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A convivência perfeita

A convivência perfeita

– E os filhos?

– Adoro todos eles, mas são Espíritos imaturos que dão trabalho e não raro
desgostos. Imagine que Pedro, o mais velho, envolveu-se com drogas! Júnior, o do
meio, “aborrecente” típico, vive a me questionar; Jussara é delicada e sensível
mas puxou o gênio da mãe. Se contrariada, sai de perto! Um horror!

– São seus credores. Cobram prejuízos que você lhes causou em vidas
anteriores…

– Certamente! Estou consciente desse compromisso. Tento fazer o melhor,
sustentando a estabilidade do lar. Às vezes perco o controle. Envergonho-me das
brigas em que me envolvo… convenhamos, porém, que ninguém é de ferro…

Mário Vicente suspirou, emocionado:

– Sinto falta de um relacionamento familiar sustenta do por legítima
afinidade. Todos olhando na mesma direção, empenhados em cultivar a paz, o
trabalho do bem, a amizade, a compreensão… Seria o paraíso! Vejo-me como um
retardatário, preso a compromissos decorrentes de besteiras que andei cometendo
purgando meus débitos. Certamente aprontei muito!

– Espera alcançar a família espiritual?

– Claro! Hei de cumprir minhas obrigações, fazendo o melhor, a fim de merecer
um retorno ao convívio de meus queridos, em estágios mais altos… Tenho
convicção de que uma companheira muito amada espera por meu sucesso nas
provações humanas para nos reunirmos.

Animado por seus sonhos Mário Vicente esforçava-se para superar as
dificuldades de relacionamento junto à esposa e filhos. Tolerava suas
impertinências. Fazia de tudo para ajudá-lo. Exercitava carinho e compreensão.

O atendimento dos compromissos junto à família humana haveria de lhe
proporcionar o sonhado reencontro com a família espiritual.

Passaram-se os anos.

Os filhos casaram, vieram netos, ampliou-se o grupo familiar, sucederam-se os
problemas mas nosso herói até que conseguiu sair-se relativamente bem,
acumulando méritos.

Ao completar setenta e dois anos regressou à Pátria Espiritual.

Espírita esclarecido, não teve dificuldade para reconhecer-se fora do seu
escafandro de carne, amparado por generosos benfeitores.

Após os primeiros tempos, já adaptado à nova situação procurou dedicado
orientador da instituição socorrista que o abrigara. Foi logo pedindo, inspirado
pelo ideal que acalentava:

– Estimaria, se possível, receber notícias de minha família espiritual…

– Seus familiares estão bem, nas lutas de sempre, sofrendo e aprendendo, como
todos os homens.

– Estão reencarnados? Pensei que os encontraria aqui!

– Você conviveu com eles até alguns meses atrás. Não sabe que continuam na
Terra?

-Não me refiro à família humana. Anseio abraçar os entes queridos de priscas
eras, e sobretudo, a amada perdida nas brumas do passado…

O mentor sorriu:

– Falou bonito, mas está equivocado, meu amigo. Sua família espiritual é
aquela que lhe marcou a experiência na Terra.

Reformador – Março de 1997