Esperança
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito de Esperança. 3. Pequeno Escorço
Histórico. 4. Abordagens Filosóficas e Religiosas: 4.1. Niilismo; 4.2. Desespero
e Presunção; 4.3. Perspectiva do Espiritismo. 5. Virtudes: 5.1. Virtudes
Cardeais; 5.2. Virtudes Teologais. 6. Fé: Mãe da Esperança e da Caridade. 7.
Paulo e a Esperança. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que a esperança, essa potência interior,
possui uma dinâmica extraordinária para conciliar os nossos sofrimentos com o
fim último da existência humana. Para tanto, analisaremos o seu conceito, a sua
inserção no tempo, as filosofias da negação e a perspectiva da religião.
2. CONCEITO DE ESPERANÇA
Do latim sperare. Sentimento que leva o homem a olhar para o futuro,
considerando-o portador de condições melhores que as oferecidas pelo presente,
de tal sorte que a luta pela vida e os sofrimentos são enfrentados como
contingências passageiras, na marcha para um fim mais alto e de maior valor. Do
ponto de vista teológico, a Esperança é uma virtude sobrenatural, que leva o
homem a desejar Deus, como bem supremo. (Pequena Enciclopédia de Moral e
Civismo)
Genericamente, a esperança é toda a tendência para um bem futuro e
possível, mas incerto. Psicologicamente, tensão própria de quem se sente privado
de um bem ardentemente desejado (imperfeições), mas que julga poder alcançar por
si mesmo ou por outrem. A esperança diz respeito aos bens árduos e difíceis,
porque não dependem apenas da vontade de quem os espera, mas também de
circunstâncias ou vontades alheias, e que, por isso, a tornam de algum modo,
incerta e falível. Justaposta às esperanças do dia-a-dia, há a grande esperança,
ou seja, um vínculo permanente entre a espécie e o seu criador. (Enciclopédia
Verbo da Sociedade e do Estado)
3. PEQUENO ESFORÇO HISTÓRICO
No pensamento grego, a palavra e l p i d designava tanto o
momento feliz ou infeliz de quem espera. Com Platão, já designa “a grande e bela
esperança” num além depois da morte.
No pensamento romano, a palavra spes designava somente o
momento feliz.
Tanto a e l p i d grega como a spes romana, mesmo nas suas mais
elevadas expressões, jamais atingiram a certeza de um futuro feliz.
Foi a revelação judaico-cristã que, ao dar como termo das tensões a
posse gratuita e inadmissível do próprio Deus, elevou-a à categoria de uma
virtude fundamental da vida cristã.
São de assinalar os contributos de Paulo de Tarso, Santo Agostinho, Pedro
Abelardo e Duns Escoto para a compreensão do tema.
Porém, foi São Tomás de Aquino, na sua Summa Teológica, quem dedicou-lhe
exaustivas páginas no sentido de explicar os fundamentos da Esperança e de sua
relação com a Fé e a Caridade.
No âmbito da filosofia moderna, toda centrada na exploração da
subjetividade, o tema foi relegado ao campo das paixões e das emoções. É que
diante do domínio racionalista, a fé cristã vê-se amputada dos grandes objetivos
de sua dimensão escatológica, de modo que a spes quae acaba por ficar
reduzida aos aspectos formais do ato de esperar (spes qua) . As
filosofias existencialistas, marxistas e materialistas roubam as expectativas da
fé com relação à vida após a morte. (Enciclopédia Verbo da Sociedade e do
Estado)
4. ABORDAGENS FILOSÓFICAS E RELIGIOSAS
4.1. NIILISMO
Na Filosofia Moderna, as injunções dos pensamentos, a busca pela
racionalidade e a supremacia da razão levam os indivíduos a decretar a morte de
Deus. É a doutrina do nada além desta miserável vida. Esse sistema mata toda a
Esperança. Como esperar algo se nada há o que se esperar? É por isso que Paul
Sartre falava da náusea e do desespero, antíteses da esperança.
4.2. DESESPERO E PRESUNÇÃO
Santo Tomás de Aquino classifica o desespero e a presunção como pecado, e por
isso, o oposto da esperança. O desespero é a pouca confiança em Deus, o amor
próprio, o orgulho pessoal. A presunção é achar-se alguém digno de uma posição
religiosa vantajosa, sem de fato o ser. Tanto um quanto o outro é contrário ou
opõem-se à esperança. Acrescenta ainda que as causas do desespero são os nossos
vícios, os quais nos obnubilam. A presunção, por outro lado, está ligada à
vaidade. Por fim, diz que a esperança não é uma atitude passiva, mas cheia de
vitalidade e de amor. (Lain Entralgo, 1984)
4.3. PERSPECTIVA DO ESPIRITISMO
Na perspectiva do Espiritismo – que nos fornece uma dimensão realista da vida
futura -, a esperança torna-se uma força inovadora. A expectativa de que a vida
continua além-túmulo e que não seremos levados nem para o céu e nem para o
inferno, porém, conduzidos de acordo com o peso específico de nosso perispírito,
dá-nos confiança sem limite na infinita bondade de Deus. Esta crença induz-nos a
estudar com mais afinco, a fim de que possamos servir a Deus com mais
conhecimento de causa.
Assim, o Espiritismo dá-nos subsídios para melhor compreender a esperança.
Não a esperança beatífica do dolce far niente, mas a certeza de que
seremos recompensados ou punidos de acordo com o bem ou o mal que fizermos ao
nosso próximo. Nesse sentido, todas as nossas dores, os nossos sofrimentos, as
nossas renúncias ficam gravadas em nosso subconsciente e servirão como ponto de
apoio para o julgamento de nossa própria consciência.
5. VIRTUDES
As Virtudes – potências racionais que inclinam o homem para o bem,
quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente,
podem ser divididas em:
5.1. VIRTUDES CARDEAIS
A virtude moral predispõe o indivíduo à prática do bem. Há duas ordens
de moralidade, a natural e a infusa. Por isso, temos duas espécies de virtudes:
adquiridas e infusas. Entre as virtudes adquiridas, distinguem-se
principalmente quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança.
Cognominadas de cardeais (de cardo, gonzo), por ser em redor delas
que giram todas as outras, tais como a paciência, a tolerância, a brandura etc.
5.2. VIRTUDES TEOLOGAIS
Entre as virtudes infusas estão a fé, a esperança e a
caridade , cognominadas de teologais, porque não são o produto de uma
prática, mas um dom infuso de Deus nos seus filhos.
Assim, a Esperança não é o produto de nossa vontade, mas de uma
espontaneidade, cujas raízes nos escapam, porque não é ela genuinamente uma
manifestação do homem, mas algo que se manifesta pelo homem, porque não
encontramos na estrutura da nossa vida biológica, nem da nossa vida intelectual,
uma razão que a explique. (Santos, 1965)
6. FÉ: MÃE DA ESPERANÇA E DA CARIDADE
A fé é um sentimento inato no indivíduo. A direção dada a esse
sentimento pode ser cega ou raciocinada. A fé cega, não examinando nada,
aceita sem controle o falso como verdadeiro, e se choca, a cada passo, contra a
evidência e a razão; levada ao excesso produz o fanatismo. A fé
raciocinada, a que se apoia sobre os fatos e a lógica, não deixa atrás de si
nenhuma obscuridade; crê-se porque houve
A fé, mãe da esperança e da caridade, é filha do sentimento e da
razão. Quer dizer, a fé, ao ser movida pelo livre-arbítrio, tem o suporte do
sentimento e da razão, que lhe dão garantia de obter o esperado, desde que aja
caritativamente. Nesse sentido, o Espírito Emmanuel diz-nos: “A fé é guardar no
coração a certeza iluminada de Deus, com todos os valores da razão tocados pelo
perfume do sentimento”.
A esperança e a caridade, como vimos, são filhas da fé. Esta deve
velar pelas filhas que tem. Para isso, convém construir a base do edifício em
fundações sólidas. A nossa fé tem de ser mais forte do que os sofismas e as
zombarias dos incrédulos, porque a fé que não afronta o ridículo dos homens não
é a verdadeira fé. Além disso, para que a fé seja proveitosa, deve ser ativa, ou
seja, não deve-se entorpecer. (Kardec, 1984, cap. XIX)
7. PAULO E A ESPERANÇA
Eis algumas passagens tiradas das Epístolas de Paulo:
“Porque tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que
pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.” (Romanos, 15,
4);
“Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que
abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.” (Romanos, 15, 13);
“Tendo por capacete a esperança na salvação.” (I Tessalonicenses, 5, 8);
“E assim, esperando com paciência, alcançou a promessa.” (Hebreus, 6, 15);
Em I Coríntios 13, Paulo discorre sobre a suprema excelência da caridade.
Depois de tecer comentários sobre a parte e o todo, ele diz: “Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior destas é a
caridade.” (I Coríntios, 13, 13)
O Espírito Emmanuel, nos livros Vinha de Luz, Fonte Viva e outros do
gênero, comenta vários desses versículos. Dos seus comentários, anotamos:
- “Nem todos têm o vôo da fé, nem todos podem oferecer o pão do corpo, mas
ninguém está impedido de espalhar os benefícios da esperança.” (Vinha de Luz,
75); - “A ignorância pede instrutores, a dor reclama enfermeiros, o desespero
suplica orientadores. Se algemamos o coração ao modo de trabalhar em benefício
coletivo, como encontrar serviço feito que tranqüilize e ajude a nós mesmos?”
(Vinha de Luz, 31); - “Jesus espera por nós. É preciso evitar o pessimismo crônico e renovar
atitudes mentais na obra a que fomos chamados, aprendendo a confiar no Divino
Poder que nos dirige.” (Vinha de Luz, 86); - “Quando pois te encontrares em luta imensa, recorda que o Senhor te
conduziu a semelhante posição de sacrifício, considerando a probabilidade de
tua exaltação, e não te esqueças de que toda a crise é fonte sublime de
espírito renovador para os que sabem ter esperança.”(Vinha de Luz, 58); - “O capacete é a defesa da cabeça em que a vida situa a sede de
manifestação do pensamento e Paulo não podia lembrar outro símbolo mais
adequado à vestidura do cérebro cristão, além do capacete da esperança na
salvação.” (Fonte Viva, 94); - “Aguarda as surpresas do tempo, agindo sem precipitação. Não te esqueças
de que o êxito seguro não é de quem o assalta, mas sim daquele que sabe agir,
perseverar e esperar por ele.” (Fonte Viva, 103); - “Lembremo-nos: contribuir para que a coletividade aprenda a pensar na
extensão do bem é colaborar para que se efetive a sintonia da mente terrestre
com a Mente Divina.” (Fonte Viva, 144); - Antes de alcançar a esperança, o sonho, o projeto, é necessário liquidar
com paciência as dívidas que contraímos perante a LEI.” (Fonte Viva, 129).
8. CONCLUSÃO
A Esperança, sendo algo infuso, faz com que o nosso pensamento ultrapasse
tempo e espaço e penetre na imensidão do espaço infinito. Assim, de posse desta
virtude, esquecemo-nos momentaneamente das dores, dos sacrifícios, das doenças,
das dificuldades e lembramo-nos somente da felicidade regida pela paz e
tranqüilidade de nossas tensões. Isso não é utopia, é a dimensão do eu que se
transcende a si mesmo rumo à espiritualidade superior.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de
Janeiro, M.E.C., 1967. - Bíblia Sagrada, traduzida por João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro,
Sociedade Bíblica do Brasil, 1966 - KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE,
1984. - LAIN ENTRALGO, P. La Espera y la Esperanza: Historia y Teoría del Esperar
Humano. 2. ed., Alianza Editorial Madrid, 1984. - Polis – Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
- SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed.,
São Paulo, Matese, 1965. - XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB,
s.d.p. - XAVIER, F. C. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 3. ed., Rio de
Janeiro, FEB, 1971.