A Carta Comprometedora de Elias
O escritor José Reis Chaves, autor do livro A
Face Oculta das Religiões, em um artigo publicado,
em sua Coluna, de 26.04.04, no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, “Ressurreição
de Todos”, dá-nos uma informação interessantíssima. Diz ele:
“E o desaparecimento de Elias vivo confundiu muito os teólogos
sobre a ressurreição. Mas ele ficou na Terra, pois Jorão, depois, recebeu dele uma
carta. (2 Crônicas 21,12)”.
Engraçado como muitas vezes não enxergamos o óbvio, pois realmente,
segundo a narrativa bíblica citada, Elias, depois de ter sido supostamente arrebatado,
enviou mesmo uma carta a Jorão, filho e sucessor de Josafá, de Judá. Confirmam isso
os tradutores da Bíblia de Jerusalém, quando nos oferecem a seguinte explicação
para essa passagem:
“De acordo com a cronologia de 2Rs, Elias tinha desaparecido antes
do reinado de Jorão de Israel (2Rs 2; 3,1) e, portanto, antes de Jorão de Judá (2Rs
8,16; cf. no entanto 2Rs 1,17). O cronista deve utilizar uma tradição apócrifa”.
Mas o que há de extraordinário nisso? Bom, se a passagem mencionada
for verdadeira, e aqui os defensores da inerrância bíblica, por coerência, não podem
aceitar de outro modo, estaremos diante de duas alternativas. A primeira: que Elias
não foi arrebatado, já que envia uma carta. Isso para nós foi o que de fato ocorreu,
uma vez que é difícil sustentar que alguém tenha sido arrebatado de corpo e alma
levando-se em conta que se “Deus é espírito” (Jo 4,24), nós também somos seres espirituais,
já que fomos criados à Sua imagem e semelhança. Por outro lado, se “o espírito é
que dá vida, a carne não serve para nada” (Jo 6,63) e que “a carne e o sangue não
podem herdar o reino dos céus” (1Cor 15,50) não há como compatibilizar corpo físico
na dimensão espiritual. A segunda alternativa, que, por certo, poderá deixar alguns
fanáticos perplexos, é que, se aceitarmos que não há exceção nas Leis Divinas, Elias
morreu, como irá acontecer com todo ser humano; daí, por força das circunstâncias,
teremos que admitir que, do plano espiritual, ele envia uma carta ao rei. Portanto,
uma ocorrência mediúnica, com alguém servindo de médium para receber essa carta
e enviá-la ao destinatário, traduzindo-se isso em uma autêntica psicografia.
A título de curiosidade, observamos que os termos usados nessa
narrativa aparecem, nas diversas traduções bíblicas, ora como “uma carta”, ora como
“uma mensagem” e ora como “um escrito”, mas, no fundo, tudo é a mesma coisa. Lembramo-nos
aqui do saudoso Chico Xavier que recebia, com facilidade uma imensidão de cartas
dos “mortos”.
Na primeira hipótese acima citada, não há nenhum fato bíblico
entre “os arrebatados” que venha a sustentar a possibilidade de que, em algum momento,
um deles tenha se comunicado, por qualquer meio, com os encarnados. Entretanto,
quanto à segunda hipótese, ou seja, a que Elias tenha morrido, podemos comprovar
biblicamente, por dois acontecimentos, os quais vêm apoiar a uma ocorrência dessa
ordem.
O primeiro, narrado em 1Sm 28, 1-25, é um fenômeno mediúnico de
psicofonia, que registra a ocasião em que o rei Saul vai a Endor, para que, através
da pitonisa (médium) que residia nessa localidade, pudesse aconselhar-se com o profeta
Samuel, já desencarnado. Como estava numa situação angustiante, pois se encontrava
cercado pelo exército dos filisteus, queria saber do espírito do velho profeta sobre
o que o futuro lhe aguardava em relação a essa iminente guerra.
O segundo, sempre “esquecido” dos contraditores da comunicação
com os “mortos”, é quando os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, Pedro,
Tiago e João, e conversaram com o Mestre. Classificamos esse fenômeno mediúnico
como de “materialização”, pois esses dois espíritos também foram vistos pelos três
discípulos que testemunharam o fato, que, ao que tudo indica, eram os médiuns doadores
da energia necessária para a produção do fenômeno, a qual chamamos de ectoplasma.
Inclusive, podemos observar que, nos principais fenômenos mediúnicos produzidos
por Jesus, vistos por alguns como milagres, os três apóstolos citados eram convidados
por Ele, para deles participarem, pois só eles, entre os que o seguiam, possuíam
essa energia de forma mais acentuada.
Há ainda um outro evento, que nunca é falado, pois não teria como
ser negado: trata-se do acontecido com o próprio Jesus, que depois de morto comunicou-se
com inúmeras pessoas. E, plagiando o que o apóstolo dos gentios disse aos coríntios,
diríamos: “Pois se os mortos não se comunicam, também Cristo não se comunicou. Se
Cristo não se comunicou ilusória a nossa fé”.
Assim, com essa carta de Elias, acreditamos estar diante de mais
uma ocorrência bíblica, que vem provar a comunicação entre os dois planos da vida,
embora negada sistematicamente por alguns, mas que pode ser corroborada pela própria
proibição bíblica de Moisés de se comunicar com os mortos (Dt 18,9-14), já que Moisés
não era tão louco assim para proibir algo que não existe. Está, portanto, comprovada
pela própria Bíblia, a realidade da comunicação entre os habitantes do mundo físico
com os do mundo espiritual. E como diria Jesus: “Quem tem ouvidos, ouça”.
Maio/2004.
Referência Bibliográfica:
- Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.
- Jornal O Tempo, de 26.04.2004, Coluna de José Reis Chaves, pág.
A8.
(Publicado no Jornal Espírita, julho de 2004, nº 347, FEESP, pág.
11).