Atribuem a Mark Twain a citação da seguinte frase: “Não gosto de elogios.
Nunca acho que falaram o suficiente”.
Essa frase é pitoresca mas tem autenticidade social.
Diante de pessoas que realmente respeitamos, os qualificativos elogiosos são
descabidos e, mesmo, impossíveis.
Vemos em Chico Xavier – homem, médium e obra – um modelo atual concreto para
a escalada humana de evolução, sobre base evangélica à luz do Espiritismo.
Sentimos Chico Xavier sintetizando esse modelo no seu característico de
servidor. Veio à Terra nesta existência preparado para servir conscientemente e
está conseguindo realizar essa meta, em todas as direções.
Não encontramos, em nosso pensamento, nada mais respeitável do que isso.
A primeira prestação de serviços à humanidade, feita pela Doutrina Espírita,
foi a revelação dos Espíritos tornada patrimônio da cultura humana através do
trabalho do Codificador. Nela, a síntese do conhecimento, o básico ponto
de referência, formulado de modo a se colocar ao alcance e à disposição de
todos.
O amor evangélico apresentou novas variações de aplicabilidade, abrindo campo
aos servidores sem fronteiras.
Conseqüentemente surgiu a possibilidade – enfim – de participação plena de
todos os envolvidos na Terra, encarnados e desencarnados, ajudando-se mutuamente
na escalada comum, através da união de esforços e da permuta de experiências.
O Brasil foi sendo chamado: o país da mediunidade e Chico Xavier, o homem
simples e bom de Pedro Leopoldo, ficou considerado o mais querido e o mais
respeitável dos médiuns brasileiros.
Médium desde criança, não aceitou passivamente a mediunidade como quem se
deixa usar.
Afirma que, diariamente, desde a adolescência, estuda e reestuda Jesus e
Kardec. Coloca-se à disposição dos desencarnados dentro da mais exata e completa
adequação aos princípios kardequianos.
Recebeu milhares de mensagens e centenas de livros e continua ainda no mesmo
ritmo de serviço, sem dar importância à sua deficiência visual, ao cansaço das
mãos e à debilidade de sua saúde.
Diz: “Todo o trabalho dos livros se deve apenas à bondade do plano
espiritual”.
À luz dos esclarecimentos espíritas o que ele diz é certo. Embora
certo, é incomum e desconcertante diante dos hábitos de acomodação e das
omissões ao serviço que cada um deve prestar na Terra..
Ele tem dito que se esforça continuamente para viver de acordo com os
princípios que aceita.
Essa é uma afirmação muito lógica e até bastante freqüente. A diferença
é que ele tem conseguido pleno resultado.
Sem nenhum artificialismo nem falsa modéstia disse várias vezes: “Sou menos
que um grão de areia”, e o disse com acerto porque é isso mesmo que cada ser é,
em relação ao universo do Criador.
A maioria dos homens se casa e gera filhos, aprendendo por esse meio a
transitar do egocentrismo para a expansão, através da interdependência e da
afetividade familiar.
Algumas vezes ele repetiu que seus filhos são os livros. Pensamos que teve de
fazer uma opção, E fez essa, para felicidade nossa. Ao contrário da maioria,
que limita suas doações sob critério de consangüinidade, os “filhos” desse “pai”
são doados à humanidade sem quaisquer limites ou discriminações.
Pelos seus livros, traduzidos em vários idiomas, tornou-se uma pessoa célebre
e, inevitavelmente, um homem de notoriedade pública, requisitado pelos meios de
comunicação e de cultura de seu país e de países estrangeiros.
Denominaram-no: paranormal, homem-psi, santo, portador de fenômenos do
próprio inconsciente ou do inconsciente coletivo, etc.,etc.
Estudaram seu eletroencefalograma, observaram se seus olhos permaneciam
fechados durante as psicografias, compararam letras, estilos e notícias, levaram
seus livros até aos tribunais, tentaram testes comuns da recém-nascida
parapsicologia, intencionando medir a existência ou não de capacidades
determinadas, etc.,etc.
Chico Xavier permaneceu sempre o mesmo, diante de qualquer circunstância: um
médium espírita a serviço das necessidades humanas.
Seu exato posicionamento se afirmou no seu próprio depoimento: Um
humilde servidor da doutrina codificada por Allan Kardec.
Convidado, atendeu às solicitações – a todas permitidas pela sua agenda de
serviços – algumas vezes “para não ser descortês com amigos”.
Através de suas entrevistas públicas, dos diálogos abertos e de suas
atividades, sempre homogêneas entre si, Chico Xavier se expôs como pessoa e
pôde-se perceber nele a exemplificação viva do conteúdo de suas psicografias.
Alguns comentaram, durante as interrogações do povo: “Como podem ser feitas
perguntas tão banais?” Foram comentários prematuros diante das suas respostas
sábias que conseguiram encontrar o valor oculto como quem perfura um poço até
achar água pura.
Quantos disseram, piedosa e ingenuamente: “Por que o sacrifício de sair da
intimidade de seu grupo e do recolhimento na oração e na comunhão com os bons
espíritos?”
Pensamos que a resposta é mais um decalque no seu característico de servidor.
Coerentemente, fez o que devia e o que precisava ter feito.
O conteúdo de sua obra mediúnica não se destina somente ao esclarecimento
teórico, à consolação dos que choram ou ao sonho de um mundo melhor.
Apresenta subsídios e bases para um plano concretizável, imperioso e urgente,
se o que se busca é a paz e a felicidade.
Os homens precisam de idéias que se mostrem verdadeiras e tenham ilustrações
vivas, para que não pareçam utópicas.
Em Chico Xavier não se percebe a mínima discrepância entre o homem, o médium
e o conteúdo da obra. Esses três aspectos estão unificados na sua personalidade.
O “Livro dos Espíritos, em 1857 marca o primeiro impacto da doutrina espírita
no século”, disse o Prof. J. Herculano Pires.
Pensamos que Chico Xavier, na sociedade atual, envolvida pela ansiedade, pela
insegurança, pelo sofrimento e pela expectativa, representa absolutamente sem o
desejar, um novo impacto.
Não se manifesta como se fosse a projeção das aspirações da época, tal como
os líderes das várias áreas de expressão humana. Ao contrário (daí o
impacto), surpreende pela identificação das necessidades básicas partindo de
direção oposta às direções costumeiras.
Sua vida, sua mediunidade e sua obra surpreendem porque são respostas
inesperadas que, de repente, se tornam reconhecidas como as únicas verdadeiras.
Digamos melhor, traz identificações e respostas que ultrapassam as barreiras
dos raciocínios comuns e atingem a raiz espiritual da vida interior. Ligam-se às
causas fundamentais e então tudo fica clarificado. Voltam aos efeitos, modulando
um novo estilo de vida que é o exatamente adequado às necessidades
identificadas.
Esses característicos, a nosso ver, impedirão, a quem quer que seja, de o
transformar, agora ou mais tarde, em um “mito”.
Os “mitos” não são pessoas. São partes da pessoa, qualidades, tipos de
expressões supervalorizadas por grupos irrequietos, na época em que vivem. A
preservação dos mitos está na medida em que se ocultam sob a capa dessas
qualidades.
Interesses variados proporcionam as situações e comumente as criam, com
descaso pela pessoa, que passa a viver dicotomizada.
Quando alguém tornado “mito” fica conhecido em seus outros aspectos, na vida
familiar, no cotidiano, nos hábitos e nos pensamentos próprios, o “mito” pode
cair como louça lançada ao chão.
Mais frequentemente, o passar do tempo os reduz às proporções de resquícios
do passado e raramente ultrapassam uma década.
Nos tempos antigos, a mitologia concentrava símbolos que, de certa forma,
enriqueceram a cultura e preservaram valores dignos de nota.
Atualmente, o mito ligado a uma coletividade ou fechado em etnocentrismos só
é explicado como reforço necessário para sustentar a insegurança.
No campo religioso, o fanatismo, a sofisticação externa, o ritualismo, o
isolamento ou as atitudes místicas, podem abrir campo às “mitificações”.
Chico Xavier não apresenta nenhuma relação com o assunto acima. Sua vida de
homem e de médium encontra perfeita explicação inserida na sua identidade
espírita.
Se “o pensamento é o homem” diremos que a doutrina codificada por Allan
Kardec é que justifica a personalidade de Chico Xavier.
A sua capacidade de empatia, colocando-se no lugar do outro para compreender
e desculpar sempre: a valorização de todas as variedades, até as que nos
parecem mais negativas; o autêntico respeito pela dignidade das pessoas e de
suas funções; a indiscriminação total; a aptidão para descobrir a pérola na
rocha e a flor na lama; o equilíbrio de suas sublimações… tudo isso que, na
verdade, poderiam caracterizar “um santo de nosso dias”, são absolutamente
coerentes com o programa de vida superposto aos princípios doutrinários do
Espiritismo.
Dissemos que Chico Xavier é um impacto para a nossa sociedade porque
mostra a ela uma nova concepção de vida.
Honestamente, achamos que é um impacto maior para o nosso meio espírita que,
sendo capaz de compreender suas motivações, permanece tão arrastadamente aquém
de sua exemplificação. No dia 2 de abril Chico Xavier completou 90 anos de
uma vida repleta de amor.
Nosso sentimento de gratidão é ilimitado e nossa homenagem ao emérito
servidor excede a qualquer palavra.