Segundo o dicionário, a ética estuda a forma de julgar a conduta humana, do
ponto de vista do bem e do mal, seja no contexto da sociedade seja de modo
absoluto. Portanto, ética é como distinguir o bem do mal. Todos concordamos que
isso tem aplicação a cada instante em nossas vidas.
O Espiritismo é uma doutrina que nos traz parâmetros que podem (e devem) ser
aplicados para distinguir o que é bem do que é mal. Deste modo, o espírita que
estuda tem todas as ferramentas necessárias para que possa ser ético.
Na selva dos negócios, a aplicação da ética tem ficado de lado, se valendo de
formas pouco rígidas de julgar o que é bem e o que é mal, sendo fácil
encontrar-se empresas em disputa ferrenha por mercado usando artifícios que nos
leva a crer que a ética usada está um pouco ultrapassada. Mas, pouco a pouco os
investidores estão demonstrando mais preocupação com a ética usada nos negócios,
direcionando seu capital para empresas que tenham uma forma de atuação voltada
de alguma forma para o bem estar social.
Na minha opinião, este é um caminho natural, servindo de estimulo a uma
mudança de hábitos das empresas, que precisarão analisar (e distinguir) cada vez
mais e com maior precisão o bem e o mal contido em suas ações. O Espiritismo,
como uma doutrina completa, nos traz os subsídios necessários para, através de
muito estudo e preparo, conhecermos melhor os mecanismos de correção de rumo
contidos nas leis divinas, de forma que seja possível ao administrador prever
possíveis problemas, desvios de conduta ou riscos contidos nas ações
empresariais.
Esclarecendo melhor.
Cada vez escutamos mais os “gurus” da administração falando em
responsabilidade social, terceiro setor, e coisas do gênero. Peter Ducker,
chamado de pai da administração moderna, defende idéias em grande alinhamento
com princípios calcados no bem estar social. A primeira vez que li um de seus
livros fiquei impressionado com sua preocupação com o bem estar do ser humano.
E, para que seja possível trazer bem estar para o ser humano é fundamental que
ele seja visto não como matéria, mas como espírito.
Como foi dito na primeira parte deste trabalho (Espiritismo
e Empresa – Boletim 435 ), o espírito encarnado não é proprietário dos bens
que dispõe. Ele é um simples guardião, que recebeu aqueles bens por empréstimo,
para que eles servissem de instrumentos do seu progresso, devendo prestar conta
deles no futuro. A mesma coisa diz respeito à Empresa. Ela não tem um dono, mas
alguém que está responsável pela sua administração ou guarda, e que deverá
prestar conta aos investidores (de capital) encarnados e ao investidor maior,
que é Deus – aquele que investiu em nosso progresso moral, nos concedendo uma
encarnação para aprimorarmos nossas tendências.
No final, é a este investidor principal, que não liga para as flutuações da
bolsa de valores, que prestaremos contas quando retornarmos ao mundo espiritual.
Ali teremos a oportunidade de avaliar como superamos nossas dificuldades e como
administramos os talentos que nos foram emprestados. Como Jesus disse, a César o
que é de César, a Deus o que é de Deus.
Neste momento nossas ações serão avaliadas segundo uma ética diferente da
nossa, porque seremos avaliados dentro de um contexto mais amplo, mais absoluto
e não somente de acordo com os princípios aceitos socialmente. Eu me lembro
freqüentemente de uma frase que me marcou muito, onde a pessoa diz que
determinada atitude lhe é lícita, mas, por outro lado não é conveniente. Dito de
outra forma, significa que esta atitude é boa, segundo a conduta socialmente
aceita, mas, por outro lado, é má segundo uma avaliação mais ampla ou absoluta.
Por fim, fica clara a necessidade que as instituições, que devem ter uma
longevidade maior que nossas curtas encarnações (ou seja, as empresas), precisam
adotar condutas adequadas a esta visão. Ou seja, o que estou defendendo é que
empresas devem ter vida longa e portanto precisam escolher uma postura ética que
propicie isso.
José Cid
(Publicado no Boletim GEAE Número 440 de 02 de julho de 2002)