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Os Expoentes da Codificação Vicente de Paulo

A aldeia se situa no sul da França, quase na divisa com a Espanha. Chama-se
Pouy, e a família leva o sobrenome De Paulo. Vicente é o terceiro entre os seis
filhos do casal João de Paulo e Bertranda de Moras. O ano é 1581.

A família possui terras e um rebanho de vacas, ovelhas e porcos. Vicente é
encarregado de levar o rebanho a pastar e, seu olhar se perde na contemplação da
natureza. Cedo, nele se manifestam a inteligência aguda, o olhar observador, o
espírito vivo, o coração generoso e sincera devoção a Maria, o que motiva que os
pais o encaminhem aos estudos eclesiásticos, ordenando-se sacerdote aos 19 anos.

Para poder freqüentar os estudos, o jovem estudante dá aulas particulares aos
filhos de um juiz em Pouy, o sr. Commet, pois que seu pai não tem condições para
ajudá-lo.

Mais tarde, em Tolosa, leciona aos filhos de algumas famílias da nobreza, a
fim de manter os seus estudos de Teologia e a estadia, merecendo o título de
bacharel, pela Universidade, no ano de 1604.

No ano 1610, a rainha Margarida, ex-esposa do rei Henrique IV, admite Vicente
entre seus esmoleres, ou seja, encarrega-o de distribuir as esmolas. Afetuoso,
visita os doentes, abranda as desavenças, dissipa as dúvidas, instrui na fé os
empregados e a todos presta incontáveis serviços.

Contudo, Vicente vive no mundo dos grandes e dos ricos. Esmoler da rainha
Margarida e protegido da senhora De Gondi, até o dia que opta por se dedicar à
instrução e ao serviço dos camponeses, sendo-lhe designada a paróquia de
Châtillon, uma das mais problemáticas e desleixadas da região.

Num domingo, ele recebe as notícias de uma família miserável que está a
morrer. Estão todos doentes. Instados pelo seu sermão, os paroquianos se dirigem
à casa da família e prestam auxílio.

O cérebro de Vicente fervilha: “Eis aqui uma grande caridade,” pensa,
“mas está mal organizada.”

Idealiza, portanto, a criação de uma Associação, e, no dia 20 de agosto de
1617, com sua iniciativa nasce uma associação de mulheres, com o objetivo de
visitar, alimentar e prestar aos enfermos todos os cuidados indispensáveis: a
Confraria da Caridade. As pessoas que a compõem chamam-se Servas dos Pobres ou
Damas da Caridade.

Em 1620, Vicente institui a Caridade dos Homens. As mulheres se dedicam aos
doentes, os homens devem se dedicar aos velhos, viúvas, órfãos, prisioneiros.

Homem de visão, Vicente de Paulo orienta as Confrarias , incentivando a
organização de cooperativas agrícolas, ensinando novos métodos de cultivo da
terra, implantando, nas cidades, pequenas manufaturas para produzirem objetos de
uso na região e, finalmente, criando centros de aprendizagem onde as crianças
indigentes possam receber educação cristã e aprender uma profissão, a fim de
tirá-las à miséria.

Tendo estabelecido diretrizes à assistência aos camponeses, um novo campo se
lhe abre. Ele é convidado a trabalhar junto aos condenados às galés. São
criminosos e delinquentes, que vivem amontoados em calabouços infectos,
acorrentados pelo pescoço e pelos pés, cheios de vermes, revolta e desesperança.

Como poderia Vicente lhes falar das coisas espirituais? Necessário é lhes
melhorar as condições, pois apodrecem vivos. O alimento é pão preto, a água é
semipoluída e os golpes de chicote são constantes.

Interfere Vicente junto ao general das galeras, Manuel de Gondi e consegue
realizar sensíveis mudanças. Oferece-lhes cuidados corporais, distribui alimento
entre eles, consola-os, fala-lhes de Cristo e do Evangelho, chama-os de “meus
filhinhos”.

Vicente ama. Por isso, mostra-se incansável na descoberta das misérias
humanas de ordem material e espiritual, estendendo socorro pessoalmente e ou
enviando as Damas da Caridade a hospitais, prisões, asilos, escolas, às ruas.

Amigo de Francisco de Sales, bispo de Genebra (Suíça), decide fundar uma
Companhia que tenha por herança os pobres e que se dê inteiramente aos pobres, o
que se concretiza em 1625.

Vicente é mestre na arte de conquistar corações. Consegue apoio de muitos
nobres e ricos para atender os seus pobres. Tem amigos como a rainha Ana da
Áustria que lhe manda ajuda material durante o longo período da guerra, que
assolou a França, sustenta a obra das crianças expostas (abandonadas) ; Maria,
duquesa de Aiguillon, que o auxilia em todas as suas obras caritativas; o rei
Luís XIII, que visita e assiste os doentes, apoia e incentiva com bens materiais
inúmeras obras vicentinas; Luísa de Marillac, que se torna excepcional
trabalhadora, visitando e coordenando as diversas Confrarias da Caridade
espalhadas ao redor de Paris.

Desde os 35 anos de idade, Vicente conhece o trabalho da doença em sua
própria carne. As pernas e pés incham. Chegará um tempo, 1645, em que já sente
dificuldade para se manter a cavalo, para a realização das suas viagens.

Aos 74 anos necessita ficar encerrado por longos dias em seu quarto, enquanto
a febre se instala em seu corpo. Com dificuldade e o auxílio de uma bengala,
consegue dar alguns passos. Contudo, dotado de indomável energia, ele profere
palestra, todas as manhãs aos seus discípulos, demonstrando serenidade e
lucidez, apesar das dores atrozes que o atormentam.

Diante da morte iminente, brinca: “Em breve enterrarão o miserável corpo
deste velho, e se transformará em cinzas e o pisarão com os pés.”

Então, em 27 de setembro de 1660, antes que o sol se levante, sentado numa
poltrona, perto do fogo, Vicente desencarna.

Era um pouco antes das cinco horas da manhã, hora em que habitualmente
Vicente se punha em oração.

Os pobres, mais do que ninguém, lastimam a morte do seu benfeitor e amigo,
seu pai.

Referindo-se a ele, o espírito de Francisco de Paula Vítor, pela psicografia
de Raul Teixeira, escreve: “Verdadeira luz a brilhar, no seio do séc. XVII,
seus exemplos de dedicação e fidelidade ao Mestre Jesus contagiam inumeráveis
corações que, depois dele, investem tempo e vida aos serviços portentosos em
prol da instalação do reino dos céus na Terra.”

E esta figura ímpar, se faz presente como um colaborador do Consolador
Prometido, assinando as respostas às questões de número 888, 888a em
O livro dos espíritos, onde igualmente assina, junto com outros espíritos
eminentes, Prolegômenos; nas mensagens de nº XX e XXVI do cap. XXXI de O
Livro dos Médiuns
e o item 12 , do cap. XIII de O evangelho segundo o
espiritismo.
Nesta mensagem, especialmente, é que derrama o perfume do seu
coração, externando: “A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de
salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador (…)”

Fonte: Duarte, Luiz Miguel. Vicente de Paulo, servidor dos pobres. Ed.
Paulinas.
Teixeira, J. Raul/espírito de Francisco de Paula Vítor. Ed Fráter. cap. 8.