Por Mário Frigéri
O dia dos pais está chegando e, como acontece todos os anos, eu costumo recordar, nessa época, a figura um pouco austera de meu pai, que hoje se encontra na pátria espiritual. Ele foi um homem simples e teve poucos anos de escola. Era, no início, um humilde lavrador, mas quando o serviço escasseava na lavoura, mudava-se com a família para a cidade e tentava a vida nesse novo meio, ora como fabricante de doces caseiros, ora como leiteiro, ora como padeiro, e outras profissões comuns e artesanais da época, que não exigiam uma formação especializada.
Ele e minha mãe tiveram oito filhos. Minha mãe, que era analfabeta, costurava para ajudar na manutenção do lar. Quando a vida na cidade apertava, meu pai partia novamente com a família para a roça. E por causa desse muda-muda constante, eu, que me iniciei na escola aos sete anos, só fui completar o período primário quando contava quinze anos de idade, porque, em cada mudança que ocorria, sempre perdia o meio ano que estava cursando. Mas eu me orgulhava de minha bela escrita. Sempre que mudávamos, as professoras ficavam com meus cadernos de caligrafia…
Embora fosse um homem prático, meu velho era muito de se abstrair com facilidade, cismando solitário em seu canto. Um dia – nunca me esquecerei desse fato – eu estava sentado ao seu lado na cozinha de nossa casa, quando ele, saindo de suas divagações, abriu uma revista e me mostrou a foto de um tintureiro passando uma peça de roupa numa lavanderia. Apontando para a tábua de passar, disse com muita
espontaneidade, e não como quem quisesse embutir uma lição: “Veja, meu filho: um homem não precisa mais que uma tábua dessas para ganhar a vida honestamente nesse mundo”. E voltou em seguida às suas cismas.
Era muito honrado e digno em suas atitudes, honesto em seus negócios e correto no que fazia. E embora fosse uma pessoa agradável no trato, não tinha facilidade em expressar seu carinho para com as pessoas e com os filhos. Não me lembro de ter sido abraçado por ele nenhuma vez. Beijar, então, seria um escândalo. Não obstante, forjou em todos nós, seus filhos, um caráter de nobreza e uma educação alicerçada no exemplo, criando uma família moldada nos melhores princípios de convivência e dignidade que se possam desejar.
Agradeço muito a Deus o pai que tive e espero ser o mesmo pai para os meus filhos, apenas com uma pitadinha a mais de carinho e abraços a granel, naturalmente.
Proteção excessiva
Muitos pais, cheios de iniciativa e confiança, e que alcançam grande projeção na sociedade, geralmente querem transmitir essas mesmas qualidades dinâmicas a seus filhos. Mas caem na armadilha de protegê-los excessivamente, frustrando-se mais tarde ao verem que os filhos não correspondem a essas expectativas, visto que não se esforçam o suficiente porque já encontram todos os problemas resolvidos.
Lembro-me de ter lido certa vez uma carta que Norman Vincent Peale escreveu a um pai cujo filho não estava muito satisfeito no emprego em que se encontrava. O pai, meio encabulado, solicitava ao conhecido escritor e pastor protestante que auxiliasse o rapaz a mudar de emprego, sugerindo que telefonasse ao presidente de uma grande empresa e desse uma palavrinha em favor do jovem.
Peale era amigo do missivista e conhecia-lhe muito bem o filho. Por isso, em sua resposta, lembrava àquele pai ansioso que, na época em que o filho era pequeno, o pai sempre estava por perto quando o menino queria tomar uma decisão. E quase sempre lhe podava as asas. O dia em que o garoto quis construir uma casa suspensa num castanheiro, o pai convenceu-o a desistir da ideia; quando pensou em deixar a universidade e dar uma volta ao mundo às suas próprias custas, o pai persuadiu-o de que não convinha; ao encontrar uma moça com quem desejava casar-se, o pai interferiu, dizendo que ele era ainda muito jovem para assumir aquela responsabilidade. E o atual emprego no qual o rapaz não se sentia bem, não fora também arranjado pelo pai?
Não lhe seria difícil dar o telefonema, dizia Peale. Mas ao levantar o fone do gancho, teve um estalo e se viu pensando numa coisa muito estranha: um gato. Na tarde daquela sexta-feira ele viu todo mundo suspender o serviço e ficar olhando pela janela. No prédio em frente, um belo gato persa desfilava por uma platibanda estreita, vários andares acima do solo. Foi andando naquelas alturas até a esquina e aí estacou de vez, sem coragem de prosseguir e com medo de voltar atrás. Foi preciso chamar o corpo de bombeiros para salvar o bichano.
– Pois eu acho que a melhor maneira de ajudar seu filho é parar de interferir na vida dele, disse Peale. – Você sabe por que aquele gato chique ficou paralisado na platibanda? Porque tinha sido tão amparado e protegido a vida toda que não sabia o que fazer numa situação em que qualquer gato de rua seguiria calmamente para onde quisesse.
O pastor pediu-lhe que mandasse o filho procurá-lo, pois pretendia recomendar ao jovem que deixasse o emprego em que estava (e onde fora colocado pelo pai) e saísse pelo mundo, mesmo que assustado e inseguro, mas tendo a impeli-lo o sentimento de que precisava enfrentar a vida por si mesmo.
– Você sempre se orgulhou de seu filho – disse ele finalmente ao pai. – Dê-lhe agora a oportunidade de se orgulhar de si mesmo.
Ouvir em silêncio
Outros pais gostariam também de ajudar seus filhos, mas não têm a paciência necessária para ouvi-los e sondar-lhes o coração, a fim de descobrir por trás de suas palavras as verdadeiras necessidades que lhes perturbam a alma. Interpretam qualquer problema trazido pelos filhos como “é mais uma perturbação na minha vida!”, em vez de ver neles uma importante oportunidade de solidariedade e companheirismo.
Stephen Covey, conhecido educador norte-americano, revela que, para solucionar esse problema, criou a prática de entrevistar seus filhos.
– A regra básica dessa “entrevista” – diz ele – é a de que eu apenas ouça e tente compreender. Não é um momento para moralizar, pregar, ensinar ou disciplinar – há outros momentos para isso; esse é o momento para simplesmente ouvir, compreender e demonstrar empatia. Às vezes tenho uma vontade tremenda de interferir e aconselhar, ensinar, julgar ou simpatizar, mas determinei para mim mesmo que, durante essas entrevistas especiais, tentarei somente compreender.
E narra um diálogo interessante ocorrido entre ele e um de seus ouvintes:
Um pai certa vez me disse:
– Não consigo entender meu filho. Ele simplesmente não me ouve.
– Deixe-me reformular o que você acabou de dizer – respondi. – Você não entende o seu filho porque ele não o ouve?
– É isso mesmo – ele respondeu.
– Deixe-me tentar de novo – eu disse. – Você não entende o seu filho porque ele não o ouve?
– É isso mesmo que eu disse – ele respondeu com impaciência.
– Achei que, para entender outra pessoa, você precisasse primeiro ouvi-la – sugeri.
– Oh! – ele disse. Houve uma longa pausa. – Oh! – ele disse de novo, à medida que ia entendendo…
Stephen também lamenta o fato de o homem moderno ter por hábito se lançar no turbilhão da vida, subindo sofregamente a escada do sucesso para, no fim, muitas vezes, descobrir que a escada estava na parede errada.
E a escada sempre estará na parede errada, acrescentamos nós, se a família não estiver no topo.
Paizinho
O mais belo e amoroso exemplo que eu conheço de relacionamento entre pai e filho é o que acontece no Evangelho entre Jesus e Deus. Em Marcos, 14:36, ao dirigir-se em prece ao Pai Celestial, Jesus o chama de Aba, palavra aramaico-hebraica que, segundo alguns intérpretes, não significa simplesmente Pai – ou pessoa que tem a autoridade, o poder e o controle que muitas vezes essa palavra sugere –, mas exprime uma evocação de familiaridade, segurança, confiança e intimidade, sendo o seu verdadeiro significado reproduzido pela maneira carinhosa como as crianças tratam seus pais, chamando-os de “papai” ou “paizinho”.
Jesus, numa prece, chamando a Deus de Paizinho! Que coisa linda! Que corrente de amor unificava esses dois corações! Devo dizer que essa palavra tão delicada e sua aplicação nesse contexto fizeram meu coração transbordar de doçura e encantamento. Na próxima vez que você orar, procure chamar Jesus de Paizinho, e você vai ver o que acontece em sua alma… Pai, papai, paizinho são palavras muito doces, e ouvi-las dos lábios de um filho é um dos maiores prazeres que nós, os pais terrenos, podemos sentir. Eu, que tenho três filhos encantadores, posso dizê-lo por experiência própria.
A meu ver, no âmbito da família, somente a palavra mãe pode estar impregnada de mais sentimento do que pai. Nós, pais, não nos importamos absolutamente de ficar em segundo lugar nessa comparação. As mães sempre merecerão a primazia. Mas neste momento estamos comemorando o Dia dos Pais. Portanto, que as mães nos perdoem, mas hoje quem vai ficar merecidamente na berlinda (e sob o aplauso delas, com certeza) somos somente nós, os pais, e mais ninguém…
Um feliz Dia dos Pais para todos.
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