Curso de Introdução ao Espiritismo Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec – Parte 1 As Mesas Girantes
A história das irmãs Fox se divulgou rapidamente, e de todas as partes
tiveram lugar manifestações do que se chamava então de telegrafia espiritual.
Cansou-se logo desse procedimento tão incômodo, e os próprios batedores
indicaram um novo modo de comunicação. Era necessário simplesmente se reunir ao
redor de uma mesa, colocar as mãos em cima, e em se erguendo, enquanto se
recitava o alfabeto, a mesa bateria um golpe a cada uma das letras que o
Espírito queria dar. Esse procedimento, se bem que muito lento, produzia
excelentes resultados, e se tinha, assim, as mesas girantes e falantes.
É preciso dizer que a mesa não se limitava a se elevar sobre um pé para
responder às questões que se lhe colocavam; ela se agitava em todos os sentidos,
girava sob os dedos dos experimentadores, algumas vezes se elevava no ar, sem
que se pudesse ver a força que a mantinha assim suspensa. De outras vezes as
respostas eram dadas por meio de pequenos golpes, que se ouviam no interior da
madeira. Esses fatos estranhos chamaram a atenção geral e logo a moda das mesas
girantes invadiu a América inteira.
A mesa ensinou um novo procedimento mais rápido. Sob suas indicações, se
adaptou a uma prancheta triangular três pés munidos de rodinhas, e a um deles,
se prendeu um lápis, colocou-se o aparelho sobre uma folha de papel, e o médium
colocava as mãos sobre o centro dessa pequena mesa. Via-se então o lápis traçar
letras, depois frases, e logo essa prancheta escrevia com rapidez e dava
mensagens. Mais tarde ainda, se percebeu que a prancheta era de fato inútil, e
que seria suficiente ao médium colocar sua mão com um lápis sobre o papel, e o
Espírito a fazia agir automaticamente.
Ao lado das pessoas frívolas, que passavam seu tempo interrogando os
Espíritos sobre seus problemas amorosos, ou sobre um objeto perdido, espíritos
sérios, sábios, pensadores, atraídos pelo ruído que se fazia em torno desses
fenômenos, resolveram estudá-los cientificamente, para colocar seus concidadãos
em guarda contra aquilo que chamavam de uma folia contagiosa. Em 1856, o juiz
Edmonds, jurisconsulto eminente que gozava de uma autoridade incontestável no
Mundo Novo, publicou uma obra sobre as pesquisas que havia empreendido com a
idéia de demonstrar a falsidade dos fenômenos espíritas; o resultado final foi
diametralmente oposto e o juiz Edmonds reconheceu a realidade dessas
surpreendentes manifestações. O professor Mapes que ensinava Química na Academia
Nacional dos Estados Unidos, se entregou a uma investigação rigorosa que
terminou, como a precedente, em uma constatação arrazoada, segundo a qual os
fenômenos eram devidos à intervenção dos Espíritos. Mas o que produziu maior
efeito, foi à conversão às novas idéias do célebre Robert Hare, professor da
Universidade da Pensilvânia, que experimentou cientificamente o movimento das
mesas e consignou suas pesquisas, em 1856, em um volume intitulado:
Investigações experimentais da manifestação Espírita.
Desde então, a batalha entre os incrédulos e os crentes se engajou a fundo.
Escreventes, sábios, oradores, homens da igreja, se lançaram na refrega, e para
dar uma idéia do desenvolvimento tomado pela polêmica, é suficiente recordar que
já em 1854, uma petição assinada por 15000 nomes de cidadãos, tinha sido
apresentada ao Congresso sediado em Washington rogando nomear uma comissão
encarregada de estudar o “moderno espiritualismo” (este o nome dado na América
ao Espiritismo). Essa demanda foi repelida pela assembléia, mas o impulso tinha
sido dado e viu-se surgir sociedades que fundaram jornais onde se continua a
guerra contra os incrédulos. Em 1852, teve lugar em Cleveland o 1º Congresso
“Espírita” (a palavra ainda não tinha sido inventada). Os Espíritas americanos
enviaram à comitiva do Congresso médiuns da velha Europa. Tinham feito girar as
mesas na França desde 1853. Em todas as classes da sociedade não se falava senão
dessa novidade; Não se abordava quase nada sem a pergunta sacramental: “Bem!
Você faz girar as mesas?” Depois, como tudo que é da moda, após um momento de
graça, as mesas cessaram de ocupar a atenção, que se transferiu para outros
assuntos. Essa mania de fazer girar as mesas teve todavia um resultado
importante, que foi o de fazer as pessoas refletirem muito sobre a possibilidade
das relações entre mortos e vivos.
Em 1854, se contava então mais de 3.000.000 de adeptos na América e uma
dezena de milhares de médiuns. Os adeptos se tornaram igualmente numerosos na
França, mas faltava uma explicação verdadeira, teórica e prática, do estranho
fenômeno. É nesse momento que Allan Kardec que se interessava havia trinta anos
pelos fenômenos ditos do magnetismo animal, do hipnotismo e do sonambulismo, e
que não via nos novos fenômenos senão um ‘conto para dormir em pé’ assistiu a
várias sessões espíritas, a fim de estudar de perto o fundamento dessas
aparições. Longe de ser um entusiasta dessas manifestações, e absorvido por suas
outras ocupações, estava a ponto de os abandonar quando lhe remeteram cinqüenta
cadernos de comunicações diversas recebidas durante cinco anos e lhe pediram que
as sintetizasse : assim nasceu o Livro dos Espíritos.André Moreil
escreveu que, estudando pelo método positivista e codificando o
Espiritismo, « Allan Kardec o salvou do perigo de ser uma simples fantasia, um
divertimento de salão. »
É bom anotar:
- As mesas eram movidas por uma força inteligente.
- Essa inteligência se designava a si mesma sob o nome de « Espírito ».
- A moda das « Mesas Dançantes » teve por efeito fazer numerosas pessoas
refletirem e desenvolver consideravelmente a nova idéia. - O próprio Allan Kardec era, no início, muito cético face aos fenômenos
Espíritas.
Para saber mais:
- O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. (introdução, III à V)
- Allan Kardec, sa vie, son œuvre d’André Moreil. (chap. II)
- História do Espiritismo de Arthur Conan Doyle. (cap. VI,
primeiros progressos…)