Inúmeras religiões no mundo unem crença na divindade a rituais de manifestação de fé, na intenção de aproximar o homem do Criador. Exatamente por não se utilizar do mesmo método, o Espiritismo não se intitula da mesma forma.
Ele não foi organizado como religião porque “Para as coisas novas necessitamos de palavras novas” (1). Nascida em momento delicado da história religiosa do mundo, mais especificamente em 1857, na agonia do triste período da inquisição, denominar a Doutrina Espírita (DE) como religião seria fadá-la ao fracasso, vez que não vinha ao mundo para ser o que eram as demais, indiscutível, impositiva, dogmática, ritualística.
Desde o berço seu ideal foi o raciocínio, não a fé cega. Foi a compreensão, não o fanatismo. Foi a convicção, não o resultado da imposição familiar e estatal. Sempre esclareceu a ideia da consequência através da relação “semeadura x colheita”. Através dela (DE) Deus passou a ser compreendido como força criadora e motriz do Universo, não como um carrasco que necessita ser paparicado e temido. Uma das mais importantes assertivas espíritas, aliás, se resume nessa frase “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade.” (2)
Aprendemos através da filosofia espírita que o ser humano não é o corpo físico, mas a inteligência espiritual que se manifesta através do instrumento carnal e que sobrevive à deterioração chamada morte. E com a ciência espírita se conhece a relação existente entre mundo físico e mundo espiritual, trazendo pelas vias da observação sistemática e racional a certeza da inteligência imortal, o espírito.
Diferente do que leigos possam pensar, a encarnação sucessiva, ou reencarnação, não é invenção espírita, é conhecimento milenar especialmente forte no oriente e cujos ocidentais não absorveram suficientemente. Sem a ideia da reencarnação aliada à da causa e efeito não há como sequer supor a existência de Deus, pois Ele deve manifestar a mais pura Justiça e não se vê justiça alguma na unicidade da existência.
Assim, Espiritismo não é religião, é, sobretudo, uma filosofia de vida que traz sentido à existência humana incentivando seus adeptos ao raciocínio e à superação moral.
(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
(2) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo.
VANIA MUGNATO DE VASCONCELOS