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O poder da fé

A constatação da falta de fé reinante em todos os níveis da vida é um
facto de observação diária para qualquer pessoa que se preocupe com o estado
actual da humanidade. Falamos não somente da fé divina, mas também da fé humana.

Chegou-se a um tal estado de desânimo, de pessimismo, de descrença das
potencialidades da criatura humana, que a maior parte das pessoas não acredita
em si própria. Surgem dúvidas quanto à eficácia da bondade e caridade face ao
domínio das trevas; qual a utilidade da labuta diária, tantas vezes feita de
renúncias e sacrifícios, quando o futuro se apresenta sombrio e inatingível,
devido em grande parte às ideias divulgadas pelos profetas da desgraça, que se
comprazem em baixar o nível moral e mental de todos os que deles se aproximam;
que gosto ou estímulo dá a observação diária dos noticiários do mundo que só
apresentam desgraças, crimes, violências, sem que as notícias boas compensem as
más (não se faz aqui a apologia de ignorar o estado do mundo só porque ele é
desagradável, mas a simples verificação de que o que vende mais é a notícia
triste e macabra).

Estamos, é certo, no “fim dos tempos” preditos por Jesus e por todos os
profetas antes e depois dele. Mas, reconhecer isso é sinónimo de cruzar os
braços e desanimar? Não! Definitivamente não. É agora que nos cumpre trabalhar
mais e melhor, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para levantar a moral
da humanidade. E aí cabe um importante papel ao espiritismo como Consolador
prometido e ao movimento espírita em particular. É agora o momento ideal para
informar as pessoas, não que chegou o “fim dos tempos”, mas que se avizinha uma
nova era que está ao nosso alcance e em que todos somos chamados a colaborar.

Para mudar este estado de coisas é preciso que o ser humano tenha fé em si
próprio. Qualificando a fé como o sentimento inato no homem sobre o seu destino,
vemos que ela não se impõe, mas que todos podem adquiri-la em maior ou menor
proporção, desde que se mentalizem capazes de uma vontade de querer e acreditem
que essa vontade pode realizar-se. Era isto que Jesus referia ao dizer aos
apóstolos: “Gente de pouca fé, porque na verdade vos digo que se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá; e ele
há-de passar, e nada vos será impossível (Mateus, XVII, 14-19).

Todos temos que acreditar nas nossas próprias forças para vencer as
dificuldades, para “mover as montanhas” da indiferença, da angústia, da má
vontade, da rotina, das paixões inferiores. A fé traz-nos paciência, calma e o
discernimento necessário para enfrentar o futuro, por mais incerto que se
apresente. Esta é a fé humana de que precisa toda a criatura.

Se a esta juntarmos a fé divina, que é a alavanca do progresso da humanidade,
chegaremos à fé que realiza milagres. Actualmente acreditar em milagres não faz
mais sentido, desde que a ciência, principalmente o magnetismo, tem vindo a
explicar as leis naturais por que se regem esses factos prodigiosos. Também aí é
ainda a fé que, aliada à acção magnética, age sobre o fluido que é agente
universal, princípio e causa de todas as coisas.

Quem melhor que Allan Kardec estudou esses fenómenos do magnetismo e que o
levaram a concluir: “Eis porque as pessoas que aliam uma fé ardente a uma grande
potência fluídica normal podem, pela simples vontade dirigida para o bem, operar
esses fenómenos estranhos de cura que antigamente eram considerados prodígios,
quando são apenas a consequência de uma lei natural (em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, cap. XIX). Desde que se conheça as leis naturais que regem todos
os actos da vida, explicando e compreendendo-os, deixa de haver milagres, porque
os factos como tal qualificados hoje terão a sua explicação lógica na ciência de
amanhã.

A fé é humana e divina. Se todas as pessoas tivessem consciência da força que
trazem em si mesmas e se estivessem dispostas a colocar a sua vontade ao serviço
dessa força, seriam capazes de operar prodígios que mais não são que o
desenvolvimento harmónico e equilibrado das faculdades humanas. Qualquer ser
humano que esteja disposto a agir, trabalhando com vontade séria para o bem dos
outros, será sempre secundado e ajudado pelos bons espíritos que se preocupam
com o destino da humanidade.