À Nossa Imagem e Semelhança
O nosso mundo é feito à imagem semelhança dos homens que o habitam. Nós
construímos esse mundo violento e injusto que aí está, e não raro, nos queixamos
de Deus, como se ele fosse o responsável pelas mazelas do mundo. Contudo,
examinemos mais detidamente a cultura da violência que está no íntimo do
espírito, que pode não ser explicitada em atos violentos, porém, há situações de
constrangimento e negação dos direitos que se equivalem à violência explícita.
Estas situações podem se caracterizar por um domínio impiedoso do mais forte
sobre o mais fraco, do mais rico sobre o mais pobre, do mais culto sobre o
inculto, do chefe sobre o subordinado, do pai sobre a família. Muitas vezes o
dominado, por necessidades de sobrevivência, aceitam o domínio do mais forte
sobre ele, mas o odeia em silêncio. O aqui mando eu e quero ser obedecido, não
raro poderia ser completado com: e é odiado.
A violência de homens sobre animais, impondo-lhes a sua vontade,
sacrificando-os para se alimentarem, ou caçando-os em seu habitat para exibir
troféus, quase sempre covardes, faz o gosto de muitos. Um dia a televisão
mostrou uma fazenda de caça, onde animais de vários portes eram criados para
serem alvos de caçadores, que pagavam por peça. A caçada, desumana e desigual,
pois eram utilizados fuzis de longo alcance, mira telescópicas, e os caçadores
não corriam o menor risco, enchiam de orgulho mentes degeneradas, que não dão a
mínima chance à caça. Mas até isto despertou em nós um sentido de violência,
pois desejávamos ver os heróicos caçadores enfrentando os animais com um pedaço
de pau, ou um canivete.
Entre os inúmeros tipos de violências existe uma muito covarde, que é a
violência dentro de casa, sobre crianças pequenas, indefesas, ou mulheres mais
fracas fisicamente.
O que dizer, então, da violência da fome, da miséria, do desamor? A pobreza é
uma forma de violência explícita e concreta. Os salários nababescos de pessoas
que sabem manejar as leis em seu favor, é uma violência contra aqueles que
ganham um salário mínimo ou menos. Não estamos falando de salários de pessoas
que exercem cargos de grande responsabilidade e que para os quais se prepararam
por muito tempo, mas dos que legislam em causa própria e interpretam a lei a seu
favor, ganhando salários incompatíveis com a realidade do país.
Soubemos de deficientes que retiraram o símbolo internacional que identifica
veículos dirigidos por deficientes físicos, porque estão sendo alvo de
assaltantes, devido a possibilidade de reação ser bem menor. Por outro lado,
pessoas perfeitas estão colocando o símbolo em seus carros, para utilizarem as
vagas reservadas aos deficientes em shoppings, cinemas, teatros… O que
representa, também, um tipo de violência.
No entanto a paz é possível, o amor é possível. Muitos homens e mulheres que
passaram pelo nosso mundo exemplificaram a paz, viveram a paz, amaram o seu
próximo. Como Jesus de Nazaré, muitos escolheram o caminho estreito e escarpado,
e deixaram cair de suas sandálias, poeira de estrelas que balizam o caminho para
nós.