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Assim é, se lhe parece

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Enéas Canhadas

Esta frase é de autoria do célegre escritor Italiano, prêmio Nobel de literatura em 1934, Luigi Pirandello (1867-1936), autor de contos, romances e peças de teatro. Algumas de suas obras foram transpostas para o cinema. Seus livros mais conhecidos são O falecido Matias Pascal, seis personagens à procura de um autor e Assim é, se lhe parece, comédia em três atos que discute a busca da verdade. A frase passou a ser usada para encerrar uma discussão.É claro que, ao encerrar uma discussão, e dizer essa frase, aquele que pronunciou deu-se por vencido, ou não quer discutir mais. É provável também que um teimoso insistiria em não dizê-la. Exatamente para não parecer que foi vencido com facilidade, ou que não lutou o suficiente. Também é preciso lidar com o orgulho dentro de nós para chegar a dizer assim é, se lhe parece!

O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo IX sob o título “Bem Aventurados Aqueles que são Brandos e Pacíficos”, nas instruções dos Espíritos, dá interessantes interpretações aos termos obediência e resignação. Explicando que a obediência é o consentimento da razão e a resignação é o consentimento do coração. Como o próprio espírito comunicante explica, ambas são forças ativas carregando em si as provas e os aprendizados que a revolta geralmente contém. Podemos acrescentar também que tais forças fazem emergir do fundo da nossa alma, ainda em desenvolvimento e com muito a descobrir, o egoísmo, o orgulho e muitas das fantasias que a nossa mente pode produzir a partir do que ambicionamos.

A obediência não será obediência na medida em que for apenas o respeito a uma ordem estabelecida ou a uma lei implantada. O pensador francês André-Comte Sponville explica que se houver amor não será necessário a lei, portanto a lei se aplica especialmente quando não há amor. Certa vez ouvi de um consultor de empresas que os homens precisam aprender a negociar porque não confiam uns nos outros. Houvesse confiança irrestrita e as pessoas não precisariam negociar, pois as propostas de barganha seriam honestas, justas e procurariam proporcionar uns aos outros ofertas que realmente pudesse interessar para ambas as partes que realizam um negócio. Imagine você que uma das regras de negociação é oferecer ao outro algo que “me seja possível oferecer, esteja dentro das minhas possibilidades e recursos” mas que tenha real valor e proveito para a outra parte e vice-versa. Pois bem, quando seremos capazes de agir assim ao realizar um negócio vantajoso para ambas as partes? A resignação não pode ter o consentimento do coração quando este não compreende um sentimento que o desagrade ou que não realiza seus mais íntimos e secretos desejos. Costumo lembrar às pessoas que o coração obedece o cérebro quando prevalece a razão, quando estão de fora os sentimentos apaixonados e os impulsos. No entanto, quando há paixão e grande apego aos sentimentos, o coração não obedece o cérebro e as nossas ações são movidas pelos chamados impulsos inconscientes, cujas consequências só serão reconhecidas e administradas depois dos acontecimentos.

Os princípios morais da obediência e da resignação transformam-se em comportamentos naturais quando o Espírito já apresenta certo equilíbrio dos seus impulsos e dos princípios éticos que lhe dão a consciência de quanto os seus atos interferem na realidade onde ele vive.

A obediência compreende a compreensão (redundância proposital) de que se vive, em todos os atos da vida humana, uma condição de habitar uma comunidade e em condição de saber o que deve ser feito. Viver em comunidade, poderia então, se assim fosse, constituir um cenário natural para que os nossos atos mostrassem que viver em sociedade é fazer parte de um eco-sistema social cujas ações tem interpenetrações e interdependências desde as mais sutis até as mais simples, toscas e óbvias.

A obediência seria naturalmente substituída por uma compreensão mútua de princípios que nunca chegariam a ferir alguém para que as pessoas pudessem perceber limites transpostos. Se naturalmente não pisássemos na grama como condição de respeito e convivência pacífica, de preservação da natureza e manutenção do bem estar de todos, não chamaríamos a isso de obediência, mas sim de respeitosa empatia.

A resignação nem precisaria ter esse nome se a capacidade de esperar ou portar-se com humildade profunda como nos ensina Amit Goswami, (PHD em física quântica, físico nuclear indiano que tem buscado – por meios acadêmicos – traçar uma ponte entre a ciência, mais especificamente a física quântica e a espiritualidade) fosse uma capacidade já conquistada pelos seres em evolução. Resignar-se, ainda bem lembrado pelo dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é submissão à vontade de alguém ou ao destino, renúncia a uma graça, a um lugar, a uma função, aceitação sem revolta dos sofrimentos da existência, para dizermos pouco e não mergulharmos nas atitudes que demandariam vida de resignação. Também muito mais complexo seria buscar as virtudes necessárias para um verdadeiro ato de resignação.

Tais virtudes e atitudes espontâneas, por certo também dispensariam a resignação enquanto termo ou condição para ser diluído nas próprias atitudes de saber, com naturalidade, quando a renúncia a uma graça ou aceitação com dignidade de sofrimentos da existência fossem inerentes aos Espíritos em evolução neste plano.

Entretanto, a frase “assim é, se lhe parece” está longe de encerrar uma discussão de boa índole entre pessoas que estejam abertas a um diálogo construtivo. Tem sido usada muito mais quando queremos expressar fina ironia ou sarcasmo o que denota pouca virtude para um diálogo.

Pode ser que o façamos como concordância sábia ao percebermos que aquela pessoa não está num estágio capaz de compreender o que está sendo dito ou afirmado. Seria necessária refinada e altruista empatia, grande dose de compaixão humana, para empregar essa frase sem julgamentos habituais e automáticos de que a pessoa, não entende o que estamos querendo dizer e muito menos tem condições de compreender o que estamos a mostrar, esplanar ou debater.

Pobres são os outros que não compreendem o que dizemos e não nos aprovam! Tristes seres que não entendem as nossas idéias e pensamentos! Mas, assim é, se lhes parece!