A Aventura de ser Medium
Numa reunião de experiências mediúnicas que eu realizei no Centro Espírita Evangelho em Ação – Vila Munhoz em São Paulo, aconteceu um fato interessante.
Os Coordenadores Espirituais convocaram-nos para uma tarefa. Em uma cidade um acidente de ônibus deixara mortos e feridos e naquele momento precisavam de socorro espiritual. No grupo, os médiuns aptos para o desdobramento se colocaram em disponibilidade e acompanharam os Espíritos Mentores, enquanto ficávamos acompanhando o trabalho a distância, através da vidência.
Relatávamos os fatos a fim de que o grupo que ficou pudesse auxiliar com mais eficiência e ao mesmo tempo aprender como se realiza este tipo de auxílio por meio do desdobramento.
No local, a equipe se dividiu. Uns iam em busca de socorro na redondeza, intuindo pessoas para que se deslocassem para aquela estrada ou ainda sugerindo a outras tantas residentes próximas do local, que no descanso em seus lares se pusessem em oração para oferecer material energético que seriam utilizados nos atendimentos aos feridos.
No entanto, o mais interessante que vi nesse processo e que trago para estudo e análise foi em relação ao desencarne de algumas pessoas, que tinham seus corpos despedaçados. Os mentores intuíam os socorristas para que juntassem os membros, pernas e braços, como que refazendo os corpos, enquanto a outra equipe, do lado espiritual, fazia o mesmo no corpo espiritual das criaturas que tinham deixado o corpo. Quando ocorria a recomposição do corpo energético é que a equipe recebia a ordem para efetuar o desligamento total do Espírito.
Em outro estudo que realizei, sob o título Closure, informo sobre a necessidade que as criaturas têm de saber ou sentir o fechamento dos processos. Em caso de morte em que o corpo fica desaparecido, quase sempre o desligamento do Espírito se torna difícil, pois em sua estrutura mental ainda muito terrena, mesmo estando do outro lado, fica faltando o ingrediente principal para dentro de si sentir-se morto: o corpo. E as pessoas aqui na Terra, ligadas aquele Espírito também vão ficar incompletas nesse processo, pois faltarão alguns detalhes fundamentais para dentro de si sentir que houve a morte. Sem o corpo, não há o velório, não se faz a homenagem última. Ou seja, não se finalizou a Vida. Nossa formação filosófica, emocional e psicológica pede o Closure, isto é, o fechamento do processo.
Nessa ocorrência o apoio de um grupo de médiuns, em desdobramento, é importante porque facilita a ação dos Espíritos, oferecendo recursos energéticos pertinentes ao mundo físico.
Caso não houvesse um grupo de médiuns disponível os Espíritos teriam que se servir de pessoas ou médiuns que estivessem nas proximidades, que seriam convocados e atraídos, para uma ação inconsciente e naturalmente com menos qualidade.
Há médiuns que se prestam a este apoio, independente de grupos, mas são poucos, pois no Espiritismo ainda não se cultiva essa filosofia da ação espiritual individual. Os dirigentes preferem optar por atividades em grupo.
Ivone Pereira se prestava muito a este tipo de atividade. Ela narra suas experiências em dois livros: Recordações da Mediunidade e Devassando o Invisível, que recomendo como leituras fundamentais para quem deseja realizar este tipo de tarefa. Nem é preciso dizer que junto dessas obras, é necessário a leitura e pesquisa dos livros básicos de Allan Kardec.
Um outro médium realizou experiências desse teor: Fernando de Lacerda. Ele foi protagonista do encontro entre Silva Pinto e Camilo Castelo Branco, dois poetas lusitanos. Camilo deixara o corpo através do suicídio, porque ficara cego. E na dimensão extra-física, se conscientizou do erro que cometera, narrando através de Ivone Pereira suas peripécias após a morte. Enquanto isso, Fernando desdobrava-se viajando pelo mundo espiritual, a procura de experiências. Encontraram-se e Camilo utilizou o médium português como portador de cartas/mensagens onde incitava a que Silva Pinto recobrasse ânimo e mudasse o rumo de seus pensamentos, deixando a idéia de acabar com sua vida. Tanto insistiu nesses recados, que o poeta resolveu aceitar o desafio. E o resultado foi a transformação de Silva Pinto, após uma experiência inusitada, que eu conto num outro artigo intitulado Deus tinha dois contos de réis.
É lógico, todavia, que para se realizar esse tipo de tarefa no mundo espiritual não basta querer e ter boa vontade. É imprescindível se ter talento, tanto mediúnico (ser portador da faculdade de desdobramento) como pessoal (desenvolvimento de virtudes), além de se contar com o apoio, sempre indispensável dos Coordenadores Espirituais. Todo aquele que se aventurar nessas experiências, deixando-se levar pelo medo ou pela vaidade, pode obter resultados negativos.
Ivone Pereira conta que sempre ao sair do corpo, procurava atrair a companhia de Espíritos Bons, para estar ao seu lado e, curiosamente, contava sempre com a presença abnegada e serviçal de Espíritos que ela desconhecia, mas que se identificavam como criaturas que ela ajudara nas sessões de desobsessão ou pessoas a quem ela dera pratos de comida em sua casa, um costume que aprendeu com sua mãe, desde que era menina.