Animismo
Alinhando apontamentos sobre a mediunidade, não será licito esquecer algumas
considerações em torno do animismo ou conjunto dos fenômenos psíquicos
produzidos com a cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação.
Temos aqui muitas ocorrências que podem repontar nos fenômenos mediúnicos de
efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria inteligência encarnada
comandando manifestações ou. delas participando com diligência, numa
demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com
os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e
organizadora, fora do carro físico.
A verificação de semelhantes acontecimentos criou entre os opositores da
Doutrina Espírita as teorias de negação, porquanto, admitida a possibilidade de
o próprio Espírito encarnado poder atuar fora do traje fisiológico,
apressaram-se os cépticos inveterados a afirmar que todos os sucessos
medianímicos se reduzem à influência de uma força nervosa que efetua, fora do
corpo carnal, determinadas ações mecânicas e plásticas, configurando, ainda,
alucinações de variada espécie.
Todavia, os estardalhaços e pavores levantados por esses argumentos
indébitos, arredando para longe o otimismo e a esperança de tantas criaturas que
começam confiantemente a iniciação nos serviços da mediunidade, não apresentam
qualquer significado substancial, porque é forçoso ponderar que os Espíritos
desencarnados e encarnados não se filiam a raças antagônicas que se devam
reencontrar em condições miraculosas.
SEMELHANÇAS DAS CRIATURAS
Somos necessariamente impelidos a reconhecer que, se os vivos da Terra e os
vivos do Além respirassem climas evolutivos fundamentalmente diversos, a
comunicação entre eles resultaria de todo impossível, pela impraticabilidade do
ajuste mental.
Seres em desenvolvimento para a vida eterna, uns e outros guardam consigo,
seja no plano extra-físico, preparando o retomo ao campo terrestre, ou no plano
físico, em direção à esfera espiritual, faculdades adquiridas no vasto caminho
da experiência, as quais lhes servirão de recursos à percepção no ambiente
próximo.
Tem cada Espírito, em vias de reencarnação, todos os meios de que já se muniu
para continuar no circulo dos encarnados o trabalho de aperfeiçoamento que lhe é
próprio, conservando-os potencialmente no feto, tanto quanto possui o Espírito
encarnado toada as possibilidades que já entesourou em si mesmo para prosseguir
em suas atividades no Plano Espiritual, depois da morte.
Assinalada essa observação, é fácil anotar que a criatura na Terra partilha,
assim, até certo ponto, dos sentidos que caracterizam a criatura desencarnada,
nas esferas imediatas à experiência humana, conseguindo, às vezes,
desenfaixar-se do corpo denso e proceder como a Inteligência desenleada do
indumento carnal ou, ainda, obedecer aos ditames dos Espíritos desencarnados,
como agente mais ou menos fiel de seus desejos.
Encontramos, nessa base, a elucidação clara de muitos dos fenômenos do
faquirismo vulgar, em que o Espírito encarnado, ao desdobrar-se, pode provocar,
em relativo estado de consciência, certa classe de fenômenos físicos, enquanto o
corpo carnal se demora na letargia comum.
OBSESSÃO E ANIMISMO
Muitas vezes, conforme as circunstâncias, qual ocorre no fenômeno hipnótico
isolado, pode cair a mente nos estados anômalos de sentido inferior, dominada
por forças retrógradas que a imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas
ou indesejáveis.
Nesse aspecto, surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos quais
Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas inabilitadas à
defensiva, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos tipos de recordação,
segundo as dívidas cármicas a que se acham presas.
Freqüentemente, pessoas encarnadas, nessa modalidade de provação
regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas no mais
complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando,
na realidade, expõem a si mesmas,- a emergirem da subconsciência nos trajes
mentais em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos
desencarnados que as subjugam.
ANIMISMO E HIPNOSE
Imaginemos um sensitivo a quem o magnetizador intencionalmente fizesse recuar
até esse ou aquele marco do pretérito, pela deliberada regressão da memória, e o
deixasse nessa posição durante semanas, meses ou anos a fio, e teremos exata
compreensão dos casos mediúnicos em que a tese do animismo é chamada para a
explicação necessária. O «sujet», nessa experiência, declarar-se-ia como sendo a
personalidade invocada pelo hipnotizador, entrando em conflito com a realidade
objetiva, mas não deixaria, por isso, de ser ele mesmo sob controle da idéia que
o domina.
Nas ocorrências várias da alienação mental, encontramos fenômenos assim
tipificados, reclamando larga dose de paciência e carinho, porquanto as vítimas
desses processos de fixação não podem ser categorizadas à conta de
mistificadores inconscientes, pois representam, de fato, os agentes
desencarnados a elas jungidos por teias fluídicas de significativa expressão,
tal qual acontece ao sensitivo comum, mentalmente modificado, na hipnose de
longo curso, em que demonstra a influência do magnetizador.
DESOBSESSÃO E ANIMISMO
Nenhuma justificativa existe para qualquer recusa no trato generoso de
personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas em semelhantes
provações, de vez que são, em si próprias, Espíritos sofredores ou conturbados
quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro.
O amparo espontâneo e o auxílio genuinamente fraterno lhes reajustarão as
ondas mentais, concurso esse que se estenderá, inevitável, aos companheiros do
pretérito que lhes assediem o pensamento, operando a reconstituição de caminhos
retos para os sensitivos corporificados na Terra, tão importantes e tão nobres
em sua estrutura quanto aqueles que os doutrinadores encarnados se propõem
traçar para os amigos desencarnados menos felizes.
Aliás, é preciso destacar que o esforço da escola, seja ela o recinto
consagrado à instrução primária ou a instituto corretivo, funciona como recurso
renovador da mente, equilibrando-lhe as oscilações para níveis superiores.
Não há novidade alguma no impositivo da acolhida magnânima aos obsessos dessa
natureza, hipnotizados por forças que os comandam espiritualmente, a distância.
ANIMISMO E CRIMINALIDADE
Os manicômios e as penitenciárias estão repletos de irmãos nossos obsidiados
que, alcançando o ponto específico de suas recapitulações do pretérito culposo,
à falta de providências reeducativas, nada mais puderam fazer que recair na
loucura ou no crime, porque, em verdade, a alienação e a delinqüência, na
maioria das vezes, expressam a queda mental do Espírito em reminiscências de
lutas pregressas, à semelhança do aluno que, voltando à lição, com recursos
deficitários, incorre lamentavelmente nos mesmos erros.
O ressurgimento de certas situações e a volta de marcadas criaturas ao nosso
campo de atividade, do ponto de vista da reencarnação, funcionam em nossa vida
íntima como reflexos condicionado, comprovando-nos a capacidade de superação de
nossa inferioridade, antigamente positivada.
Se estivermos desarmados de elementos morais suscetíveis de alterar-nos a
onda mental para a assimilação de recursos superiores, quase sempre tornamos à
mesma perturbação e à mesma crueldade que nos assinalaram as experiências
passadas.
Nesse fenômeno reside a maior percentagem das causas de insânia e
criminalidade em todos os setores da civilização terrestre, porquanto é ai, nas
chamadas predisposições mórbidas, que se rearticulam velhos conflitos, arrasando
os melhores propósitos da alma que descure de si mesma.
Convenhamos, pois, que a tarefa espírita é chamada de maneira particular, a
contribuir no aperfeiçoamento dos impulsos mentais, favorecendo a solução de
todos os problemas suscitados pelo animismo. Através dela, são eles endereçados
à esfera iluminativa da educação e do amor, para que os sensitivos, estagnados
nessa classe de acontecimento, sejam devidamente amparados nos desajustes de que
se vejam portadores, impedindo-se–lhes o mergulho nas sombras da perturbação e
recuperando-se-lhes a atividade para a sementeira da luz.
(F C Xavier – Waldo Vieira – em Mecanismos da Mediunidade – FEB)