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Aprimoremos – Livro Palavras de Vida Eterna

Aprimoremos – Livro Palavras de Vida Eterna

“Não extingais o Espírito” – Paulo I Tessalonicenses, 5:19)

Analisando a recomendação de Paulo, acima transcrita, Emmanuel, no livro “Palavras de Vida Eterna”, convida-nos a “entender os valores do espírito”. Para melhor elucidar a questão, compara a educação, o conhecimento acerca das questões espirituais, a uma grande estrada. Observemos a estrada que nos oferece condições de nos deslocarmos a longas distâncias, com segurança e conforto, e lembremos o que havia no local, antes dela ser construída. Matas, montanhas, rios, charcos, enfim uma extensão de terra inóspita e perigosa. No entanto, homens e máquinas, trabalharam utilizando o conhecimento, e construíram a estrada. Hoje a utilizamos sem pensar no sacrifício dos operários que a construíram. É provável que alguns tenham se machucado; outros padecido de enfermidades várias; e alguns até perdido a vida, no trabalho anônimo.

Analisa semelhante lição – diz Emmanuel – encontradiça em cada canto da rua, e não olvides que a ignorância é também aflitiva selva no mundo. “Abracemos o serviço da educação e da bondade, com alicerces na disciplina do Cristo, que é para nós outros, o Engenheiro Celeste, e tracemos novos caminhos de evolução e de entendimento, em que as almas se aproximem na exaltação da alegria e na ascensão do progresso” (1)

A ignorância é aflitiva selva no mundo, afirma Emmanuel. É preciso construir estradas que auxiliem as pessoas a pensarem e a viverem. Todos querem paz, felicidade, viver bem. Mas, a maioria não sabe o caminho para buscar o que deseja. Equivocadamente, se busca a paz, a felicidade, no sucesso material. Confunde-se “ter” com “ser”. Para a pessoa viver bem, harmonizada, com equilíbrio, segurança, sabendo conviver com as dificuldades sem fraquejar, importa o que ela é, e não o que ela tem. Isto tem muito a ver com a cultura em que vivemos. Uma cultura é feita de valores, de crenças que as pessoas herdam da família, da escola, da sociedade, É um jeito de ver o mundo; é um modo de agir. Então é necessário um trabalho de mudança de mentalidade, que é algo que se realiza a longo prazo, porque é um trabalho de aprimoramento, de educação. A paz não é algo que cai do céu. É um processo sócio-educativo. A paz se constrói, da mesma forma que um atleta prepara o corpo para suas atividades, durante longo tempo.

No Livro dos Espíritos, questão 799, indaga: De que maneira o Espiritismo pode contribuir com o progresso? Resposta: “Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse, A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos”.

A nossa cultura valoriza as conquistas materiais. Só vale o quanto a pessoa cresceu materialmente. Não importa se alguém se tornou melhor, um ser humano mais fraterno, mais compreensivo, mais bondoso. Só se valoriza a dimensão material: os títulos, os recursos econômico-financeiros, o poder, o prestígio. Surge, então, o consumismo. Chega-se a ponto de achar que consumir, comprar, traz felicidade.

Alguém poderá perguntar: E é possível repensar o consumismo numa sociedade capitalista como a nossa? Entendemos que sim, pois outras coisas muito difíceis de serem mudadas alguém, um dia, começou a contestar, a falar, e a situação se modificou. Conta-se que algum tempo após a adesão de Constantino ao Cristianismo, em Roma, continuava os espetáculos de gladiadores, onde homens matavam homens, nas arenas, para diversão do povo. Um dia, quando estava para começar o espetáculo, entrou na arena um desconhecido, e fez um discurso veemente, mostrando que, agora, eram cristãos, e não tinham o direito de continuar com aquelas práticas estúpidas. O desconhecido foi vaiado, apedrejado e morto, mas no dia seguinte todos queriam saber quem era aquele homem que teve a coragem de enfrentar a multidão. E os mais preparados passaram a pensar e discutir a questão das lutas dos gladiadores que acabaram por ser extintas. O progresso humano, em grande parte, tem sido feito assim: com a incompreensão de muitos e com o sacrifício dos vanguardeiros que, muitas vezes, pagam com a vida pelo crime de desejarem um futuro melhor para o seu semelhante. Jesus é o exemplo maior.

É preciso repensar essa tabela de valores que ainda vigora em nossa cultura. Um número cada vez maior de pessoas vai entendendo que esse modelo atual não responde mais aos nossos anseios. A tecnologia e o progresso material vão muito bem, mas as nossas vidas não estão bem.

É necessário trabalhar para abrir estradas ao progresso. Conforme conclui Emmanuel, na lição citada de início: “Não importa sejamos hoje artífices sem nome. Vale o serviço feito. Humilde réstia de luz que acendermos envolver-nos-á em seu clarão e a pequenina semente de fraternidade que venhamos a lançar no solo da vida abençoar-nos-á com os seus frutos”.

(1) – Palavras de Vida Eterna, cap. 54 – Emmanuel, psicografia de Francisco C. Xavier.

(Jornal Verdade e Luz Nº 180 de Janeiro de 2001)