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Espíritas de todos os países, uni-vos!

Espíritas de todos os países, uni-vos!

Leonardo Arantes Marques

“Kardequisar é a Legenda de Agora”.
(Bezerra de Menezes).

Em primeiro lugar deixemos claro que nós Espíritas não precisamos da FEB, a FEB precisa dos Espíritas. Sem a FEB, nós espíritas conseguimos subsistir, sem os espíritas a FEB fecha, ou na pior das hipóteses converte-se de uma vez em FERB (Federação Espiritualista Roustainguista Brasileira). A nós Espíritas sinceros é chegado o tempo de nos posicionar: ou somos Espíritas ou roustainguistas – não existe meio termo. A FEB como instituição, e como diria Bleger em Psico-Higiene e Psicologia Institucional: toda instituição tem seu lado bom e seu lado pantanoso, e, infelizmente o lado pantanoso da FEB é o roustainguismo. Os grandes representantes do movimento Espírita no Brasil e fora dele precisam decidir-se, ou estão ao lado de Kardec ou de Roustaing (FEB). Muitos representantes do Espiritismo no Brasil para não ferirem a “sensibilidade” da FEB, quando lhe são perguntado sobre os Evangelhos de Roustaing apenas esgueiram-se e desconversam. Não se prega a verdade através da mentira.

Observamos que por muito menos incoerência do que os Quatro Evangelhos de Roustaing, Kardec desprezou, descartou e jogou fora muitas comunicações. Já presenciei centros e federações Espíritas recusarem livros, artigos e mensagens de encarnados e desencarnados por bem menos incompatibilidade e inconsistência com os ensinos dos Espíritos. Porquê então os Quatro Evangelhos das trevas 1 ainda fazem parte das prateleiras da FERB, desculpe FEB? Quando analisamos obras e essas estão em desacordo com os princípios básicos de Kardec, essas obras, mensagens e artigos são afastados (os Evangelhos de Roustaing deviam ser queimados), das prateleiras Espíritas. Para sabermos se Roustaing está contra Kardec, basta analisarmos apenas um ponto: A Reencarnação. Sabemos que existem milhares de pontos divergentes e até irracionais dentro do roustainguismo, mas fiquemos apenas neste por enquanto.

Para os “Ministros de Deus” o Espírito é criado e “possui” duas escolhas: evoluir em Linha Reta, aqui não é explicado como isso acontece, mas o Espírito criado simples e ignorante (sem conhecimento) é capaz de decidir através do “Livre-arbítrio” essa META e transforma-se em um Eleito. Agora se falhar! Coitado. Volta em forma de lesma, desculpe, criptógamos (o que é isso?) carnudos. Para o Espiritismo TODOS os Espíritos possuem as mesmas oportunidades, são criados simples e sem conhecimento 2 e com a reencarnação e o aprendizado social e cultural angariamos evolução sem retroagir. “O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram”. Os sistemas sejam eles quais forem influenciam e interferem no pensar e existir do indivíduo, mas partir daí e afirmamos que determinam este existir é negar a possibilidade humana de transcendência. Sabemos que a descoberta da importância da história no processo de socialização 3 instigou e instiga muito dos nossos pesquisadores, principalmente os marxistas, a limitar o homem à sua pequena dimensão histórica, onde, todo ser humano vive irremediavelmente “situado”, através do condicionamento cultural e social 4. Mas por conta deste fato, “não devemos confundir circunstâncias históricas que fazem de uma existência humana aquilo que ela é, com o fato de existir uma coisa como a existência humana” 5.

Para entendermos um pouco a evolução ou progressão dos Espíritos através do processo reencarnatório, primeiro temos que entender o que significa cultura e processo social. A palavra cultura vem do latimcolere, e significa cultivar. O processo cultural deve ser considerado como um processo de “hominização”, ou seja, o homem não é apenas causa (produtor da cultura), ele é também efeito (produto da cultura) que está inserido 6. Assim, “cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos” 7. Apesar das pessoas confundirem o processo cultural com o processo social, esses divergem razoavelmente em suas bases. O processo social é a construção da sociedade em determinada realidade 8, que podemos qualificar como realidade objetiva e subjetiva. A realidade objetiva que também podemos chamar de interação; são as leis 9, os costumes, as tradições e os hábitos que se modificam com o tempo 10. É através desse processo que o indivíduo interage com o outro, cresce e desenvolve-se intelectualmente, socialmente e moralmente 11. A realidade subjetiva, ou assimilação é o processo interno pelo qual todos desenvolvemos, incorporamos e nos damos conta do processo objetivo. O processo objetivo, ou realidade externa é de suma importância para o processo subjetivo, onde o indivíduo precisará interagir com humanos para assimilar e acomodar seus conteúdos internos e externos. É a convivência com outros seres humanos que dará ao indivíduo a capacidade de se relacionar, interagir, amar, sorrir, chorar e todos os outros comportamentos que classificamos como de uso humano. Não existindo este tipo de interação, não teremos um referencial para nos identificar, logo não teremos humanos 12. É somente com o humano e através do humano que os homens vivem e produzem juntos um ambiente humano 13, com todas as características e formações sócioculturais 14. O processo cultural é o que herdamos e carregamos em nós desde o “começo” dos tempos, é o processo pelo qual o Ser é inserido no mundo pelo social aprendendo ou incorporando ao seu Ser as tradições, o comportamento objetivo e subjetivo, a linguagem e as conquistas culturais do povo do qual foi chamado a viver 15. Desta forma, podemos afirmar que “a humanidade nunca vive inteiramente no presente. O passado, a tradição da raça e do povo vive nas ideologias do superego e só lentamente cede às influências do presente, no sentido de mudanças novas; e, enquanto opera através do superego, desempenha um poderoso papel na vida do homem, independente de condições econômicas”16.

O Espírito nos dizeres de Leon Denis, dome na pedra; sonha no vegetal, agita-se no anilam e acorda no HOMEM. Essa mesma frase com algumas variantes, já havia sido proferida no século X por um pensador árabe que foi perseguido e expulso de sua vila por seus contemporâneos. O roustainguismo é uma tese vazia que os roustainguistas tentam, apenas tentam, preencher as lacunas com os pensamentos de Kardec. Bastaria apenas esse ponto sobre a reencarnação para descartarmos as obras de Roustaing. Não existe evolução em linha reta no Espiritismo, todos os Espíritos possuem as mesmas oportunidades de evolução. Se Jesus, o Governador espiritual da terra não reencarnou e evoluiu nesse orbe, com certeza o fez em outro ou outros 17. Não existe privilégios, TODOS passamos pela reencarnação que é uma necessidade básica de evolução e aprendizado para o Espírito. Não existe em nenhuma das obras de Kardec a justificativa ou que expresse de uma forma proposta (indireta) a suposta evolução em linha Reta.“Os espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são Espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, seja qual for a bondade de seus instintos naturais, necessitam de se desenvolver e esclarecer e que não passam, sem transição, da infância à madureza. Simplesmente, assim como há homens que são bons e outros que são maus desde a infância, também há Espíritos que são bons ou maus desde a origem, com a diferença capital de que a criança tem instintos já inteiramente formados, enquanto que o Espírito, ao formar-se, não é nem bom, nem mau; tem todas as tendências e toma uma ou outra direção, por efeito do seu livre-arbítrio” 18.

Observamos em várias correntes religiosas e filosóficas da Índia, berço da cultura espiritualista reencarnacionista, a explicação sobre a reencarnação, sua necessidade ou o intuito como é o caso do Budismo de evitá-la através da renúncia ao desejo, ao fogo que arde por dentro 19. Mas nenhuma delas fala em evolução em linha reta ou a não necessidade da reencarnação para o aprimoramento do Espírito. Essas teorias e religiões que são muitas, mas todas concordante no processo reencarnatório, divergem apenas no que se diz respeito ao atman 20. Apenas o roustainguismo prega uma possível evolução em linha reta, um privilégio que Deus deu apenas a alguns “mais conscientes”. Como escolher a suposta linha reta, se somos criados simples e sem conhecimento 21 do Bem e do Mal? O que torna um teoria ou pensamento coerente e verdadeiro é poder explicar todos os seus pontos e detalhes, preenchendo com coerência e firmeza de lógica suas logias. Aqui como em muitos outros pontos, os roustainguistas se aproveitam dos ensinos de Kardec para dar razão as suas teses vazias. O roustainguismo por si só não é nada, não explica nada, não diz coisa com coisa é um pensamento que está feliz e universalmente liquidado por si mesmo. A reencarnação segundo o pensamento roustainguista só tem uma razão de ser: justificar a queda dos anjos da Igreja. Essa mesma Eklesia (Igreja) que monopolizou não apenas a felicidade sobre a terra, mas a sua suposta distribuição hierárquica no além. E os roustainguistas de carteirinha afirmam não existir diferenças aberrantes entre esses dois pensamentos antagônicos. O que realmente não existe é semelhança entre Kardec e Roustaing. Se existe alguma suposta semelhança em alguns textos dos Quatro Evangelhos com o Espiritismo, esses foram decalcados dos livros de Kardec por Roustaing.

Jesus quando esteve na terra, deixou claro que poderíamos fazer tudo o que ele fez e muito mais. Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai 22. Se pensarmos que Jesus teve uma evolução em Linha Reta e foi um suposto “Eleito” como apregoa o roustainguismo. Na citação acima e em muitas outras passagens, Jesus mentiu! Como mentiu o tempo todo que esteve conosco, pois segundo o roustainguismo era apenas uma aparição. Como nós, espíritos que falhamos e voltamos em criptógamos carnudos (e não fique feliz, você também já foi um), vamos acompanhar um espírito que evoluiu em Linha Reta, um Eleito? Se falhamos perdemos a oportunidade e não tem volta, segundo os ensinamentos roustainguistas, desculpe temos volta sim, mas apenas como criptógamos carnudos. Aqui como em todos os ensinamentos de Roustaing, só existe mentiras e Jesus um bom saltimbanco. Mesmo apregoando uma suposta evolução após essa reencarnação como criptógamos carnudos e seguindo a fileira humana, não temos como seguir e acompanhar um espírito que não falhou e seguiu em linha reta. Até porque ele está em outro tipo de evolução diferenciada que o roustainguismo não explica de forma lógica e coerente. Como um Espírito não nascido pode progredir? Como é essa suposta evolução em linha reta? Esses espíritos criados e que freqüentam a linha reta estão em planetas diferenciados? Se estão em planos diferenciados como podem conhecer o ciúmes, a inveja e o ateísmo que são sentimentos apenas humanos? Se são espíritos que nunca reencarnaram como podem desenvolver sentimentos que é características de espíritos que falharam? Esses espíritos em Linha Reta, dormem, comem, sonham, fazem sexo, etc? Como é o processo de nascimento deles? Se não nascem, são criados e jogados nesses “mundos” que desconhecemos? Se somos criados sem conhecimento do bem e do mal, como escolher a linha reta? São essas e algumas perguntas muito mais elaboradas que os Quatro Evangelhos de Roustaing não responde, e se o faz, faz com uma ilogicidade de fazer rir até mesmo uma criança.

Na teoria Kardecista, ou melhor, no Espiritismo, não ha mentiras ou simulacros 23. Como Jesus era conhecedor da reencarnação e da necessidade desta: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo” 24. Jesus nos deixou claro a oportunidade que é dado a todos indistintamente. Aquele que falhar não retrograda 25, caso não tenha consciência dos seus feito e erros apenas lhe é “retirado” momentaneamente a possibilidade de escolha 26, passando a reencarnação a ser compulsória: “Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes” 27. Como Jesus já havia passado por muitas existências, não na terra que aqui apenas encarnou, mas em outros mundos, apenas confirmou que podemos e um dia seremos igual a ele – fazendo as obras que ele faz –, ou seja, um governador espiritual de algum orbe.

Indicações de Leitura que fazem análise das Obras de Roustaing.

  • Kardec, A. Revista Espírita, 1866, editora Edicel
  • ______________________, 1861, editora Edicel.
  • ______________________, 1867, editora Edicel.
  • COSTA, Luciano. Kardec e Não Roustaing. Editora LAKE.
  • FERREIRA, Carlos Alberto. Será a Obra de Roustaing Espírita? Editora Opinião E. Capivari.
  • GARCIA, Wilson. O Corpo Fluídico. Edições Correio Fraterno do ABC – São Paulo.
  • PRESTES, Erasto de C. Kardec X Roustaing. Editora ECO, Rio de Janeiro – Niterói – 1984.
  • PIRES, J. H. Agonia das Religiões. Editora Paidéia, 1989.
  • _________ Revisão do Cristianismo. Editora Paidéia, 1980.
  • _________ O Espírito e o Tempo. Editora Paidéia, 1983.
  • SILVA, Gélio L. Conscientização Espírita. Editora Opinião E. Capivari – SP, 1995.

Referências

  • 1 Lucas, 22:53.
  • Kardec, A. O Livro dos Espíritos, pergs. 114 a 127.
  • 3 Berger, P. L. e Luckman, T. A Construção Social da Realidade, cap. III.
  • 4 Fausto, R. Marx: Lógica e Política. Tomo III, cap. III.
  • 5 Eliade, M. Origens, p. 71.
  • 6 Kardec, A. Revista Espírita 1867, p. 92.
  • 7 Santos, J. O Que é Cultura, p. 21.
  • 8 Durkheim, E. Formas Elementares da Vida Religiosa, cap. VII.
  • 9 Kardec, A. O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro.
  • 10 Durant, W. Nossa Herança Oriental, caps. I ao IV.
  • 11 Kardec, O Livros dos Espíritos, Livro Terceiro, cap. VII – item II – A Marcha do Progresso.
  • 12 Kardec, A Gênese; 18:2 e 12.
  • 13 Kardec, A. Revista Espírita, págs. 289 a 301.
  • 14 Berger, P. L. e Luckman, T. A Construção Social da Realidade, p. 75.
  • 15 Aranha, M. L. de A. e Martins, M. H. P. Filosofando Introdução À Filosofia, cap. 1 itens 3 e 4.
  • 16 Freud, S. A Dissecção da Personalidade Psíquica, Conferência 31.
  • 17 João, 14:2.
  • 18 Kardec, A. O Livro dos Espíritos, perg. 127 – Esclarecimentos de Kardec.
  • 19 “Aqueles cujas mentes estão perfeitamente desenvolvidas nos constituintes de iluminação, Que não se ligando ao mundo regozijam-se em terem do apego se libertado, Cujos cancros estão destruídos, resplendentes (em sabedoria) –, eles emanciparam-se (de todo laço terreno) neste mundo” (Dhammapada; VI:89).
  • 20 O Espírito ou Ser, o aspecto imanente de Deus. O eu. Embora a palavra atma possa se referir, em deferentes contextos, ao corpo, à mente ou ao intelecto, em geral indica a alma ou espírito eterno e individual.
  • 21 Kardec, A. O Livro dos Espíritos, pergs. 629 a 649, 1009 – LM, item 301 e 302 – ESSE; 5:5, 21, 22 e 28:3 §6 – Gênese; 3:1 a 24.
  • 22 João; 14:12
  • 23 Kardec, A Gênese; 15:66 e 67.
  • 24 João; 3:3 e 7.
  • 25 Kardec, Revista Espírita 1858, p. 296 – 1863, p. 163.
  • 26 Mateus; 25:28 a 30.
  • 27 Mateus; 22:13.
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