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Espiritismo e Modernidade – Caminhos Para o Futuro

Espiritismo e Modernidade – Caminhos Para o Futuro

Resumo de tema do 11o. Congresso Estadual de Espiritismo, em Bauru,
destacando quadros de realidade e a constatação de que a Doutrina faz mais sucesso
do que o movimento, com o alerta para a responsabilidade dos encarnados nos rumos
do movimento espírita.

A abordagem sobre modernidade nos induz à reflexão sobre significativos estudos
da área educacional. Pesquisa americana com consulta a variados especialistas1,
sobre a questão: “o que os estudantes precisam saber para terem êxito no século
XXI”
?, responde que a adaptabilidade e flexibilidade num mundo em rápida mudança,
habilidade de leitura discernente e acesso e processamento de informação são importantes
fatores.

Recentemente, as necessidades para o profissional universitário do século 21
foram sintetizadas em reunião da UNESCO2: preparar-se para estudar
toda a vida; ser flexível, isto é, não se especializar demais; investir na criatividade,
não só no conhecimento; aprender a lidar com incertezas (o mundo está assim); ter
habilidades sociais e capacidades de expressão; saber trabalhar em grupo; estar
pronto para assumir responsabilidades; ser empreendedor; entender as diferenças
culturais; adquirir intimidade com novas tecnologias, como a Internet.

Outra realidade, interna do movimento, fundamentamos na amostragem de recente
pesquisa sobre os Centros Espíritas do Estado de São Paulo. De início, demonstra
a dificuldade para se obter a avaliação do universo das instituições. Entre os Centros
unidos à USE, cerca de 13% são também vinculados a outras Instituições e fazem confusão
com idéias de união. As atividades de estudos e de promoção de cursos encontram-se
em patamar bom, de 71,22%, mas as atividades de divulgação não puderam ser computadas,
pois as respostas não eram claras. Quanto ao uso de microcomputadores, vê-se que
estão disponíveis em uma minoria de Centros. Estes dados sugerem algumas ações internas
no movimento, como esclarecimentos mais claros sobre unificação, difusão doutrinária
somada às ações de comunicação social, dentro e fora do movimento. O uso de computadores,
além da organização e agilização da instituição, deve ampliar os canais de comunicação,
com acesso à Internet.

A partir dessas visões prospectivas e da amostragem sobre o movimento, estabelecemos
algumas relações com o movimento espírita numa análise de tendências para o início
de século e de milênio. Guardadas as diferenças e sem o profissionalismo das escolas
formais, é inquestionável que o Espiritismo tem um objetivo educacional e trabalha
com a natureza humana.

As propostas de reuniões de estudos, de cursos sistematizados e de divulgação
são muito necessárias. O estudo e a difusão ampla da Doutrina permanece como constante
objetivo a ser atendido, à vista da crescente massa de criaturas, e de sua renovação
constante, que procura as Instituições Espíritas.

O acesso a novas tecnologias e formas de processamento de informações, em princípio
já começa alcançar a seara espírita com a Internet. Nos últimos anos cresce
o número de Instituições que mantém suas páginas (home pages) e se comunicam
por e-mail, e já tem aparecido algumas “livrarias virtuais”. Esta via rápida
de comunicação deverá ser mais explorada no movimento espírita, com criatividade
e quiçá, viabilizando-se não apenas informações doutrinárias e textos, mas chegando-se
a algo semelhante aos cursos à distância, já adotados por inúmeras Instituições
de Ensino.

No relacionamento com a sociedade, dentro e fora do movimento espírita, devem
merecer reflexões as visões de futuro e de um mundo em processo de globalização,
com vistas ao respeito ao pluralismo de idéias, o incentivo ao conhecimento e valorização
de culturas e os comportamentos e atitudes de flexibilidade. Os progressos da União
Européia concretizam politicamente esta proposta. Entendemos que o mesmo raciocínio
é válido para a convivência e o intercâmbio dentro do movimento espírita.

Para a sobrevivência e o desenvolvimento do movimento espírita, entendemos como
vital essas idéias de política internacional, porque são inerentes aos princípios
que fundamentam a união dos espíritas e a unificação das instituições espíritas.

Indubitavelmente o movimento espírita deve ter sua organização e a ação traçadas
por identidade de propósitos. Todavia, a Doutrina Espírita não se circunscreve aos
trabalhos internos do próprio movimento. O movimento é ação e deve refletir a Doutrina3.
Esta é mais ampla, é essência e pensamento! A propósito fazemos uma avaliação que,
a princípio poderá parecer chocante. Entendemos que nestes poucos mais de 100 anos
de Espiritismo no Brasil, a Doutrina fez mais sucesso que o movimento espírita.
Com base em dados, afirmamos que em nosso país, os declaradamente espírita estão
na faixa de 4 a 6%, enquanto que os simpatizantes pelo pensamento espírita encontram-se
na faixa de 1/5 a ¼ da população.

Esses dados merecem algumas análises. Sem dúvida o Centro Espírita é a “célula
básica” do movimento e deve ser organizado – doutrinaria e materialmente – para
atender as pessoas que o procuram. No entanto, nem todas permanecerão no Centro
ou se tornarão espíritas. Muitos passam por ele como se fosse um “pronto socorro”
e permanecerão em seus ambientes religiosos ou não. Porém, permanecem reconhecidos
pelo apoio recebido e se transformam em simpatizantes. Muitos se tornarão leitores
– contínuos ou esporádicos – da literatura espírita. Aliás, a disseminação do livro
espírita nitidamente, e há algum tempo, ultrapassa os limites do movimento espírita.

Por outro lado, há estudos feitos com a população e com jovens demonstrando que
parcela significativa da população brasileira aceita a idéia da sobrevivência dos
espíritos e da reencarnação4,5. Daí a razão da mensagem espírita,
não poder ficar circunscrita ao ambiente do Centro e do movimento espírita. A difusão
da Doutrina, do pensamento espírita, deve ser meta constante.

As considerações – atuais e com vistas ao futuro – sobre o movimento espírita,
pensando-se num planejamento de ações, são pertinentes à vista do engajamento dos
encarnados realçado por Kardec: “O que caracteriza a revelação espírita é o ser
divina a sua origem e da iniciativa dos espíritos, sendo a sua elaboração fruto
do trabalho do homem”6
.

Referências:

  1. Uchida et al., A.A.S.A ., 1996, In: Carvalho, Célia Maria R.
    Anais do 10o. Congresso Estadual de Espiritismo, São Paulo: Ed.
    USE, 1997, p.44.
  2. Conferência Mundial sobre Ensino Superior da UNESCO, Paris, 1998.
  3. Tema central do 9o. Congresso Estadual: O Espiritismo no pensamento
    e na ação
    . Anais do 9o. Congresso Estadual de Espiritismo. São Paulo:
    Ed. USE, 1995, p.9.
  4. Perri de Carvalho, A.C. Espiritismo e modernidade, São Paulo: Ed. USE,
    1996.
  5. Perri de Carvalho, A.C. In: Autores diversos. Rumos para uma nova
    sociedade
    . São Paulo: Ed. USE, 1996, p. 145.
  6. Kardec, A. A gênese, cap. I, item 13. Rio de Janeiro: Ed. FEB.

(Dirigente Espírita Nº 59 – Maio/Junho de 2000)