As Notas Musicais
“Falaremos hoje sobre a sonoridade, não sobre a sonoridade pura, uma vez que
não possuímos ouvidos para ela. O som é resultante de uma vibração que
impressiona nossos órgãos físicos e produz, em conseqüência, um fenômeno
virtual.
“É preciso partir do seguinte princípio: no espaço o som não é mais a
sensação de um ruído, mas a sensação que acarreta uma satisfação de bem-estar
moral e espiritual. O júbilo é mais ou menos intenso e corresponde às sensações
que os instrumentos da Terra produzem sobre nós.
“Vimos o ser imaterial transportado à esfera musical, isto é, ao campo
vibratório animado por seres angélicos; vimos também que esse ser recebe em seu
perispírito vibrações que, chocando-se com seus próprios eflúvios, produzem
sensações de júbilo.
“Na música humana vocês têm como nota de diapasão o lá: não tomaremos essa
nota como ponto de partida, pois sua tonalidade não corresponde à tonalidade das
cores. Tomaremos o dó. O dó, para os ouvidos humanos, produza um som grave,
pleno, e que exprime o júbilo, um som que descreve bem o amor que devemos sentir
por Deus. Esse dó, fazendo -se uma comparação, adapta-se melhor à primeira das
sensações fluídicas, que se traduz geralmente pela cor azul.
“O dó simboliza o azul-celeste, a quietude, a paz da alma, surgida através da
prece. O dó é a primeira nota do acorde perfeito que deriva do azul.
“O mi representa a força no amor, o desejo de amar, e pode ser representado
por uma emanação da luz solar. Temos, portanto: dó, mi.
O dó fundamental é o azul; o mi, desejo no amor, dará azul-celeste e ouro.
“O sol, terceira nota harmônica, representa a consolidação das duas notas
precedentes, isto é, uma ligação que pontua as duas idéias precedentes emitidas,
pontuação que assegura a exteriorização do sentimento dado pelo azul.
“Percebemos essa nota através de uma tonalidade especial, cuja cor procuro
tornar compreensível aos sentidos humanos. Não se trata nem de uma emanação
prateada, que poderia confundir-se com o ouro, ser por este absorvida, nem de
uma emanação preta, resultante das outras cores, que poderia absorver o azul.
Mas é um fluido brilhante, sem cor muito definida, que pode aproximar-se da luz
radiante que se desprende dos mundos por vocês percebidos, isto é,
cinza-azulado, cinza-prateado. O sol, visto de longe, possui esse aspecto.
“A primeira tonalidade, vista por um mortal, terá esse aspecto: tônica azul.
Intensidade da tônica, ouro. Pontuação ou duração: cinza prateado, mistura de
azul com um pouco de ouro e de cinza-prateado.
“Essa primeira tonalidade representa o amor divino.
“As outras cores fundamentais apresentam todos os outros sentimentos, indo do
amarelo-claro ao amarelo-escuro; porém essas cores são sempre acompanhadas por
seus mantos dourados e suas vestes cinza-prateadas.
“Em música humana, acorde perfeito: dó, mi, sol. Tomando-se o ré, acorde
perfeito: ré, fá, lá; com o mi, acorde perfeito: mi, sol, si.
A tônica variará de cor passando do azul até chegar ao vermelho, porém as
duas outras notas serão sempre ouro e prata; elas nunca variarão.
“Conforme a qualidade do perispírito e a natureza do campo vibratório, as
sensações variam e aumentam de intensidade a ponto de se tornarem maravilhosas.
Certos perispíritos recebem o amarelo, outros, o vermelho. Há alguns que excluem
essa última cor.
“O violeta é menos suportável para os seres evoluídos. O verde claro é mais
agradável do que o escuro. Pode-se, de acordo com as leis do espaço, perceber
uma mistura de azul e de rosa.
“Os campos vibratórios variam igualmente de intensidade. Eles resultam de
emanações angélicas, inspiradas pelo ser divino. Quando retornamos à Terra,
estamos ainda impregnados dessas vibrações; o corpo material as apaga, porém a
consciência guarda sua impressão.
“Além desses campos vibratórios existem esferas, e até mesmo correntes, que
dão aos espíritos menos evoluídos alegrias harmônicas às vezes vivas e
profundas, apesar de mais pessoais. Essas correntes fluídicas comunicam ao ser
as alegrias íntimas do amor divino. Outras correntes lhe dão apenas a alegria de
ouvir os acordes da lira celeste.
Essas vibrações, não coloridas e invisíveis para o ser desencarnado, dão-lhe
uma satisfação comparável à produzida pela sensação dos perfumes.
“A música celeste é, portanto, resultante de impressões causadas pelas
camadas fluídicas segundo a elevação do ser e a pureza do meio.
“No espaço não se ouve nada; sente-se a harmonia dos fluidos e não a dos
sons. A propriedade essencial dos fluidos é a cor. O som é de essência
terrestre, a cor é de essência celeste. A próxima lição tratará dos encantos
harmônicos do espaço e de sua persistência nos sentimentos humanos.”
Massenet
Comentários
A solidariedade dos sons e das cores, da qual o espírito Massenet nos fala,
foi pressentida por todos os grandes músicos.
Um deles disse: “A melodia é para a luz o que a harmonia é para as cores do
prisma, isto é, uma mesma coisa sob dois aspectos diferentes: melódico e
harmônico.” Platão nos diz: “A música é uma lei moral. Dá alma ao universo, asas
ao pensamento, saída à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as
coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e
belo, e do qual ela é a forma invisível mas, no entanto, deslumbrante,
apaixonada, eterna.” Observemos de passagem que Massenet é antes melodista do
que sinfonista.
Para formar a luz branca é preciso o acorde das cores complementares, e essa
luz torna-se mais viva e radiante quanto melhor a melodia resuma e sintetize o
acorde das harmonias complementares.
Parece, portanto, que há perfeita concordância entre as concepções dos gênios
terrestres e o ensinamento das entidades do além, e isto reconhecendo-se que
estas nos fornecem detalhes, observações ignoradas pelos especialistas de nosso
mundo.
Em termos de relação, a melodia está para a harmonia como o pensamento está
para o gesto. Poder-se-ia dizer, também, que em música a melodia representa a
síntese e a harmonia a análise. Elas se penetram portanto uma na outra e mais
valem quanto mais se combinem e se fundam mais completamente.
Na Terra a beleza de uma obra musical resulta ao mesmo tempo da concepção e
da execução, porém na vida do além o pensamento iniciador e a execução se
confundem, pois o pensamento comunica às vibrações fluídicas as qualidades que
lhe são próprias. A obra é mais bela e a impressão que ela produz mais viva
quanto mais elevada for a intenção. É isto o que dá à prece ardente, ao grito da
alma a seu criador, propriedades harmônicas.
Quanto mais nos elevamos na escala das relações, mais a unidade aparece em
sua sublime grandeza.
A lei das notações musicais regula todas as coisas, e seu ritmo acalanta a
vida universal. É uma espécie de geometria resplandecente e divina. O alfabeto
humano, como um balbucio, é uma de suas formas mais rudimentares. Porém suas
manifestações tornam-se cada vez mais amplas e importantes, em todos os graus da
escala harmônica.
O espírito humano não pode se elevar até as supremas alturas da arte cuja
fonte é Deus, mas ele pode, ao menos, elevar a elas suas aspirações.
As concordâncias estéticas se sobrepõem ao infinito. Mas o pensamento humano
entrevê apenas alguns aspectos da lei universal de harmonia nas horas de êxtase
e de grande alegria. A regra musical se produz no espaço através de raios de
luz; o pensamento, a expressão do gênio divino e os astros em seus cursos, aí
conformam suas vibrações.
Se o espírito humano, em seus impulsos, eleva-se um instante a essas alturas,
recai impotente para descrever suas belezas; as impressões que ele experimenta
não se podem traduzir senão através de muda adoração.
O próprio espírito Massenet declara-se insuficientemente evoluído para
manter-se nessas esferas superiores.
Uma vez mais encontramo-nos, aqui, na impossibilidade de exprimir, na
linguagem humana, idéias sobre-humanas. Apesar do que se possa dizer,
permanece-se sempre aquém da verdade. O infinito das idéias, dos quadros, das
imagens, é como um desafio aos limitados recursos do vocabulário terrestre. Com
efeito, como encerrar em palavras, como resumir em palavras todo o esplendor das
obras que se desenvolvem nas profundezas dos céus estrelados?
(do capítulo 6 do livro O espiritismo na arte)