“Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más
inclinações?
Sim, e, freqüentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe
falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”
(questão 909 de “O Livro dos Espíritos”, a obra basilar do Espiritismo).
Como é verdadeiro o texto aqui reproduzido!
Com efeito, salvo raras e honrosas exceções, falta-nos a vontade. A vontade
que aqui pode ser entendida como a disposição, combinada com a disciplina, com a
firme determinação.
Os esforços serão pequenos, insignificantes mesmo.
Por exemplo, se ainda temos a tendência de falar mal dos outros, tratemos de
eliminar a maledicência de nossas vidas, conscientizando-nos de que este
comportamento, além de reprochável, em nada auxilia; procuremos enxergar e
enfatizar o lado positivo, as qualidades dos outros, com o que, com esse pequeno
esforço de impor silêncio sobre esta nossa má inclinação, estaremos, pela
continuada repetição, criando novo e salutar hábito, em nosso próprio favor e
também em favor dos outros, alterando, para melhor, a nossa educação. Afinal,
como bem o definiu Allan Kardec, o ínclito Codificador da Doutrina Espírita,
“A educação é o conjunto dos hábitos adquiridos“ (encontrável na nota
lançada depois da resposta à pergunta 685 de “O Livro dos Espíritos”).
Exige pequeno esforço, por igual, a introdução do uso da gentileza e da
cortesia em nosso dia-a-dia.
E o esforço, no caso, ficará adstrito praticamente ao controle pessoal, para
que nos coloquemos, nas mais diversas situações e circunstâncias, sempre depois
dos outros, porque, em verdade, ser gentil e cortês não custa nada.
Não custa nada e, no entanto, produz excelentes resultados, haja em vista que
não há criatura que não aprecie a gentileza e a cortesia.
De outra parte, não será grande o esforço exigido para a aplicação da
tolerância em nosso cotidiano, particularmente no que se refira à tolerância
sobre as imperfeições alheias, sobretudo se bem usarmos o raciocínio.
Como sabemos, a Terra é um planeta de provas e de expiações e, portanto, de
categoria inferior no Universo, superando apenas os chamados mundos primitivos.
Assim, os seus habitantes ainda são imperfeitos e nela também ainda prevalece
o mal, razão pela qual quem procurar a perfeição na Terra, no estágio em que ela
se encontra atualmente, estará procurando o impossível…
É claro que a todos nós compete, não obstante, a busca diária do
aperfeiçoamento, do crescimento, do progresso intelectual e moral, uma vez que o
nosso planeta é uma verdadeira escola, onde todos nos encontramos matriculados
para aprender, muito aprender.
Logo, se todos somos imperfeitos, cabe-nos tolerar os defeitos alheios para
que, no mínimo, os outros tolerem os nossos defeitos, que, aliás, não são
poucos…
Por outro lado, a razão também indica que o esforço não será grande para que
passemos a ter bom humor, com a eliminação das queixas, das reclamações, em
nossa vida.
Ora, o mau humor e as queixas não resolvem qualquer problema, nenhuma
dificuldade, até porque, se resolvessem, o seu uso seria altamente indicado,
insistentemente recomendado.
Ademais, as queixas, as reclamações, não conquistam nem mesmo a simpatia de
quem nos está ouvindo, como muito bem o adverte a aguda observação de André
Luiz, Espírito, no pequeno-grande livro intitulado “Agenda Cristã”.
O mesmo pode ser dito do mau humor. Se ele resolvesse, deveria ser usado e
até mesmo dele se deveria abusar, como nova panacéia dos tempos modernos.
Entretanto, o mau humor afasta as pessoas do nosso convívio, e o convívio,
especialmente o bem-conviver, é uma arte.
A rigor, a rigor, o Espírita não deveria ser mal-humorado, quando menos
porque sabe de onde veio, o que aqui está fazendo e para onde vai, além de
conhecer, de cor e salteado, que nada acontece por acaso e que há forte razão
para as dificuldades pelas quais esteja passando, de qualquer ordem, mesmo que
gravíssimas, já que as Leis Naturais são perfeitas e, por isso mesmo, não sofrem
alteração, não havendo, na Criação, privilégio de qualquer espécie a quem quer
que seja.
Bem ao contrário, o Espírita deveria ser alegre e muito grato pela excelente
oportunidade de que desfruta, uma vez mais, pela via da reencarnação, de poder
ajustar e reajustar contas, de poder corrigir erros, males e equívocos, e seguir
aprendendo e evoluindo sempre, na busca permanente da perfeição relativa e da
felicidade suprema, destino final dos seres humanos.
Por fim, deveria o Espírita ter sempre presente em seu dia-a-dia a
recomendação contida na obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo XVII,
página 276, 111ª edição, FEB, 1995, assim lançada: “Reconhece-se o
verdadeiro Espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más“.
Essas brevíssimas considerações, que poderiam ser acrescidas de outros tantos
e inúmeros exemplos de pequenos esforços ao nosso alcance, pretenderam
demonstrar que todos nós, independentemente de condições financeiras, étnicas,
culturais, sociais, profissionais, etc., estamos em condições de melhorar
sempre, começando ou recomeçando, fazendo apenas insignificantes esforços, com o
que, e até mesmo sem que muitas vezes o percebamos, estaremos contribuindo para
a harmonia e o equilíbrio das relações humanas, sem contar a melhoria que
seguramente advirá ao ambiente em que nos encontrarmos.
E, é por demais evidente, os primeiros e maiores beneficiários desses
esforços e dessa melhoria seremos nós mesmos.
Aquele que pratica o Bem, que se torna útil ao semelhante e que, sobretudo, o
ama como a si mesmo, só pode ser beneficiado!
Antônio Moris Cury, advogado,
procurador do Município de Curitiba.
(Jornal Mundo Espírita de Dezembro de 1999)