que utilizamos nos centros
espíritas, mas que não são A Doutrina Espírita. São explicados e aplicados por
ela, sem que dela se constituam postulado fundamental.

Postulados espíritas são a existência de Deus, a imortalidade da alma, a
reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados, a comunicabilidade entre os
vivos e os chamados mortos. Muitas práticas estão incorporadas às atividades
espiritistas por serem correlatas com a sua doutrina, contudo não compreendem
uma ideologia, apesar de nela serem elucidadas.

Agora, se falamos da cura da alma, do espírito imortal, nenhum receituário
jamais enunciou tantos medicamentos que nos libertassem do sofrimento. Na medida
em que esclarece as leis da vida, e sua relação prática com o cotidiano, prepara
o retorno ao estabelecimento da saúde espiritual, em toda sua plenitude. Não de
inopino, é claro, já que o tempo de recuperação sempre estará ligado ao grau de
comprometimento com o erro e ao esforço por se modificar em função da
responsabilidade que se adquire com o saber. Dez anos, cinqüenta anos, duas
encarnações, não se sabe. Velho provérbio budista afirma que “se não for em sete
dias, ou em sete anos, será em sete reencarnações”. Como conseqüência do
aprimoramento espiritual, as doenças do corpo, que são reflexos das imperfeições
do espírito, deixarão de existir, e este encontrará também a saúde.

A diferença está em que enquanto os serviços de passe, os médiuns curadores,
a água fluidificada, objetivam atender ao corpo, físico ou espiritual,
beneficiando-lhe mas sem imunizá-lo contra a recidiva, a aplicação do pensamento
espírita reformula a própria postura do espírito diante da vida, e, como nele se
alojam as matrizes primárias das enfermidades, a cura será definitiva.

Como dissemos alguns parágrafos atrás que, se falamos do corpo, certamente o
Espiritismo não o cura, acho que acabamos nos contradizendo.

Talvez a Doutrina Espírita cure mesmo. Talvez seja ela a tábua de salvação
para as dores do mundo. A questão continua a ser o que na verdade queremos
curar; o que precisamos curar. Quanto tempo estamos dispostos a esperar. Quanto
sacrifício nos dispomos a doar. E saber, por fim, se queremos a felicidade
transitória do mundo ou a paz dos bem-aventurados com Jesus.

(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 1997)