Entrevista com Richard Simonetti
Grupo de Estudos Avançados Espíritas – GEAE
PROJETO ENTREVISTA ELETRÔNICA
entrevista nº 2, ano 1996
1 – A divulgação do Espiritismo, bem como de outras religiões, poderá sofrer impactos nunca vistos, com a possibilidade de uso intensivo da rede Internet em todo o mundo. Como você sugere que deveria ser a presença de nossa Doutrina na rede, se de uma maneira não articulada ou coordenada, a cargo de pessoas espíritas, engajadas no Movimento Espírita e com grande entusiasmo, porém, sem terem toda a experiência e conhecimento necessários, ou via a utilização de recursos que eventualmente pudessem ser disponibilizados pelo Movimento Espírita, através da FEB e/ou órgãos federativos, como a USERJ e USE, devidamente coordenados?
Não podemos perder o bonde da História. Mais do que nunca o Mundo precisa do conhecimento espírita. Embora sejam respeitáveis todos os esforços isolados, é indispensável e inadiável que nossos órgãos de unificação despertem para as potencialidades das estradas de comunicação como a Internet. Tenho conversado com muita gente a respeito. A família espírita está disposta a colaborar pecuniariamente. Falta a iniciativa de nossos dirigentes, organizando-se nesse sentido.
2 – Freqüentemente, observamos na grande imprensa uma grande confusão de conceitos, especialmente no que tange à menção de assuntos de umbanda e/ou candomblé, como se fossem de Espiritismo. O que você sugeriria no sentido de melhor esclarecer e difundir junto à opinião pública o que é verdadeiramente o Espiritismo?
Esse trabalho de esclarecimento, feito precariamente na mídia, por companheiros eventualmente convidados, somente alcançará um patamar razoável quando criarmos nossos próprios programas de divulgação, envolvendo particularmente a televisão, o que também depende da iniciativa de nossos órgãos de unificação.
3 – Sistematicamente, creio que há vários anos, o bispo católico da diocese de Novo Hamburgo, RS, D. Boaventura Kloppenburg, vem criticando os espíritas e a Doutrina Espírita, em órgãos da imprensa, tal como o Jornal do Brasil. Tenho visto, eventualmente, algumas réplicas por parte do presidente da USEERJ, Gerson Simões Monteiro, procurando esclarecer de forma precisa, em conformidade com o Espiritismo, sempre com o cuidado de não ser deselegante. Pergunto a sua opinião, se cabe, também, às pessoas espíritas redigirem cartas, contestando alguma coisa divulgada de maneira errônea na mídia, porém com o risco de que a contestação não seja formulada precisamente, dando ensejo a novas críticas de adversários do Espiritismo e aí, talvez, fundamentadas?
O citado sacerdote é um divulgador incansável da Doutrina Espírita. Desperta interesse de muita gente com suas críticas. Não há por que temer a iniciativa de confrades que manifestam sua indignação, ainda que o façam sem muita competência, ensejando tréplicas fundamentadas. É mais propaganda. A Doutrina deverá se impor, como o vem fazendo, pela sua obra social, a demonstrar a excelência de seus princípios que nos fazem mais conscientes e mais participativos na vida social.
4 – O Centro Espírita é o elemento chave para o Espiritismo, onde o homem irá encontrar o amparo, o conhecimento e o trabalho, necessários ao seu aperfeiçoamento moral. No sentido de melhorar continuamente o funcionamento do Centro, verifica-se, algumas vezes, a necessidade de se ampliar o mesmo a fim de dar melhor funcionalidade às suas atividades. Esse é o caso do Centro que freqüento, onde obras estão sendo realizadas para aumentar o número de salas e melhorar os trabalhos de Evangelização Infantil, Mocidade e Atendimento Fraterno. O que sugere, sempre a luz da Doutrina Espírita, como possíveis atividades válidas para obtenção de recursos financeiros para realização desse tipo de obra? Em tempo, destaco que rifas, bingos e assemelhados não de forma alguma utilizados em nossa Casa. Para obtenção dos recursos financeiros estamos realizando eventos do tipo almoço fraterno e atividades como venda de brindes, de camisetas com motivos espíritas, e de livros espíritas, em conjunto com as doações recebidas dos sócios e freqüentadores da Casa.
É preciso mobilizar recursos para fazer face aos serviços prestados pela casa espírita, particularmente assistenciais, que envolvem expressivas despesas. Não devemos solicitar donativos em nossas reuniões doutrinárias o que sugeriria cobrança por benefícios espirituais, mas mister se faz conscientizar as pessoas de que Espiritismo é trabalho, criando uma mentalidade participativa e solidária. Almoços beneficentes, tardes da Pizza, bazares, artesanato, dentre outras atividades, são excelentes iniciativas para promover a integração e confraternização dos freqüentadores da Casa Espírita, além de atender às suas necessidades financeiras. Em Bauru, sob o patrocínio da USE-Bauru, há uma feira anual que reúne dezenas de entidades espíritas. Durante dois dias há venda de artesanato, lanches, salgados, livros, conservas, congelados, roupas, etc., com excelentes resultados. Também em Bauru temos uma rifa beneficente, realizada anualmente com autorização da Receita Federal, da qual participam centenas de entidades de todo o Estado de São Paulo. Não entendo a rifa como atividade perniciosa, capaz de estimular o vício do jogo, assim como não entendo os quitutes de uma promoção beneficente como algo capaz de estimular a gula, ou os bazares como estímulos ao consumismo.
5 – Como você vê a questão da Transcomunicação Instrumental (TCI) no Brasil? As pesquisas são sérias, profundas e à luz da Doutrina Espírita? E no exterior?
Na questão 934, de O Livro dos Espíritos, o mentor espiritual que responde a Kardec informa que no futuro haveria meios mais diretos e mais acessíveis para a comunicação com o Espíritos. Parece-nos que esse futuro chegou, com a TCI. No Brasil conheço grupos espíritas que desenvolvem com seriedade esse trabalho. Há notícias de que o mesmo ocorre no exterior, particularmente na Europa, com um detalhe: as experiências por lá são realizadas sem vinculação com a Doutrina Espírita. Os europeus estão redescobrindo o intercâmbio com o Além graças à TCI.
6 – Temos em algumas publicações espíritas, tais como Reformador e Correio Fraterno do ABC, uma certa intolerância mútua, digamos assim, quer por questões doutrinárias (Roustaing), quer por questões de forma de ação (CEPA), quer por questões de fundo econômico (edição de livros espíritas). Este tipo de conduta, com certeza, não traz benefícios ao Movimento espírita, causando uma certa confusão e perplexidade entre os espíritas. Como você vê esse tipo de comportamento, e que sugestões teria a dar para que as eventuais arestas, ora existentes, possam ser corrigidas?
Considerando que nosso mundo é a morada da opinião, é normal que tenhamos divergências, até sobre questões doutrinárias. Inaceitável, porém, tendo em vista a própria orientação da Doutrina Espírita, o clima de beligerância que se estabelece, não raro, envolvendo companheiros que confundem veemência com agressividade, ou defesa da verdade com hostilidade. A solução está em nos colocarmos sempre no lugar daqueles que criticamos, perguntando-nos como nos sentiríamos se fizessem o mesmo conosco.
7 – Há pouco mais de um mês meu querido avô desencarnou e senti a necessidade de amparo espiritual naqueles momentos difíceis. Graças a Deus já havia lido o seu livro Quem Tem Medo da Morte? Na época tal publicação foi de relevada importância como guia e alívio espiritual. Gostaria de saber como posso obter informações confiáveis sobre o estado de meu avô no plano espiritual.
Chico Xavier diz que o telefone toca de lá para cá, reportando-se ao fato de que as notícias do além devem ser da iniciativa dos Espíritos. E para tanto não há a necessidade de médiuns. Freqüentemente, quando é possível, entramos em contato com nossos entes queridos durante as horas de sono, guardando nítidas lembranças, na forma de sonhos.
8 – Como convencer uma pessoa amiga com respeito à Doutrina Espírita?
O melhor caminho para uma iniciação é o livro espírita. Se a pessoa gosta de ler ofereça-lhe livros compatíveis com suas preferências e cultura. A literatura espírita é vastíssima e atende a todos os gostos.
9 – Gostaria de obter maiores informações a respeito de como se processa o efeito das pílulas anticoncepcionais no corpo espiritual. Se verdadeira a afirmação de que estas podem vir a lesá-lo.
As conseqüências estão relacionadas com as motivações do usuário. Se a mulher usa pílulas porque não deve engravidar, atendendo a recomendação médica ou a ponderado planejamento familiar, não há por que preocupar-se. Se o faz porque é adepta do sexo promíscuo, costuma trair o marido e não quer complicações, certamente enfrentará problemas.
10 – De que forma a vasectomia poderia afetar o perispírito quando esta for praticada somente por interesse de satisfação sexual e fuga da responsabilidade familiar?
O perispírito será afetado por desajustes nos centros genésicos, dando origem, na presente existência ou em futura, a problemas como infecções renitentes, esterilidade, impotência, câncer, prostatite?
11 – Gostaria, se possível, de coletar maiores informações sobre o Espírito Ramatis e saber por quais motivos seus livros não são reconhecidos pela Federação Espírita Brasileira.
O problema de Ramatis é que nem sempre suas afirmações estão de acordo com os princípios espíritas. Representam a opinião de um Espírito, contrapondo-se ao princípio da universalidade das idéias espíritas, criteriosamente codificadas por Allan Kardec, que se serviu de vários médiuns.
12 – Você acha que às vésperas do III Milênio a civilização ocidental poderia encarar o fenômeno da morte de uma forma tão tranqüila quanto à oriental?
Isso acontecerá mais cedo ou mais tarde, na medida em que se difundam os princípios espíritas que, literalmente, matam a morte, oferecendo-nos uma gloriosa visão das realidades espirituais.
13 – Como você classifica, num contexto de coletividade, o desencarne de seres que são, durante a vida, considerados como mitos no Brasil (ex. Senna, Mamonas Assassinas). A comoção generalizada que esses desencarnes causam no seio de nossa sociedade, tem alguma função espiritual?
Esses acontecimentos estão vinculados ao comportamento e aos problemas cármicos dos envolvidos. Não obstante sempre repercutem no seio das coletividades que, por momentos, cogitam da problemática da morte e da efemeridade da vida. Fazem as pessoas pensarem.
14 – Em primeiro lugar pergunto se esse ilustre divulgador dos postulados espíritas já tem conhecimento do nosso programa mensal “Espiritismo Via Satélite”, transmitido daqui de Belém ou de qualquer parte do País, para todo o Brasil e outros países onde alcança o nosso BRASILSAT, programa esse que vai contar com a sua participação num momento qualquer para conversarmos sobre as maravilhas com que você tem brindado as criaturas com os seus livros e também suas palestras.
Estive presente na sala de conferências via satélite, da Embratel, em Bauru, quando pela primeira vez um programa dessa natureza foi transmitido para todo o Brasil, partir de Belém. Não sabia da continuidade desse trabalho. Tomo conhecimento com muita satisfação. É preciso colocar o Espiritismo na mídia, para que concretize, o mais breve possível sua grandiosa missão, retirando o homem de seu milenar descaso pelos valores espirituais. Será motivo de muita satisfação para mim participar de qualquer iniciativa dessa natureza.
15 – Que sugestão você tem a dar a esta questão horrível do movimento espírita brasileiro carregado de críticas e verdadeiras agressões aos companheiros da mesma crença, principalmente através da imprensa espírita, em ataques verdadeiramente violentos, àqueles irmãos que lêem os livros de J.B. Roustaing (vale salientar que não sou “roustenguista”, nem qualquer outro ista). Será que não é hora dos espíritas procurarem se mirar um pouco mais no Evangelho e olharem para si mesmos, antes de tomarem iniciativas de agredirem os próprios irmãos de ideal?
Endosso em gênero e número suas palavras. Há quem entre para o Espiritismo sem que o Espiritismo entre em seu coração.
16 – Antes de se tentar explicar o Espiritismo pela Ciência é necessário explicar a Ciência pelo Espiritismo?
A Ciência sempre encontrará um precioso apoio na Doutrina Espírita para uma visão objetiva do Universo e da Vida. No entanto, para que isso aconteça em plenitude é necessário que seja aceita pela comunidade científica, a partir do empenho em “explicar o Espiritismo pela Ciência”.
17 – Você não acha que a nossa Casa Mater, a FEB, está omissa na questão da divulgação em massa da nossa querida Doutrina? Nossos amigos evangélicos jamais deixariam passar em branco questões caluniosas a respeito deles. No entanto, temos que conviver quase que diariamente com telejornais, programas de entrevistas e outros, onde a Doutrina Espírita é tratada como se fosse Umbanda, Mediunismo, etc. O que você pensa a respeito?
O Espiritismo cresceu tanto no campo dos serviços prestados à coletividade, que todas as críticas por profitentes de outras religiões, envolvendo os meios de comunicação, acabam por ter feito contrário, desgastando as crenças daqueles que as emitem. Não obstante, concordo que o movimento espírita está omisso em relação às possibilidades de divulgação pela mídia. Um programa de televisão espírita de alcance nacional, organizado pelas entidades federativas com a colaboração da família espírita, convocada a contribuir para isso, teria um alcance inestimável.
18 – Algumas vezes, em meus pensamentos sobre a existência de tudo (Deus, mundo físico, mundo espiritual e suas inter-relações), fico muito confuso de como tudo se iniciou, se Deus é o nosso criador, quem é o criador de Deus? Se tentarmos descobrir uma resposta para esta questão ficamos loucos. O que você poderia falar sobre isto? Será que não estamos preparados para a compreensão desta questão? Como nós sabemos o mundo espiritual não nos permite conhecer tudo, porque ainda não estamos em condições de compreender.
Não estamos impedidos de divagar a respeito desse assunto, mas será perda de tempo, algo como uma criança de três anos cogitar da física quântica. Quando detivermos maturidade intelectual e espiritual, nos planos mais altos, teremos acesso a essas informações.
19 – Faço parte de um grupo espírita no Rio de Janeiro e tenho 21 anos. Neste grupo, participo de algumas reuniões, sendo uma delas uma reunião de treinamento mediúnico. Então, lá vai minha pergunta: como não possuo potencial mediúnico desenvolvido, tenho muitas dúvidas a respeito de minhas psicografias e psicofonias. Como devo enfrentar esse problema? Continuo esse trabalho sem ter certeza de que é um espírito realmente que se comunica por meu intermédio?
Essa é a grande dúvida do médium iniciante, que tem dificuldade para distinguir o que é dele e o que é do comunicante. Kardec recomenda, em O Livro dos Médiuns, que a melhor maneira de resolvermos a questão é pelo treinamento, exatamente o que você está fazendo. Estude, ore e confie, deixando ao tempo a definição quanto às suas potencialidades. Considere a atividade inicial um mero treinamento para o exercício mediúnico futuro.
20 – Em relação ao livre-arbítrio, importante e fundamental à evolução humana (visto que concebemos a encarnação como primeira prova que faremos de nossa liberdade de agir, pensar e falar), gostaria de compreender melhor sobre o certo e o errado. Claro que o certo é tudo o que gera o bem, partindo do bem maior que é Jesus. Mas como medir o bem? Como trilhar o melhor caminho, se existem tantas estradas, só existe uma correta? Quando nos decidimos por um lado, sempre deixamos de vivenciar algo para viver outras situações. Como saber qual é a melhor decisão?
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo o Espírito Verdade recomenda que nos amemos e nos instruamos. Esse é o caminho fundamental de nossa realização como filhos de Deus. Na medida em que cultivarmos os valores do conhecimento, buscando entender a vida e seus objetivos, e procurando fazer ao semelhante o bem que desejaríamos nos fosse feito, que é o amor em ação, não vacilaremos quanto ao que nos compete em qualquer setor de atividade humana.
21 – O que poderemos fazer trabalhando na área de informática mais especificamente Internet e Telecomunicações, para desenvolvermos um trabalho assistencial, já que estamos muito isolados do humanitário?
A divulgação das idéias espíritas constitui um precioso investimento no atendimento de uma das necessidades básicas do ser humano – o esclarecimento espiritual. Acredito que poderemos também incrementar serviços de apoio específico a pessoas necessitadas, como providenciar internação para doentes, conseguir remédio raros, reunir recursos para socorrer uma família? Lembro-me de um notável filme francês que descreve a mobilização de radioamadores em inúmeros países para conseguir um remédio para a tripulação de um barco pesqueiro que fora envenenada por comida deteriorada. Via Internet há um imenso campo a ser desenvolvido pela família espírita.
22 – Como você vê a agressividade de muitos espíritas aos irmãos e crença que lêem livros de Roustaing, por exemplo? Não sou roustainguista. Aliás nem gosto dessa palavra, mas respeito a liberdade de cada um ler o que prefere.
Como diz o velho ditado, “cada um dá o que tem”. Há companheiros que julgam dar força aos seus argumentos usando a clava. Também não sou roustainguista e preferiria que não falassem tanto dele, como o fazem aqueles que a pretexto de esclarecer a comunidade espírita sobre uma “ameaça” que não significa nada para 99,99% dos espíritas, são seus grandes divulgadores.
23 – Considerando as dificuldades econômico financeiras, o desemprego, que a classe média vem enfrentando, como orientar o jovem espírita para a vida (lazer, sexo, família), sem o risco da desesperança que parece contagiar a juventude? (inclusive com incidência de suicídio entre os jovens)
O jovem espírita que comete suicídio revela total ignorância dos princípios codificados por Kardec. Um mínimo de esclarecimento a respeito das conseqüências funestas do auto-aniquilamente funciona como infalível vacina contra o suicídio. O conhecimento da Doutrina nos permite enfrentar com segurança os desafios da vida, demonstrando, sobretudo, que nossa felicidade não está subordinada à satisfação de nossos desejos. É preciso, se queremos ser felizes, que entendamos o que a vida espera de nós. Nesse particular o Espiritismo é imbatível.
24 – Como orientar o jovem espírita que gosta e se sente bem em bares, boates, etc.?
O Espiritismo é a Doutrina da consciência livre. Não estamos impedidos de entrar em nenhum lugar. Importante saber como vamos sair. E deve o jovem espírita ter consciência de que nesses ambientes há uma pressão muito grande da espiritualidade inferior, estimulando os impulsos do sexo promíscuo, do vício e da licenciosidade. Não é fácil conservar ali a integridade espiritual. O apóstolo Paulo dizia: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convém.Seria interessante pensar nisso.
25 – Como orientar o adolescente espírita com relação ao sexo durante o namoro?
O problema na atualidade, quanto ao namoro, é que as pessoas tendem a confundir amor com sexo. Quando se fala em amar, pensa-se em “transar”. Invertem-se as posições. O grande desafio em se tratando do jovem espírita, é passar-lhe a convicção de o sexo deve ser a culminância de uma ligação afetiva, consolidada por longa convivência, jamais o seu início.
26 – As rifas para conseguir fundos para obras de caridade são válidas ou não?
Há um projeto de lei que visa legalizar os cassinos. Num programa de televisão, um dos debatedores dizia-se contrário aos cassinos mas favorável aos sorteios como a loteria. Explicava que os cassinos estão associados ao vício do jogo, levando muita gente a dilapidar fortunas, um verdadeiro azar na vida da pessoa, enquanto que os sorteios, como da loteria jamais fazem viciados a gastar compulsivamente seus recursos, situando-os como inocente tentativa de experimentar a sorte. Penso da mesma forma e acho um absurdo colocar uma rifa beneficente no patamar de uma indução ao vício do jogo.
27 – O corpo de Jesus fora fluídico ou não?
No capítulo XV, de A Gênese, Allan Kardec deixa bem claro que Jesus foi um Espírito encarnado, como todos nós que mourejamos na Terra.
28 – No livro A Gênese, uma comunicação de Galileu (segundo o médium), diz que Marte não tinha satélites. Sabemos há muito tempo que Marte tem 2 satélites (aliás isso foi descoberto poucos anos depois dessa comunicação). O médium era astrônomo e responsável pelo observatório real da França (infelizmente esqueci o nome dele). É possível que essa comunicação tenha sido um fenômeno anímico e não uma comunicação real? Se foi então ela conseguiu passar pelos cuidados de Kardec?
O médium foi Camilo Flammarion, célebre astrônomo francês e é notável lembrar que ele tinha apenas 20 anos quando psicografou as mensagens que deram origem ao capítulo VI, de A Gênese, um dos mais importantes, denominado por Kardec “Uranografia Geral”. Quanto ao equívoco sobre os satélites de Marte podemos atribuí-los à um problema de filtragem mediúnica, não detectado por Kardec, mesmo porque nada se sabia a respeito do assunto.
29 – O uso da palavra magnetismo ainda no meio atual do movimento espírita não induz ao pseudo-cientificismo? É compreensível na época de Kardec o seu uso e o uso da idéia de eletricidade para explicar os fenômenos espíritas, inclusive porque o elétron só foi descoberto no final do século passado. Mas hoje em dia, eletricidade e magnetismo são dois conceitos bem definidos em Física. Toda vez que vejo esses termos sendo usados sem os devidos cuidados sinto que em vez de ajudar a doutrina isso pode atrapalhá-la. Por que não mudar a expressão campo magnético por campo atracional ou outra palavra qualquer?
Confrades ligados às áreas da física, quando abordam o assunto junto aos seus pares, devem explicar essas expressões, reportando-se ao fato de que representavam um grande avanço na época em que foram utilizadas. Não podemos, entretanto, modificar os textos da codificação sob pena de cometermos adulteração. E para uso popular parece-me que a expressão magnetismo é bastante abrangente e está consagrada pelo uso.
30 – Como explicar a comunicação da mãe do Chico sobre o planeta Marte? Ela viu o mundo espiritual daquele planeta e não o mundo dos encarnados? Então por que ela não deixou isso explícito no texto? Por que existe uma comunidade espiritual tão operante lá se não existe comunidade encarnada, ou como se explica as fotos da sonda espacial que esteve lá?
Maria João de Deus foi uma mulher humilde, sem nenhuma cultura, que escreveu cartas a Chico reportando-se a Marte segundo sua própria ótica, sem perceber que passava a idéia de que a população de Marte fosse constituída de seres biológicos. Quando à existência de uma comunidade desencarnada em Marte, sem a correspondente encarnada, não é exceção, mas regra no Universo. A Terra é uma das exceções. A questão número 55 de O Livro dos Espíritos explica que todos os mundos são habitados. Raros tem vida biológica como nosso planeta.
31 – O problema da regressão e progressão de memória é brilhantemente estudado por Hermínio C. Miranda em seus livros. Como você explica os estudos de progressão feitos recentemente por cientistas americanos e suas conclusões estranhas?
Não estou suficientemente informado sobre o assunto. Sei apenas que o fenômeno é escorregadio e merece reservas, porquanto pode ocorrer que o paciente fantasie inconscientemente situações envolvendo o passado e, particularmente, o futuro.
32 – O que garante que o Movimento Espírita não vai cometer o mesmo erro das outras religiões? Por exemplo, infelizmente muitos confrades espíritas não são capazes de defender suas convicções em relação à Doutrina sem cair no “duelo” de palavras, na deselegância e na falta de tolerância com as idéias de outras pessoas. Notar que Jesus nos pediu que amássemos os nossos inimigos e não estamos sabendo nem mesmo amar os amigos!
Espero que nossos temores a esse respeito não se confirmem. Seria lamentável ver o movimento espírita dividido pela beligerância de alguns companheiros menos felizes em suas imponderadas considerações.
33 – Sou portador de distúrbios psíquicos e nervosos de fundo mediúnico. Na Revista Espírita Allan Kardec número 11, página 32, no artigo “Formação do Expositor”, diz que reencarnei com a missão de ser orador e expositor. Como fazer para cumprir essa missão? Como proceder?
Desconheço o artigo em referência. Não obstante, a existência de distúrbios psíquicos e nervosos não significa o desabrochar de uma mediunidade ou a notícia de uma missão a ser cumprida no campo da oratória. Seria oportuno um longo tratamento espiritual no Centro Espírita, com o empenho de estudo da Doutrina e a participação nas suas atividades, deixando para mais tarde, em melhores condições, a identificação de uma possível tarefa desse teor.
34 – Considerando as perguntas 346 e 346-a, de O Livro dos Espíritos, um feto pode morrer por imperfeições da matéria. Deus deu inteligência ao homem que atualmente consegue perceber no início da gestação, problemas de má formação do feto (ex. irmãos siameses, deficientes de nascença), indicando nesses casos o aborto clínico. Seria lícito um aborto num caso desses? Ou será que a pergunta 346a, só se refere às mortes naturais, ou seja, se a natureza não eliminou o feto, então o corpo (perfeito ou não) é o que o Espírito precisa?
A questão está respondida em sua derradeira conjectura. Por outro lado é importante considerar que, segundo as questões 358 e 359, só numa situação é admissível o aborto: quando o médico tem que decidir entre salvar a mãe ou o filho, numa emergência. Como diz o mentor, preferível é que se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe. O existir aqui significa ter nascido.
35 – Que pensar, sob o ponto de vista espírita, do bebê de proveta, ou seja, a fecundação em laboratório?
Não há o ponto de vista estritamente doutrinário, já que Kardec não tratou do assunto na codificação. Não obstante, como ponto de vista de espírita podemos dizer que se trata de uma alternativa aceitável para mães com dificuldade de engravidar.
36 – Nos países onde não há Centros Espíritas como são atendidas as entidades desencarnadas sofredoras, bem como os casos de obsessões?
Como está claro na monumental obra de André Luiz, a Espiritualidade tem amplos recursos para cuidar de Espíritos encarnados e desencarnados, em estado de desequilíbrio. A atuação do Centro Espírita nesse particular é apenas um recurso a mais, em benefício dos Espíritos que desencarnam sem nenhum preparo para a vida espiritual.
37 – Considerando os livros publicados sobre temas de atualidade, a luz da Doutrina Espírita, de sua autoria, gostaria de saber se o senhor tem algum estudo sobre a visita de extraterrestres a Terra. Especificamente sobre o atual caso de Varginha MG, que está nos noticiários.
Acredito que sejamos constantemente visitados por Espíritos desencarnados pertencentes a outros mundos e outros sistemas solares. Quanto à visita de extraterrestres encarnados, parece-me uma possibilidade extremamente remota. Há muita fantasia em torno do assunto, muitas especulações, sem nenhum contato documentado, sem nenhuma fotografia, nenhum vestígio, nada de palpável, de autêntico. Varginha é um exemplo.
38 – Evoluímos assim do mineral para o vegetal, animal, hominal e deste para o angelical, certo? Passamos por todas as espécies de animais? Nesta etapa de evolução (animal), estamos já nos individualizando? Quando começamos a nos tornar Espíritos individualizados?
Não há uma clara definição doutrinária a respeito do assunto. Aparentemente, o princípio espiritual (embrião do Espírito), individualiza-se no reino animal. Passa, então por experiências em variadas espécies (não me parece que necessariamente por todas elas, até por que ao longo dos milênios incontáveis espécies novas surgem, incontáveis se extinguem). Segundo Emmanuel, a conquista da consciência, transformando o princípio espiritual em Espírito, não ocorre na Terra, mas em outros planos do Infinito.
39 – Qual a posição da Doutrina Espírita em relação ao sexo antes do casamento?
A liberalidade sexual da atualidade, transformada em libertinagem sexual, revive os impulsos poligâmicos da criatura humana. Um retrocesso transitório, decorrente do fato de que nem o homem nem a mulher estão preparados para a liberdade de que desfrutam. O ideal seria o sexo ser exercitado como a culminância de um relacionamento afetivo sustentado pelo amor, dispostos ambos a assumir as responsabilidades de uma existência em comum.
40 – Como o espírita deve encarar o casamento religioso e civil?
O casamento civil atende às leis humanas. É o testemunho de que o homem e a mulher estão dispostos a assumir os compromissos inerentes a uma vida em comum, uma demonstração recíproca de confiança na solidez da relação. Quanto ao casamento religioso onde se destaca a figura do oficiante, é uma cerimônia exterior incompatível com os princípios espíritas. Todo ato de adoração, em que evocamos as bênçãos divinas, deve ser um ato do coração, sem intermediários. Os próprios noivos devem fazê-lo, na intimidade do lar.
41 – Uma pessoa que não se casa tem a liberdade de manter uma vida sexualmente ativa?
O casamento não é condição para o exercício sexual. Considere-se, entretanto, que a promiscuidade sexual, sem compromisso e sem responsabilidade, é porta aberta para excessos e viciações, desajustes e enfermidades.
42 – Como deve ser encarada a masturbação?
Vai longe o tempo em que se proclamava que a masturbação conduzia à loucura e ao inferno. Normal no adolescente que está descobrindo a sexualidade, freqüente nos corações solitários, o problema é que ela favorece a viciação, conturbando o psiquismo do indivíduo com sensualidade exacerbada. Por outro lado compromete a sublimação das energias sexuais quando as circunstâncias nos convocam à castidade, convidando-nos a canalizá-las para as realizações mais nobres.
43 – No Plano Espiritual os Espíritos (atrasados, medianos e adiantados), praticam o sexo, levando em consideração as instruções de André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, que nos diz existirem algumas diferenças entre o corpo espiritual e o corpo físico, principalmente na região sexual e de digestão?
As poucas informações que nos chegam da espiritualidade a respeito do assunto nos permitem conceber que os Espíritos também experimentam o orgasmo, embora não saibamos exatamente como isso ocorre ou se envolve perispiritualmente sensações semelhantes aquelas que decorrem da comunhão carnal.
44 – Há alguma interseção entre o Espiritismo e a política? A meu ver não há uma lei moral mais perfeita do que as máximas do Cristo, mas percebo que todas as sociedades afastam-se deliberadamente delas, não havendo uma interseção mais forte entre a política social e a religião. Com um mundo tão cheio de riquezas, em que o dinheiro parece manipular todo o seu funcionamento, os governantes esquecem-se de certas leis básicas que podem desencadear vários conflitos totalmente desnecessários. Poderia o Espiritismo, com sua filosofia, inspirar um modelo social e governamental mais justo e adequado? O quão distante estamos hoje desta edificante realidade?
O grande problema das sociedades humanas é o egoísmo, a manifestar-se nos indivíduos e nas coletividades. Todas as religiões, particularmente o Cristianismo, explicam isso. A grande vantagem do Espiritismo é que ele nos demonstra de forma clara e objetiva as conseqüências do comportamento egoístico, convocando-nos à edificação de uma sociedade solidária como fundamental à nossa felicidade, onde conforme ensina Jesus, o maior será sempre aquele que se fizer sinceramente servo de todos.
45 – Muitas pessoas que conheço e que desenvolvem alguma atividade num Centro espírita dizem que isto lhes toma todo o tempo. Muitos dizem que até a família reclama devido ao fato de que essas pessoas não se lembram mais dos parentes e que estão se dedicando apenas aos trabalhos da instituição. Na sua opinião até que ponto devemos nos envolver com tarefas numa casa espírita? Eu sei que é um trabalho gratificante, mas não é por causa disso que preciso abdicar de nossas outras atividades.
Todos temos compromissos relacionados com a família, a sociedade, a profissão, a religião. Se nos dedicamos ao cumprimento de parte deles, negligenciando os demais, incorremos no erro da omissão, pelo qual teremos fatalmente que responder. Considere-se, entretanto, que a família não raro costuma exagerar a atenção de que necessita, pretendendo anular a iniciativa de um de seus membros, que está tentando cumprir seus deveres religiosos, fundamentais ao nosso equilíbrio e à edificação de uma sociedade melhor. Geralmente os familiares que mais reclamam são aqueles que não participam nem se interessam em fazer algo que transcenda o imediatismo familiar.
Richard Simonetti
Caixa Postal 503
17090-970 Bauru – SP – Brasil
E-mail: [email protected]