Os Centro Espírita e a Capacitação do Espírita
A formação espírita é imprescindível para que o Centro Espírita, como
entidade representativa da Doutrina, possa, através de seus trabalhadores,
cumprir com sua missão.
A sociedade atual, diante dos desafios da existência, vem cada vez mais
percebendo a necessidade do ser humano estar capacitado para exercer suas
funções dentro da coletividade, seja na ordem econômica, política, social,
cultural, tecnológica, psicológica, enfim, dentro dos diversos fatores que
compõem a vida humana. Assim, são vários os programas de capacitação que,
aplicados, visam qualificar o indivíduo para cumprimento de suas obrigações
profissionais, familiares e sociais, num combate à ignorância, ao analfabetismo
e à baixa escolaridade. Este fenômeno social acompanha o avanço vertiginoso dos
meios de comunicação, das formas de produção, das pesquisas científicas, num
momento em que a qualidade está se colocando acima da quantidade e do simples
conhecimento.
O movimento espírita também começa a discutir a questão da qualificação do
seu trabalhador, surgindo a afirmação de que “o nosso movimento não comporta
mais o voluntário apenas com o currículo da boa vontade”.
Uma leitura atenta de “O Livro dos Espíritos” mostra-nos que Allan Kardec, em
1857, já referendava essa opinião, quando na Introdução escreve:
- O que caracteriza um estudo sério é a continuidade (item 8).
- Quem quer adquirir uma ciência deve estudá-la de maneira metódica,
começando pelo começo e seguindo o seu encadeamento de idéias (item 8). - Eis porque dizemos que estes estudos requerem atenção contínua, observação
profunda e, sobretudo, como aliás todas as ciências humanas, a continuidade e
a perseverança (item 13). - Que ninguém, portanto, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; liga-se
a todas as questões metafísicas e de ordem social; é todo um mundo que se abre
diante de nós. Será de se espantar que exija tempo, e muito tempo, para a sua
realização? (item 13) - A verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e
os conhecimentos que esse ensino encerra são muito sérios para serem
adquiridos por outro modo que não por um estudo profundo e continuado(…)
(item 17).
Esses cinco itens são enfeixados na proposta de um Curso Regular de
Espiritismo, cujo esboço foi publicado após sua desencarnação, no livro “Obras
Póstumas”. O codificador já se preocupava com a formação do espírita, e propunha
um meio: os cursos.
Em 1968, o professor José Herculano Pires, baseado nesta visão de Kardec,
apresentou a tese “Escolas de Espiritismo”, aprovada pelo 4o
Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas. Entre suas argumentações,
destacamos as que se encontram no item dois:
- O Espiritismo é um processo cultural e deve ser encarado como tal. Abrange
todo o campo do conhecimento, toca em todos os ramos da ciência, como
acentuava Kardec, e representa mesmo aquele momento de síntese do conhecimento
de que nos falaram Léon Denis e Oliver Lodge. - O campo de atividades espíritas aumentará na proporção em que melhor
compreendermos a Doutrina e sua profunda significação na vida mundana. - Ou tratamos o Espiritismo a sério, dando-lhe por nós mesmos o lugar e do
direito de cidadania que lhe cabem no mundo cultural, ou lhe negamos, também
nós, o que os adversários sempre lhe negaram.
Após várias outras considerações, encerra a tese apresentando um programa
para um curso de quatro anos de duração, sendo o mesmo dividido nas cadeiras de
Doutrina Espírita, Filosofia Espírita, Ciência Espírita e Religião Espírita. Sua
visão universitária propôs uma formação abrangente e profunda, que pode ser
lida, em sua inteireza, no livro “Pedagogia Espírita”.
Na década de 80, surge o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita,
patrocinado pela Federação Espírita Brasileira, como uma tentativa de fazer com
que os Centros Espíritas adotassem os grupos de estudo, regularmente
constituídos, tal qual na visão de Allan Kardec, para melhor capacitação dos
Espíritas, com duração média de quatro anos, num curso com aulas semanais.
Como vemos nesta síntese, a formação espírita é imprescindível para que o
Centro Espírita, como entidade representativa da Doutrina, possa, através de
seus trabalhadores, cumprir com sua missão. Não podemos, por alerta do próprio
codificador, estacionar apenas na boa vontade, embora esta seja sempre
substancial em todos os ramos da atividade humana.
Voltando a Allan Kardec, como encerramento deste estudo, dele reservamos esta
visão profunda:
“(O Livro dos Espíritos tem por fim) guiar os homens desejosos de se
esclarecerem, mostrando-lhes nestes estudos um objetivo grande e sublime, o do
progresso individual e social, e indicando-lhes o caminho a seguir para a sua
consecução”( O Livro dos Espíritos, Introdução, item 17).
O roteiro de estudos, portanto, está na obra básica; a forma de melhor
estudar são os cursos. Que os Centros Espíritas providenciem a qualificação do
espírita para cumprimento das finalidades do Espiritismo de regeneração do homem
e da humanidade.
Marcus Alberto de Mário é autor do livro ” Visão Espírita da Educação”,
Editora O Clarim.
(DIRIGENTE ESPÍRITA Nº 57 – JANEIRO E FEVEREIRO DE 2.000 –
http://www.use-sp.com.br/de57materias.htm)