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Intuição: sabedoria interior

Sou uma pessoa bastante intuitiva. Aliás, acho intuição um tema muito
atraente, até que certo dia, chegou em meu e-mail um texto da Matéria Primma,
Assessoria de Comunicação, muito interessante sobre o assunto, analítico e bem
elaborado por Priscila de Faria Gaspar, que é mestre em Ciências da USP e
Psicanalista e Terapeuta de Regressão. Decidi pedir autorização para
transcrevê-lo e com a devida permissão, ei-lo:

“A palavra intuição vem do latim intuire, que significa ver por dentro. É,
dessa forma, uma sabedoria interior, uma inteligência que permite resoluções ou
elaborações por meio da visão interior, embora o conceito de intuição varie um
pouco conforme a linha de pensamento. Para Jung, a intuição é uma capacidade
interior de perceber possibilidades, enquanto que o filósofo Emerson a considera
uma sabedoria interior que se expressa por si própria.

Kant vê a intuição como o conhecimento que se relaciona imediatamente com os
objetos, que mostra realidades singulares e que não dependem da abstração, ou
seja, aquilo que se sabe, sem precisar deduzir para concluir. Kaplan diz que a
intuição é, provavelmente, uma condensação de uma ou mais linhas de pensamento
racional, num único momento, em que a mente reúne rapidamente uma gama de
conhecimentos e passa para a conclusão, que é a parte do processo que ele
recorda. Muitas vezes, a intuição condensa anos de experiência e de aprendizado
num clarão instantâneo.

Quando nos remetemos ao conceito de Kaplan, a intuição passa a ser algo que
nos é revelado num certo momento, por insight. Isso implica em um processo, que
inclui raciocínios anteriormente elaborados e com seqüência lógica. Como esse
processo se passa de forma inconsciente, temos a impressão de que é atemporal,
quando na verdade se trata apenas da conclusão súbita de algo que já estava
sendo elaborado. Pelos conceitos expostos acima, vemos que a intuição pressupõe
uma condensação de conhecimentos e raciocínios lógicos, que são revelados
subitamente. No entanto, mesmo tendo fundamento lógico, isso não quer dizer que
a intuição esteja sempre certa. É, como nos coloca Jung, uma forma de se prever
possibilidades. Por maior que seja a possibilidade de algo ocorrer, ainda assim,
existe a possibilidade de não ocorrer. Muitas pessoas se arrependem, por vezes
de não terem seguido sua intuição, em determinados momento da vida. Porém, o
arrependimento é fruto de um resultado insatisfatório. Será que, se o resultado
fosse satisfatório elas se lembrariam que não seguiram a intuição, admitindo
para si mesmas que a intuição estava errada?

Concluímos que, por condensar uma série de conhecimentos, a intuição tem
grande probabilidade de estar certa, mas isso não significa que estará sempre
certa! Outra questão é quanto ao fato de confundirmos medos, pressentimentos e
até mesmo superstições com intuição.

É necessário considerar as diferenças entre intuição, insight, pressentimento
e presságio. Enquanto que, para Jung, a intuição é uma capacidade de prever
possibilidades, insight é a forma pela qual  é revelada, ou seja, a
súbita tomada de consciência do conhecimento intuitivo. O pressentimento seria
uma impressão ou sentimento de que um fato irá ocorrer. Já o presságio é um fato
a partir do qual se supõe que ocorrerá um evento não relacionado a ele, ou seja,
o que se costuma chamar de sinal.

Como exemplo, suponhamos que você está no aeroporto, prestes a embarcar,
quando subitamente é tomado por um pensamento ou idéia de que ocorrerá um
acidente com o avião. Que elementos o levaram a ter esse pensamento? Você pode,
por exemplo, avaliar consciente ou inconscientemente que o tempo está ruim,
perceber que há certa confusão no aeroporto, desorganização e apreensão por
parte das pessoas que lá trabalham, de forma a intuir que existe maior
possibilidade de que ocorra um acidente. No entanto, é apenas um conhecimento
interno sobre possibilidades, não significa que um acidente irá ocorrer. Isso,
aliado ao seu medo, pode ser interpretado como um pressentimento. Se ocorrer
algo diferente, por exemplo, um atraso ou derrubar café na roupa e isso for
interpretado como um sinal de que você não deva viajar, então trata-se de
presságio. Um presságio, ao contrário não tem nenhum fundamento
lógico e se baseia mais em medos e superstições do que em conhecimentos
anteriores ou observação de fatos.

 

O Norte – 28/03/2004