Tamanho
do Texto

A mediunidade de animais em questão

Em artigo anterior desta nossa Coluna de A JORNADA questionamos
a existência real das chamadas “colônias espirituais” e inúmeras vezes temos opinado
contra o roustainguismo em nossa Coluna SAÚDE MENTAL do jornal espírita
(Órgão da FEESP)… Para admitirmos que uma comunicação mediúnica seja real
é preciso que seja sancionada pela crivo da razão e pelo critério
da concordância universal dos ensinos dos Espíritos – não nos cansamos
de repeti-lo, desta metodologia doutrinária não abrimos mão…

Pois bem, estudaremos aqui a difícil questão da mediunidade de animais
e veremos como ALLAN KARDEC – o Codificador da Doutrina dos Espíritos – usou um
método rigoroso em relação a esse tema; pois, um Espírito (ERASTO), cuja superioridade
foi demonstrada inúmeras vezes, trouxe uma série de contribuições importantes sobre
o assunto, no entanto, KARDEC preferiu esperar que a “psicologia experimental”,
no futuro, confirmasse ou não as suas assertivas, como veremos…

Médiuns e mediunidade.

Os médiuns são, como sabemos, os intermediários entre os Espíritos
e os homens (cf. O Livro dos Espíritos. ALLAN KARDEC. Introdução,
item IV, início do último parágrafo), isto é, são pessoas aptas a sentirem a influência
dos Espíritos e a transmitirem os pensamentos destes (cf. Obras Póstumas
de ALLAN KARDEC, FEB, Rio de Janeiro, 13 ed., p. 57).

Enfim, para afirmar-se a ocorrência da mediunidade é preciso
que haja captação da mensagem de um Espírito e que ela seja transmitida
(ou retransmitida) aos homens. Então, as perguntas que se impõem
em nossa tema são:

1)- seriam os animais capazes de captar a mensagem de um Espírito ?
2)- seriam os animais capazes de retransmitir o pensamento dos Espíritos?…

Para que possamos afirmar que haja mediunidade de animais é
preciso que respondamos sim a ambas as perguntas acima.

Captação (telepática) por um animal de mensagens de um Espírito.

Rigorosas pesquisas científicas, com a catalogação de inúmeros fatos,
provam que inúmeros animais (pássaros, gatos, cavalos, cães, etc.) são capazes de
captar a presença de um Espírito. Assim, em longa dissertação intitulada
Os animais Médiuns, disse o Espírito ERASTO, em 1861, através da mediunidade
do Sr. d ‘AMBEL:

 

“(…) Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais,
muitas vezes tomados de súbito por esse pavor, que vos parece infundado e é causado
pela vista de um ou vários desses Espíritos mal intencionados para com os indivíduos
presentes ou para os donos desses animais.” (Revista Espírita – Jornal de
estudos psicológicos
. Direção de ALLAN KARDEC. Ano IV, n.º 8, agosto/1861, EDICEL,
São Paulo, p. 264 e O Livro dos Médiuns de ALLAN KARDEC. Cap. XXII, FEB,
Rio de Janeiro, 30 ed., 1972, p. 294 – 295).

Posteriormente, através de estudos de Metapsíquica foram reunidos
grande número de fatos, provando a percepção de Espíritos por animais;
assim, uma longa casuística é apresentada pelo ilustre pesquisador italiano ERNESTO
BOZZANO (Os animais têm alma ? – Edit. Eco, Rio de Janeiro) e alguns casos
pelo célebre astrônomo e pesquisador CAMILLE FLAMMARION (O Desconhecido e os
Problemas Psíquicos
. Vol. I. Edit. FEB, rio de Janeiro, 3 ed., 1979, p. 99,
109, 157 e 194).

Ora, para que os animais captem a presença de Espíritos (e isto é um fato) é
necessário que eles possuam um perispírito e, conseqüentemente,
uma alma. Haveria um psiquismo animal ? Tal psiquismo teria diferenciação
para retransmitir o pensamento que percebem ?…

Inteligência – Inteligência humana e animal.

A melhor definição de inteligência foi dada pelo psicólogo W.
STERN na segunda década do século XX, disse ele: Inteligência
é a capacidade de se adaptar a situações novas mediante o consciente emprego de
meios ideativos”
. Neste sentido, várias pesquisas demonstraram a inteligência
em animais, embora rudimentar e isto já fôra anunciado pelo espíritos
à época de KARDEC.

Uma das mais importantes pesquisas científicas neste setor foi realizada por
W. KÖEHLER, um dos fundamentadores da Psicologia da Gestalt (GestaltPsychologie)…

wpe2.jpg (34762 bytes)

W. KÖEHLER publicou o livro A Inteligência dos Símios Superiores, em 1917,
no qual relata sua experiência em chimpanzés que aqui resumimos: os chimpanzés
foram colocados, com fome, numa área em que se deixava pender cachos de banana,
inalcançáveis para a estatura deles. Foram colocados no chão, espalhados, alguns
caixotes e varas. Depois de algum tempo, mais ou menos longo, para cada experiência,
após várias tentativas de insucesso, conseguiram os chimpanzés terem “idéias”, isto
é, vislumbravam a solução do novo problema a eles apresentado, empilhando caixotes
para alcançarem as bananas e/ou utilizando as varas para derrubarem as bananas…
Enfim, provou o pesquisador que houve ali atos inteligentes dos
chimpanzés, no entanto, simplesmente para atender suas necessidades materiais, imediatas,
sem abstração e generalização. A esse respeito,
ensinava o nosso mestre da Psiquiatria brasileira NOBRE DE MELO:
“(…) Eis aí por que se pode dizer, sem exagero, que a vida psíquica do Homem
é sempre e em tudo diferente da do animal. Este, incapaz de abstrair, terá limitada
a sua inteligência aos imperativos das necessidades vitais imediatas. Por isso,
seu raciocínio jamais poderá passar daquela inferência concreta e prática entre
fatos particulares.”
(A. L. NOBRE DE MELO. Psiquiatria. Vol. I. Civilização
Brasileira / MEC, Rio de Janeiro, 1979, p. 282 – 283).

Enfim, o psiquismo animal existe, mas de forma rudimentar; o
animal é incapaz de evoluir por si mesmo, nem através da ajuda dos de sua espécie,
embora sejam capazes de atos que nos tocam o coração, porém, instintivos.
São exemplos disso os casos relatados no prefácio à edição brasileira do livro de
BOZZANO (op. cit.) por FRANCISCO KLORS WERNECK, embora não indique a fonte
Diz ele:

 

“Existem casos surpreendentes com os animais, principalmente com os cães, que
parecem ser os mais evoluídos na escala animal. um, por exemplo, daquele cão feroz
que avançou resolutamente contra um de sua espécie, que quedava tranqüilamente na
beira da calçada, e estacou, trêmulo e aterrado, ao aproximar-se do outro, que não
percebeu o menor sinal de sua aproximação. Tratava-se de um animal cego. Outro,
o do conhecido cirurgião que encontrou na rua um cão com a pata esmagada e tratou
dele na sua própria casa. Doze meses se passaram até que estranhos arranhões na
porta de sua residência o levaram a ver do que se tratava. Era o mesmo cão que levava
um seu semelhante, nas mesmas condições em que se achara, para o médico o tratar.”.
Finalmente, conta KLORS WERNECK, um caso que teria ocorrido com ratos:

 

“(…) Um tropeiro passava por uma estrada quando os seus olhos descobriram dois
ratos que caminhavam um ao lado do outro, levando ambos uma palhinha, segurando
um uma ponta e o outro a outra. Teve a idéia de matá-los com o porrete que levava
na mão. O primeiro, atingido pela pancada, fugiu, sem dar antes sinais de desespero,
e o outro pára um tanto perplexo de que o outro se tenha posto em fuga. Verifica
então ele que a sua imobilidade se devia ao fato de ser cego. O outro lhe servia
de guia nas trevas da cegueira.” (op. cit., p. 7 – 8).

É indubitável o psiquismo animal, contudo, esclarecia o Espírito
ERASTO:

 

“(…) O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou
o amigo e o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa
pessoal? Ninguém ousaria afirmá-lo, porquanto o cão não faz progredir o cão. O que,
dentre eles, se mostra mais bem educado, sempre o foi pelo seu dono.”. Argumenta,
então, ERASTO:

 

“(…) Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima
d ‘água, seguindo as mesmas proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as
andorinhas jamais construíram os respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus
pais o fizeram; um ninho de pardais dos tempos modernos é sempre um ninho de pardais,
edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento das palhinhas
e dos fragmentos apanhados na época dos amores. As abelhas e as formigas, que formam
pequeninas repúblicas bem administradas, jamais mudaram seus hábitos de abastecimento,
sua maneira de proceder, seus costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece
a sua teia sempre do mesmo modo.” E arremata:

 

“(…) Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das
primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios
e os castelos da civilização moderna. Às vestes de pele brutas sucederam os tecidos
de ouro e seda. Enfim, a cada passo, achais a prova da marcha incessante da humanidade
pela senda do progresso.” (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC, op. cit.,
p. 293. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, op. cit., p.
262-263
).

Aí estão palavras sensatas, que o tempo não destruiu…

Mediunidade de animais ?

O Espírito ERASTO pronunciou-se sobre a questão da mediunidade de animais
de forma peremptoriamente contra, disse ele:

 

“(…) Os homens estão sempre dispostos a exagerar tudo. Uns – e não falo aqui
dos materialistas – recusam uma alma aos animais e outros querem lhes conceder uma,
por assim dizer, semelhante à nossa. Por que querer assim confundir o perfectível
com o imperfectível? Não, não, convencei-vos; o fogo que anima os animais, o sopro
que os faz agir, mover-se e falar sua linguagem não têm, até o presente, nenhuma
aptidão para se misturar, se unir, fundir-se com o sopro divino, a alma etérea,
o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível, o homem, esse
rei da criação.” .” (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC, op. cit.,
p. 292. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, op. cit., p.
262
).

Além do argumento, acima, devemos estar atentos para o fato de que a evolução
na escala animal provavelmente ocorra através do processo reencarnacionista,
pois a individualidade do psiquismo animal é demonstrada
em casos de suicídio de animais (cf. KARDEC. Revista Espírita
– Jornal de estudos psicológicos, fevereiro/1867, op. cit., p. 52) e através da
constatação de que não há animais na erraticidade (cf. KARDEC.
Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, 1865, p. 127), pois sua
reencarnação é muita rápida (O Livro dos Médiuns. ALLAN
KARDEC, op. cit., p. 359-360).

CONCLUSÕES.

KARDEC foi prudente e não colocou como um dado doutrinário indubitável
a questão do “espírito” dos animais. Em 1865, na Revue Spirite disse:
“(…) Quando tivermos reunido documentos bastantes, resumi-lo-emos num corpo de
doutrina metódica, que será submetida ao controle universal

(o grifo é nosso). Até lá são apenas balizas postas no caminho para
o esclarecer.”
(cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos,
maio/1865, op. cit., p. 127). Este comentário KARDEC o fez a propósito de uma mensagem
recebida pelo médium E. VÉZY, em 21/04/1865, que dentre outras coisas dizia:

 

“(…) o animal, seja qual for, não pode traduzir seu pensamento pela linguagem
humana, suas idéias são apenas rudimentares; para ter a possibilidade de exprimir-se,
como o faria o Espírito de um homem, ele necessitaria de idéias, conhecimentos e
um desenvolvimento que não tem, nem pode ter. Tende, pois como certo que nem o cão,
o gato, o burro, o cavalo ou o elefante, podem manifestar-se por via mediúnica.”
(cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, maio/1865,
op. cit., p. 129).

Hoje, após 137 anos, ante a comunicação acima, diante das pesquisas científicas
acumuladas sobre o assunto, ante o ensino do Espírito ERASTO (em 1861) e considerando
as idéias de KARDEC, acreditamos que podemos afirmar que NÃO HÁ MEDIUNIDADE NO ANIMAL,
ou melhor, O ÚNICO ANIMAL QUE POSSUI MEDIUNIDADE É O HOMEM, MAS ESTE É O “REI DA
CRIAÇÃO”.

Epílogo.


JESUS
O Guia e modelo

O que diferencia radicalmente o Homem do animal não é a inteligência,
a razão, como se pensava antigamente e sim, o livre-arbítrio
do Homem daí a sua perfectibilidade . DEUS concedeu-nos a dádiva do livre-arbítrio,
por isso somos os “reis da criação”.

Os animais são os nossos fiéis auxiliares, que tantas vezes nos enternecem, a
tal ponto que julgamo-los quase humanos; talvez, por isso, o atrapalhado ministro
do Governo COLLOR tenha dito que ““o animal também é um ser humano” !…
Entretanto, àquelas pessoas imaginosas, supersticiosas, que dizem evocar o espírito
de um animal e obterem resposta, cabe aqui o pensamento dos Espíritos Superiores:


KARDEC
O Codificador

Bom-senso e prudência

 

“Evoca um rochedo e ele te responderá. Há toda uma multidão de espíritos prontos
a tomar a palavra sob qualquer pretexto.” (O Livro dos Médiuns. ALLAN
KARDEC. Cap. XXV, op. cit., p. 360).

Como “reis da Criação” é nosso dever usar corretamente o nosso livre-arbítrio
para que não sejamos como o filho pródigo da parábola de JESUS,
precisando voltar para a casa paterna pedindo perdão ao Pai Misericordioso pelo
Bem que deixamos de fazer.

KARDEC codificou a Doutrina dos Espíritos com bom-senso e prudência. A
Doutrina Espírita é forte, inexpugnável, porque
baseia-se em fatos, constatáveis cientificamente, e não em fantasias
e pieguices espirituais.

Iso Jorge Teixeira
CREMERJ:52-14472-7
Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).