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O credo, a religião do Espiritismo

Crer em um Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em
sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa do presente;
na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de
adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais
imperfeitos; na felicidade crescente na perfeição; na equitativa remuneração do
bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade
da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma
criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre arbítrio do
homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade
das relações entre o mundo visível e o mundo invisível, na solidariedade que
religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados,
considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da Vida do
Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, tendo em vista o
futuro mais invejável do que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em
palavras e em ações na mais ampla acepção da palavra; se esforçar cada dia para
ser melhor do que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma;
submeter todas as suas crenças ao controle do livre exame e da razão, e nada
aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por irracionais que
nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas
diferentes descobertas da ciência a revelação das leis da Natureza, que são as
leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode se
conciliar com todos os cultos, quer dizer, com todas as maneiras de adorar a
Deus. É o laço que deve unir todos os Espíritas em uma santa comunhão de
pensamentos, à espera que uma todos os homens sob a bandeira da fraternidade
universal.

Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz, se poupando
os males inumeráveis que nascem da discórdia, filha, a seu turno, do orgulho, do
egoísmo, da ambição, do ciúme e de todas as imperfeições da Humanidade.

O espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para sua felicidade neste
mundo, porque lhes ensina a se contentarem com aquilo que têm; que os Espíritos
sejam, pois, os primeiros a aproveitarem os benefícios que ele traz, e que
inaugura entre eles o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.

Os Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atraídos pelo objetivo que
nos propusemos em nos reunindo, a fim de darem aos nossos pensamentos a força
que nasce da união.

Doemos àqueles que nos são caros uma boa lembrança e um testemunho de nossa
afeição, os encorajamentos e as consolações àqueles que deles têm necessidade.
Façamos de maneira que cada um receba a sua parte dos sentimentos de caridade
benevolente, da qual estaremos animados, e que esta reunião traga os frutos que
todos estão no direito de esperá-los.

Extraído do Discurso de Abertura pelo Sr. Allan Kardec à Sessão Anual
Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, em 1o de novembro de 1868, sob o
tema “O Espiritismo é uma Religião?”, que poderá ser lido integralmente na
Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, 11º ano, nº 12, de dezembro de
1868 – Revue Spirite Journal d’Études Psychologiques, publié sous la direction
de ALLAN KARDEC.