A Fonte Inesgotável
Definitivamente, contra os fatos não há argumentos. A história registra, a
ciência fornece as provas. Desde a origem dos tempos, ocorrem fenômenos
mediúnicos. É da lei maior, está na natureza humana e das coisas. O próprio fato
de Moisés proibir a invocação dos espíritos, conforme podemos ler em Êxodo,
Levítico e Deuteronômio, é uma prova da prática comum, corriqueira, de
intercâmbio com os mortos, já naqueles idos tempos, entre o hebreus. Ademais,
todos os registros sagrados das grandes religiões da antiguidade, como o
Zend-avesta, dos persas, o livro dos Mortos, dos egípcios, e o livro dos Vedas,
dos velhos povos da Índia, transcrevem ritos e procedimentos relativos à prática
medianímica.
Por outro lado, se examinarmos as tribos indígenas, primitivas, isoladas, que
não tiveram nenhum contato com a humanidade dita civilizada, veremos que
professam crenças e praticam rituais em que o mediunismo ocupa grande espaço.
(De que outra maneira teriam desenvolvido, p. ex., conhecimentos fitoterápicos
tão profundos e tão diversificados, a ponto da moderna indústria de fármacos ter
grande dificuldade em aprender para reproduzir?)
A Bíblia é dita um livro profético, o que de fato é, considerando-se que
profeta à luz do esclarecimento espírita é o mesmo que dizer médium, e, que, não
há outro livro igual, que registre tantas narrativas de tantos e tão
diversificados fenômenos mediúnicos! No Velho Testamento, temos toda sorte de
fenômenos, de materialização à levitação, e, no Novo Testamento, os chamados
milagres do meigo Rabi da Galiléia e seus Apóstolos, nos enchem os olhos e o
coração, com exemplos do exercício mediúnico sem mácula. E como sabemos, a
primitiva igreja, até o terceiro século de nossa era, utilizava livremente os
recursos mediúnicos para a prática da caridade e da evangelização cristãs.
Infelizmente, no Concílio de Nicéia (325 d.C.), ante a pressão dos ensinos
emanados do Mais Além, para a necessária correção de curso no movimento cristão,
especialmente, nas questões do comércio com as coisas sagradas e da reintrodução
de práticas e costumes pagãos, a facção dominante do clero decidiu por adotar a
proibição de Moisés e calar as Vozes dos Céus !
Mais de 1.600 anos passados, afinal, ouvem-se agora certas manifestações a
favor do retorno à invocação dos espíritos, mesmo que condicionadas à certas
limitações, em que transparecem a intolerância e o preconceito de sempre. Na
revista Presença Espírita, de maio/junho deste ano, o artigo O Teólogo,
traduzido do italiano para o francês e deste para o português, traz-nos uma
novidade tragicômica: o padre Gino Concetti, comentador do Osservatore Romano,
resumindo, afirma que, agora sim, para a Igreja Católica, os contatos com o Mais
Além são possíveis e aquele que dialoga com o mundo dos defuntos não comete
pecado se o faz sob inspiração da fé.
Ah! Que alívio! Que bom saber disto! Não é mais uma coisa demoníaca…
Satanás, por um passe de mágica, após dezesseis séculos, se retira, se aposenta
de sua obra milenar – de conquista de adeptos através da prática mediúnica!
Allan Kardec, em sua sabedoria e bom senso, esclarece-nos e dá-nos o rumo,
como sempre: Livro dos Médiuns, Cap. I, “Há Espíritos ?”, Item 1 – “A dúvida, no
que concerne à existência dos Espíritos, tem como causa primária a ignorância
acerca da verdadeira natureza deles. Geralmente, são figurados como seres à
parte na criação e de cuja existência não está demonstrada a necessidade. (…)”
Cap. XIV, “Dos Médiuns”, Item 159 – “Todo aquele que sente, num grau qualquer, a
influência dos Espíritos é, por este fato, médium. Essa faculdade é inerente ao
homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. (…)” Revista
Espírita, janeiro de 1858, Introdução – Nada poderá barrar o progresso do
Espiritismo – “… pela simples razão de que esses fenômenos estão ao alcance de
todos, ou de quase todos, e nenhum poder humano impedir-lhe-á a manifestação.” O
Livro dos Espíritos, Questão 798: “Certamente que (o Espiritismo) se tornará
crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na
natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos.”
Gênese, Cap. XVIII, nº 20: “Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a
alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de idéias mais amplas e
compreender o que antes não compreendia.” Evangelho Segundo o Espiritismo,
Introdução, Objetivo: “As instruções que promanam dos Espíritos são
verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à
prática do Evangelho. (…) Graças às relações estabelecidas, doravante e
permanentemente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os
próprios Espíritos ensinaram a todas as nações, já não será letra morta, porque
cada um a compreenderá e se verá incessantemente compelido a pô-la em prática, a
conselho de seus guias espirituais.”
A Mediunidade, considerada em seu aspecto cristão, fonte inesgotável de
bênçãos para a Humanidade, agora, além de sancionada pela fé raciocinada, pela
filosofia e pela ciência, já não é mais alvo da virulência dogmática e da
intolerância religiosa. Nos mais diversos arraiais, de movimentos e crenças,
começam a manifestar-se as anunciadas Vozes dos Céus. Desta tímida abertura das
nuvens da ignorância, brilhará um portentoso sol no amanhã. E não haverá mais
choro e nem ranger de dentes, pois que as trevas exteriores terão se dissipado.
E o Cristo Cósmico reinará absoluto nos corações de todos os povos!
(Santa Maria, RS)
(Jornal Mundo Espírita de Dezembro de 1997)