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Doutrina Espírita e Humanidade

Doutrina Espírita e Humanidade

Gerson Yamin

“Transformar o homem para transformar o mundo e transformar o mundo para
transformar o homem”.
Herculano Pires

Uma questão muito dúbia e que ainda permeia o cerne do movimento espírita é a
que diz respeito a expressão “materialistas” que comumente é utilizado para
designar àqueles que aparentemente não acreditam em nada além da vida física.

Quando se utiliza o termo, e Kardec o fez muitas vezes, precisamos não
confundi-lo com o MATERIALISMO enquanto doutrina de análise sociológica que
busca, a partir de uma análise das relações e evolução dos modos de produção
humana determinar as formas a partir das quais a historia se manifesta, em
outros termos, a partir das relações MATERIAIS dos modos de produção tenta
explicar os fatos históricos, e a evolução humana.

Portanto, nos parece bem claro que a Doutrina Política chamada MATERIALISMO e
o comportamento individual/social MATERIALISTA são conceitos bastante
diferenciados e que não podem ser confundidos.

Se não, vejamos: Existem muitos cristãos (católicos, espíritas, etc…) que
apesar de se dizerem espiritualistas, condenando os MATERIALISTAS, por não
acreditarem em nada além da vida, levam uma vida social baseada no consumo
exacerbado, nos prazeres frugais, na exploração de seus trabalhadores (quando os
tem), preocupados cada vez mais com o TER em detrimento do SER, pois “…numa
sociedade fundada na busca do lucro exagerado e do enriquecimento privado,
dominada pela competição, pelo egoísmo e pela “eficácia econômica” obtusa, os
recursos são utilizados sem atentar para a suas conseqüências de longo prazo e,
ainda menos, às suas repercussões sobre a natureza”. Por outro lado conhecemos
muitos que defendem o MATERIALISMO enquanto Doutrina política e social, não se
dizem espiritualistas mas levam uma vida preocupados em melhorar as condições
humanas, combatendo a pobreza (e não os pobres), buscando humanizar a
humanidade, buscando diminuir as diferenças sociais, tentando fazer com a
sociedade torne-se mais justa, fraterna, menos desigual…uma sociedade onde
todos tenham acesso aos mesmos direitos de cidadão (saúde,educação,segurança),
onde a miséria possa ser aliviada através da geração de emprego e renda (uma das
causas que levam as pessoas ao mundo das drogas/álcool), enfim…uma sociedade
mais humana, pois, “…durante os últimos anos o poder do dinheiro apresentou
uma nova máscara sob o seu rosto criminoso. Por cima de fronteiras sem importar
raças ou cores, o poder do dinheiro humilha dignidades, insulta honestidades e
assassina esperanças. Renomeado de neoliberalismo, o crime histórico da
concentração de privilégios, riquezas e impunidades democratiza a miséria e a
desesperança”.

Portanto concordamos com Herculano Pires, para que realmente aconteça
evolução torna-se necessário duas coisas que andam juntas e são inseparáveis, e
não se pode dizer que são independentes: mudança individual, sim, pois
precisamos nos equilibrar, nos tornar mais humanos, sem hipocrisias, sem
fanatismos, mas também contribuir para as melhorias sociais, permitindo que
aqueles mais comprometidos tenham suas dores aliviadas convivendo numa sociedade
mais fraterna e justa. A fim de que possamos, em outras vidas, desfrutar desta
sociedade que ajudamos a construir, sem que isso implique em pervertermos os
nossos valores espirituais. Entendo que devemos contribuir para o avanço das
criaturas mediante trabalhos espirituais de esclarecimento, de transfusão de
energia através do passe, de obras assistenciais, da mediunidade, etc…mas, e
também, devemos contribuir com a sociedade onde estamos inseridos, sendo
críticos (não confundir com maledicência), esclarecidos com relação a Direitos
Humanos inalienáveis, defendendo-os como forma de gerar consciência social.
Somente assim evoluiremos sem dicotomizar o social do individual, pois afinal
somos todos frutos de UM SÓ e para ELE devemos trabalhar.

(Publicado no Boletim GEAE Número 373 de 30 de novembro de 1999)