746 – O assassínio é um crime aos olhos de Deus? – Sim, um grande
crime, pois aquele que tira a vida a um semelhante, interrompe uma vida de
expiação ou de missão, e nisso está o mal.
(O Livro dos Espíritos – Allan Kardec)
As histórias e os dramas motivados pela violência são muitos e acontecem com
uma freqüência cada vez maior. Pode-se dizer que a violência está em todo lugar
e não tem fronteiras pois que diariamente os meios de comunicação nos informam
de lamentáveis acontecimentos ao redor do planeta e até daqueles bem próximos de
nossas moradas.
Por toda a mídia, rádios, TVs, jornais, revistas e Internet, os crimes são
mostrados numa seqüência alucinada de assaltos, seqüestros, estupros,
assassinatos e chacinas não apenas com o intuito de informar mas, sobretudo, com
a finalidade de faturar cada vez mais. A desculpa que nos dão é que eles têm que
informar a população e, desta forma, os acontecimentos são ampliados e
explorados de forma irresponsável. Será que nunca acontecem coisas boas e
construtivas ou falta capacidade para encontrá-las?
O fato é que a violência, e todos os desdobramentos nefastos derivados dela,
mostrados ininterruptamente dia e noite, virou coisa corriqueira. Isso me lembra
uma história contada por um amigo há alguns anos.
Foi nos meados dos anos 1980. Esse amigo tinha parentes morando no Líbano, no
tempo da guerra, naquele caldeirão insano que era Beirute, a capital, e todos
lutavam contra todos, onde balas de metralhadoras e morteiros partiam do chão,
enquanto bombas e foguetes partiam de aviões e navios. As imagens que nos
chegavam eram, como são ainda hoje em qualquer guerra, de morte, desespero e
aflição, casas e prédios destruídos aleatoriamente…Um dia, tendo a
oportunidade de encontrarem-se no Brasil, indagados sobre a vida aflitiva que
levavam em Beirute e porque não se mudavam de lá, responderam: — Não nos
incomodamos mais. Já estamos acostumados com tudo aquilo.
Poderíamos analisar essa extraordinária capacidade de adaptação com que Deus
moldou o Ser Humano através das inúmeras reencarnações, porém, agora nosso
intuito é outro, e também podemos afirmar que nos acostumamos com a violência
que enfrentamos no Brasil. Estamos tão acostumados à ela, que até nos pegamos
rindo de programas humorísticos onde a violência é o tema de alguns quadros. Nos
pegamos até rindo de lamentáveis situações familiares expostos ao ridículo por
programas que mostram “aquilo que o povo quer ver”.
Por se tratar de um conceito adquirido através da Evolução, em todas as
épocas e em todas as culturas, da mais rudimentar até a mais sofisticada, sempre
se respeitou e ensinou através da Religião e dos diferentes sistemas
Filosóficos, ser a Vida o “maior bem” que possui o Ser Humano. Embora o conceito
de preservação da Vida esteja gravado em nossas mentes, esse bombardeamento
vulgar e incessante da violência está banalizando e “adormecendo” esse
sentimento de “valor supremo” que a Vida tem.
É irônico, numa época em que se quer preservar da extinção a Vida de animais
e plantas, que torcer por um time de futebol, discussão no trânsito e a falta de
pagamento – e até falta de troco – de Um Real (certamente os leitores devem
saber de motivos ainda mais triviais e ridículos) seja a causa de assassinatos e
dramas diversos que poderão durar várias encarnações com desdobramentos que
certamente dificultarão nossa caminhada até os Planos de Luz.
As causas apontadas são as mais diversas. A miséria é uma delas mas a
violência também está nas camadas econômicas mais altas. A degradação moral
porque passa a atual civilização, raras vezes citada, talvez seja o componente
mais forte desse conjunto de fatores que nos levam a atos tão tresloucados.
Enquanto não fizer parte do coração de cada Ser Humano a máxima ensinada por
Jesus de “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” teremos, por muito tempo
ainda, grandes fatos a lamentar.
Por ora, para amenizar essa onda negativa que nos envolve e afastar também os
arautos da destruição, e do pessimismo, podemos fazer um pacto íntimo contra o
“baixo-astral”. Comecemos por não assistir, e não ouvir, programas que tratem de
violência, ridicularizem ou aviltem o Ser Humano; da mesma forma, fiquemos sem
ler as matérias policiais de jornais e revistas, pois não fazem nenhuma falta;
ao passar por um acidente, vamos manter a mente em oração afastando, assim,
aquela curiosidade mórbida que se regozija com o quanto pior melhor; se formos
vítimas de assalto, manter a calma, não reagir e dar tudo de material que nos
pedirem para preservar aquilo de maior valor que possuímos, e do qual somos
responsáveis diretos perante Deus: nossa Vida.
Afastar-se das notícias de violência não é alienar-se como já ouvi alguém
dizer (no tempo da Ditadura, era alienado quem não lia e se informava sobre
política e economia). Há muitas maneiras de obter informações sadias e uma delas
é assistir a programação das TVs educativas espalhadas pelo país onde mesmo os
acontecimentos mais infelizes são ali apresentados com equilíbrio e bom senso.
Para finalizar, qualquer que seja a situação, confiar sempre em Deus, porque
é Ele que conhece os desígnios de nossas Vidas, nossa Nação e nosso Planeta.
Através da oração, manter nossas mentes e corações sintonizados em Jesus, nosso
Irmão e Mestre, para que, como um farol, passemos a irradiar Paz e Amor para
coletividade em que nos encontramos, suavizando dessa forma a atmosfera de
pessimismo que envolve a todos.
Transcrito de Alavanca (Campinas), ano 44, n. 447, setembro/outubro de
1999, p. 4, com a permissão do autor e do editor.