Crime Premeditado
Há poucos dias, um crime bárbaro sacudiu a opinião pública,
quando, nos EUA, no Estado do Texas, foi executada, por injeção letal, uma
mulher acusada por um brutal e duplo assassinato, há 14 anos.
O fato não é novo, a não ser pela questão de que a moça foi a
primeira mulher executada, naquele Estado, desde o ano de 1863.
O mundo todo pediu clemência para ela: grupos feministas,
grupos religiosos. Nada lhe valeu. No dia 3 de fevereiro, recebeu o coquetel de
drogas que, em 8 minutos, a matou.
O que estarrece é a forma premeditada e ordenada com que tudo
foi executado. Embora seja considerado o método mais indolor, os detalhes nos
provocam calafrios e nos reportam a outras formas de crimes, cometidos nos 95
países que hoje adotam a pena de morte: a cadeira elétrica, concebida em 1890; a
câmara de gás, surgida em 1924; o fuzilamento que, só na China, em 1996, roubou
a vida de 4.316 pessoas; a morte por lapidação. Esta última usada em alguns
países islâmicos como a Arábia Saudita, o Sudão e o Irã. Sem deixarmos de
mencionar que, em 1789, o médico Joseph Guillotin propôs o uso da guilhotina, na
Assembléia Francesa. Embora hoje não seja mais utilizada, chegou a ser adotada
na Bélgica e na Alemanha, além de França, onde se encarregou de decapitar nobres
e quaisquer outros que ousassem interpor-se à Revolução e ao Período do Terror,
que se lhe seguiu. O próprio Guillotin foi vítima de seu invento.
Tudo isto nos leva à reflexão de como o homem tem se esmerado
na destruição do seu semelhante. Contudo, nada que a justifique.
Em alguns países, mormente os islâmicos, a pena de morte é
prescrita para os casos de adultério e incesto. Em outros, a penalidade máxima é
atribuída a vários crimes, ditos hediondos. O que se caracteriza como hediondo
varia tanto quanto os conceitos das nações: assassinato, violência sexual com
morte, seqüestro, etc.
Os que vibram pela pena de morte, de um modo geral, não se
apercebem de algumas particularidades:
1º – que a sua prescrição não diminui a incidência da
violência e da criminalidade. A história tem assim demonstrado;
2º – se a violência e o crime se faz necessário banir, há que
se lhe buscar as causas, as origens e trabalhá-las. Matar os elementos que
cometem os atos de barbarismo não estará contribuindo, de forma alguma, para
erradicação do problema.
Investir na educação e sanear os bolsões de miséria,
dignificando as vidas dos que ali se rebolcam, é medida salutar.
O homem enobrecido pelo trabalho que lhe dê sustentação aos
dias e a garanta aos que são sua responsabilidade é criatura operosa e
colaborador do bem estar geral.
O ser iluminado pela educação é pessoa que tem condições de
enfrentar desemprego, turbulências financeiras, dificuldades de todo jaez. Se à
educação se aliar a fé religiosa, que convida ao bom senso e à grandiosidade,
melhor ainda o panorama da harmonia;
3º – se o Estado, em nome do que denomina Justiça, premedita o
crime e o executa em todas as nuanças, admite não respeitar a vida do cidadão.
Se tal não faz, com que direito exigirá do cidadão o respeito à vida do seu
semelhante?
A diferença entre o executante de agora e o executado reside
somente na oportunidade, no móvel e na condução do processo morte;
4º – se a moral prescreve, desde o Decálogo, que a regra é
“não matar”, por que nos arvoramos em destruidores de alheias vidas?
5º – se cremos na alma e, consequentemente, na sua
imortalidade, que pretendemos com a pena de morte, senão somente um translado da
criatura de uma dimensão material, visível, para outra espiritual, invisível,
sem alteração do quadro de paixões vis e revoltas injustificadas ?
Matar, nunca. Não somos os detentores da vida, nem fomos
guindados pela Divindade ao grau de juizes impiedosos e carrascos duros.
A lei é de amor. Em seus ensinos, ditou o Mestre de Nazaré:
“Amai-vos uns aos outros.” Condição alguma estabelece ele. Nem condição ética,
ou moral, ou religiosa. Tendência alguma.
Com certeza se dirá que é muito difícil amar os criminosos,
seres rudes, frios, que exercem a crueldade com um sorriso irônico nos lábios.
Nesse caso, se a lição do Mestre ainda não conseguiu nos dulcificar os corações
para a conjugação do verbo amar, aprendamos a desculpar, perdoar e auxiliar,
sempre. Mesmo porque o maior Inocente de que temos notícias, ao expirar no
suplício da Cruz, legou-nos a lição máxima, com as palavras: “Pai, perdoa-lhes
porque não sabem o que fazem.”
E o perdão da Divindade chama-se reencarnação.
(Jornal Mundo Espírita de Março de 1998)