Estudar? Para quê!…
Conta-se em poucas palavras. Um senhor, na casa dos 60 e poucos anos,
dirigiu-se a uma associação espírita para pedir ajuda. Arrotava, tinha muitos
bocejos e não se sentia bem.
Nesse centro espírita informaram-no de que tinha de fazer 7 desobsessões, que
o problema dele era «mediunidade, mas, como já era velho, tinha de aguentar, já
não dava para desenvolver».
Para quem não saiba, desobsessão é uma reunião mediúnica pela qual se
pretende esclarecer espíritos obsessores que perturbam certa pessoa, o
obsidiado.
Entretanto, essa pessoa descobre a existência de outro centro espírita, a
umas dezenas de quilómetros. Contacta-o.
Informam-no ali que as coisas não são bem assim. Dão-lhe um livro de
Herculano Pires para ler e reflectir — «A obsessão, o passe, a doutrinação» — e
tentam ajudá-lo no sentido de se libertar da ideia de que precisa das sete
desobsessões. A custo lá começou a alimentar as novas ideias. Por vezes lá caía:
«Mas disseram-me que preciso de sete desobsessões!».
Lá voltávamos a tentar explicar que as coisas não eram tão lineares assim.
Passou a frequentar o curso básico de espiritismo e passado uns três meses,
aquela pessoa, outrora perturbada pelo que lhe tinham dito, sempre a pensar nas
«sete desobsessões que tinha de fazer e para as quais não tinha vaga tão
cedo»(!), estava liberta dessas ideias. Agora era ela que dizia aos outros algo
diferente…
Consequências
Consequência infeliz da falta de esclarecimento. O que poderá passar também
pela ausência de cursos ministrados com competência. O facto é que este caso é
mais comum do que parece.
Mas o que é um curso? Falando de cursos, fala-se de uma reunião com um plano
didáctico pré-definido, com objectivos claros, com um roteiro optimizado. No
centro espírita ou fora dele, o instruendo não vai receber qualquer diploma.
Porque esse curso visa o enriquecimento interior dos frequentadores, de forma
fraterna e descontraída, e o espiritismo não admite profissionalização.
Aprender mais e mais
O pescador aprende a arte de pescar, o engenheiro estuda para construir, o
médico aprende para curar.
E o colaborador do centro espírita? Dirá alguém: «Mas isso são profissões e a
colaboração no centro não, nem poderá ser equiparada em qualquer momento!». É
verdade. Porém, pelo facto de não haver no centro espírita qualquer tipo de
pagamento pela assistência ou esclarecimento que ali se dê, isso não desobriga
os colaboradores de se prepararem para servirem melhor…
Poderia ser de outro modo? É uma questão de consciência e de
responsabilidade.
A importância da criação e da manutenção de cursos, com inscrições gratuitas,
mas com fichas de frequência, é fundamental. Até a própria formação de monitores
que venham a ministrar cursos diversos como os da infância e juventude, de
estudos doutrinários gerais ou específicos, de educação da mediunidade de quem
tenha realmente essas faculdades, ou para doadores de energias psíquicas
(passistas).
Quem julga que já sabe tudo e que tudo se resolve à força de «desobsessões»,
que não precisa de estudar mais, está com a vida certamente muito complicada. É
que, embora seja fácil atirar para cima de «obsessores» — que têm as costas
largas — os efeitos da nossa própria ignorância, a realidade não muda apesar
dessa alienação.
Ah, é verdade! Aquela pessoa do início desta crónica, aquela mesma que
pensava que era muito velha para utilizar a sua mediunidade, é facto que não a
utiliza ostensivamente e… está muito bem! Aliás, é hoje membro da Direcção
desse centro espírita e pertence à equipa do passe magnético. Será só um
caso?…